"Veneza", de Miguel Falabella, estreia nos cinemas falando sobre amor e sonhos

Nesta quinta-feira, dia 17 de junho, estreia nos cinemas "Veneza", longa-metragem baseado na peça teatral "Venecia", de Jorge Accame. Miguel Falabella assina como diretor e roteirista e Julio Uchôa é o produtor e produtor executivo. A produção da obra é da Ananã Produções, em coprodução com a Globo Filmes e a FM Produções e produção associada da Oriental Features. A distribuição é da Imagem Filmes. O texto de "Veneza" foi adaptado pelo próprio Falabella para os palcos brasileiros no início dos anos 2000, em uma montagem que contava com Laura Cardoso, Arlete Salles, Tuca Andrada, Débora Olivieri e Juliana Baroni. 

"O texto de 'Veneza me encantou assim que entrei em contato com ele – e tudo começa com o texto. Montei o espetáculo para o teatro e percebi que ele era uma verdadeira fábula fotográfica. Eu sempre acreditei na possibilidade cinematográfica dessa história, mas demorou até que desse certo. Mas a América Latina e os latino-americanos são muito sonhadores. Eu sabia que ia realizar esse sonho um dia", declarou Miguel Falabella em coletiva de imprensa virtual realizada nesta terça, 15. 

Conforme apontado pelo diretor e roteirista, o filme fala de amor e sonhos. Na trama, a estrela espanhola Carmen Maura, notória musa de Pedro Almodóvar, interpreta Gringa, cafetina cega obcecada pela ideia de conhecer a famosa "cidade flutuante" e reencontrar nas terras e águas italianas a grande paixão de sua vida. Por outro lado, ao mesmo tempo em que lidam com seus desejos, frustrações e dificuldades, as prostitutas do bordel celebram o surgimento de uma jukebox no decadente salão e buscam alguma maneira de realizar o último pedido daquela que as acolheu com afeto quando mais precisaram. Dira Paes, Eduardo Moscovis, Carol Castro, Danielle Winits, Caio Manhente e Roney Villela compõem o elenco do longa. 

Em tom de realismo fantástico e ao som de boleros, "Veneza" propõe reflexões sobre o significado de família e faz uma espécie de ode às mulheres latino-americanas, apresentando participações da argentina Georgina Barbarossa, da uruguaia Camila Vives e da colombiana Carolina Virgüez. Assista ao trailer: 

Todo o elenco esteve bastante emocionado durante a coletiva de imprensa e quase todos foram às lágrimas em algum momento ao relembrar as gravações do filme e sua história. Eduardo Moscovis, por exemplo, que interpreta o personagem Tonho, homem que cresceu em meio às mulheres do bordel, refletiu: "Sempre que vamos fazer uma adaptação de um texto teatral para o cinema, temos o receio de não conseguir fazer com que aquele universo teatral atinja o mesmo lugar no cinema. Mas quando recebi o texto do Miguel fiquei muito encantado e emocionado. Hoje, a gente está sendo tão massacrado. É tão doído. A briga que estamos enfrentando agora, de resistência, é muito dolorosa. A gente que é artista compreende as dificuldades que temos para sobreviver e realizar nossas obras. É muito trabalho. Trabalhamos muito neste filme. A gente faz o que faz para o público. Com 'Veneza', queremos levar um sopro de possibilidade, de esperança, de beleza. Nós vivemos um sonho ali também. E falar de 'Veneza' agora, neste momento, é muito potente". 

Desafios de produção 

Foram inúmeros os desafios enfrentados ao longo do processo do filme – rodado em 2018 – mas todos acabaram revelando-se proveitosos e até enriquecedores para o resultado final – como a alteração das locações principais do Rio de Janeiro para Montevidéu, no Uruguai. Se preparando para vir ao Brasil filmar, a septuagenária Carmen descobriu que seguir a orientação médica de se vacinar contra a febre amarela seria perigoso demais para a sua saúde – por isso a mudança de país.

"Foi um grande esforço sair do Rio para filmar no Uruguai e, depois, em Veneza. Mas toda a equipe se envolveu demais – fotografia, direção de arte, figurino, maquiagem – todos empregaram o melhor de suas artes. Foi uma experiência encantadora", disse Julio Uchôa, produtor e produtor executivo. 

A respeito da produção, Falabella completa: "Não tivemos um grande orçamento e tivemos, inclusive, um período de tempo bem curto para fazer tudo. Enfrentamos vários percalços. Mas fizemos lindamente com o que a gente tinha. É um exercício trabalhar assim. Acho muito bom que as pessoas acreditem em suas capacidades criativas. É isso que vai nos salvar. Temos que criar ilhas de sensibilidade no meio da barbárie". 

Construção de personagens 

Na história, Rita (Dira Paes), sucessora no comando do negócio, se divide entre o gerenciamento, as necessidades pessoais e a angústia por não saber como realizar o pedido final de sua mentora. Já Jerusa (Danielle Winits) está sempre em movimento; Mocinha (Laura Lobo) topa tudo; Janete (Maria Eduarda de Carvalho) perece; Tonho (Eduardo Moscovis) é o "bendito fruto", o homem da casa, a força bruta; e Madalena (Carol Castro), idealista, sonha acordada tanto quanto Gringa. Criada por Miguel Falabella especialmente para o roteiro, a subtrama do carinhoso relacionamento entre Madalena e seu cliente (Caio Manhente) levado ao bordel regularmente pelo pai (Roney Villela) é um dos maiores diferenciais do filme ao abordar questões contemporâneas e velhos preconceitos.

"É tudo muito especial nessa construção. A Rita, quando fala da Gringa, reconhece nela todos os defeitos, mas sobretudo a generosidade. Isso, para mim, é muito tocante. Ela fez com que todas as meninas se sentissem, de alguma maneira, devendo algo para a Gringa", analisa Dira Paes. "A Gringa, nos últimos momentos de sua vida, tem um sonho, e batalha por aquilo até seus últimos suspiros. E a Rita, que é uma pessoa ainda cheia de energia e saúde, vive um esvaziamento de sonhos. Ela faz do sonho da Gringa o seu próprio sonho. E isso me faz pensar sobre como a gente sempre precisa de alguém para realizar nosso sonho", acrescenta. 

Para Carol Castro, sua personagem é a personificação do amor: "Mesmo nessa vida desgraçada, que é retratada no filme com tanta poesia, ela tem essa ânsia pela vida e pelo futuro. Para mim, fazer esse filme foi um renascimento, uma redescoberta, uma aventura. Me trouxe esse frescor do sonhar e ir adiante. Essa persistência que precisamos mais do que nunca". 

Já para Caio Manhente, seu personagem, Julio, representa o sonho de liberdade que muita gente que não se sente livre para viver da maneira que quer carrega: "Meu cuidado foi de não torná-lo amargurado. É um garoto que se propôs a viver o sonho dele e isso o fez feliz, o fez sobreviver durante muito tempo. Esse trabalho foi uma responsabilidade muito grande e mudou minha vida como ator". Roney Villela, que interpreta o pai de Julio, completa: "O personagem, um cara chucro e preconceituoso ao extremo, é um símbolo vivo – o Brasil está cheio de gente assim. É um grito, um rasgo na poesia do filme. E considero fundamental trazer esse assunto à mesa. O cinema faz isso – não afirma nada, e sim traz o tema à tona para discussão. Acredito muito nisso como a grandeza do filme". 

Prêmios 

"Veneza"foi premiado com os Kikitos de melhor direção de arte (Tulé Peake) e melhor atriz coadjuvante (Carol Castro) no Festival de Gramado de 2019; com a Lente de Cristal de melhor roteiro (Miguel Falabella) no 23º Festival de Cinema Brasileiro de Miami (Inffinito Film Festival) e recebeu quatro troféus no Los Angeles Brazilian Film Festival: melhor direção de fotografia (Gustavo Hadba), melhor ator (Eduardo Moscovis), ator coadjuvante (André Mattos) e atriz coadjuvante (Carol Castro).

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