“O Contato” chega às salas de cinema do Brasil nesta quinta-feira, dia 15 de agosto. O longa-metragem dirigido por Vicente Ferraz (“Soy Cuba – O Mamute Siberiano” e “A Estrada 47”) e produzido por Juliana de Carvalho, da Bang Filmes, estreia em algumas capitais e, na segunda semana, de 22 a 28 de agosto, o filme também entra em cartaz em Manaus. Ferraz também assina o roteiro.
Falado em quatro línguas indígenas, o documentário foi rodado na região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e acompanha o cotidiano de famílias de diferentes etnias: os Yanomami, os Arapaso, os Baniwa e os Hupda. O município é conhecido por ser uma das regiões com maior diversidade étnica do Brasil, onde convivem 23 etnias e 18 idiomas nativos.
As três histórias de “O Contato” estão conectadas pelo Rio Negro, via pela qual os personagens percorrem cerca de três mil quilômetros para chegarem aos seus destinos. Durante a jornada, a narrativa é conduzida por alguns personagens centrais: um grupo Yanomami que leva um filme sobre eles para ser exibido na aldeia; uma mulher Arapaso que viaja até a cidade para cuidar da filha que tem depressão; e uma família formada por Hupda e Baniwa, duas etnias que historicamente não se relacionavam, que vai apresentar seu filho Baniwa para os parentes distantes Hupda.
“O Contato” esteve na Mostra Ecofalante de Cinema 2024, em São Paulo, e, ano passado, teve sua première mundial durante a Mostra Competitiva do Festival É Tudo Verdade. Em 2023, ele também foi exibido no Festival Internacional do Novo Cine Latino-Americano, em Havana, Cuba. A distribuição do longa é da Pipa Pictures.
Imersão na cultura indígena
As narrativas paralelas são contadas sob o ponto de vista dos indígenas e levantam temáticas atemporais sobre o impacto do contato com o homem branco, como a perda da língua, da tradição e identidade, além do extermínio de florestas e povos nativos. Também são relatadas histórias sobre a relação entre os diversos grupos étnicos, suas crenças e a sagrada conexão com a terra.
“O Contato” é um filme de causa, que busca ressaltar a crueldade e a consequência do contato dos brancos com os povos originais na Amazônia. Em 2020, a equipe do documentário foi uma das últimas a rodar um filme na Amazônia, já que eles saíram da região em fevereiro, alguns dias antes do acesso ficar impossibilitado devido à pandemia de Covid-19.
A equipe do filme se adaptou à vida indígena, filmando sem luz e se inteirando completamente dos costumes locais. Ela não sabia falar as línguas indígenas e a maioria dos indígenas também não falava em português. Os intérpretes foram fundamentais para a tradução, mas eles também não tinham domínio completo do português. Dessa maneira, o filme também foi realizado de forma intuitiva, segundo conta a produtora e produtora executiva Juliana de Carvalho.
O indigenista Bruno Pereira
“O Contato” também é uma homenagem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista britânico Dom Phillips, que foram assassinados a tiros por um grupo de pescadores ilegais no Vale do Javari, no Amazonas, em junho de 2022. Bruno e Dom foram até a região, considerada a área de maior concentração de povo isolados no mundo, para entrevistar lideranças indígenas sobre os crimes ambientais e ajudar a combatê-los. O local é marcado pela pesca ilegal, retirada de madeira e pelo narcotráfico.
Mostra de Cinemas Indígenas
Ainda dentro da temática, a Mostra de Cinemas Indígenas acontece no CineSesc, em São Paulo, de 16 a 20 de agosto. A programação é gratuita e traz nove filmes inéditos nos cinemas – todos assinados por realizadores e cineastas indígenas. Em parceria com a curadora Júnia Torres, o evento exibe curtas, médias e longas-metragens, com a presença de realizadores e realizadoras, que apresentam proposições estéticas em diferentes formas de relação com a educação, a terra e a vida.
Nesta sexta-feira, 16 de agosto, às 19h, acontece a sessão de “Yvy Pyte: Coração da Terra” seguida de bate-papo com os diretores Alberto Álvares e José Cury com mediação de Jerá Poty Mirim. No documentário, eles traçam um percurso cinematográfico entre terras Guarani, desfazendo fronteiras físicas e simbólicas.