Projeto documental sobre corrupção no Brasil busca patrocinadores

Felipe Bond e Marco Buchmann foram pegos de surpresa quando um trecho de "Corrupção", projeto audiovisual que a dupla está dirigindo em parceria, foi postado pelo ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro Sergio Moro no YouTube. "O conteúdo era só um piloto que fizemos para o nosso patrocinador", conta Bond em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

A verdade é que o projeto ainda não tem nem um formato definido, podendo se desdobrar em filme ou série, dependendo da janela de lançamento. "Nossa ideia de formatação tem vários caminhos possíveis. Como não temos uma plataforma certa para veicular o conteúdo, ainda estamos estudando o melhor formato, de forma que interaja melhor com a plataforma que for lançá-lo. Temos uma ideia bem consistente de que possa ser uma série – quando montamos o piloto, foi pensando em uma série mesmo. Mas ainda queremos entender melhor essa questão. O piloto foi mais para mostrar pros patrocinadores iniciais mesmo", esclarece um dos diretores. O primeiro patrocinador oficial que Bond cita é um grupo de empresários do Paraná. O contato com eles foi feito por Buchmann, que é publicitário, mora no Estado e transita no universo político, atuando com assessoria há alguns anos. Seu pai, Ernani Buchmann, também está no projeto – é um dos roteiristas.  

"A coisa se fomentou a partir daí. Foi quando tivemos nosso investimento inicial, que bancou as viagens que fizemos para as entrevistas, em locais como Brasília, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro", revela. "Com o vazamento, resolvemos movimentar essa parte de captação, que até então estava mais low profile. Nesse movimento, repensamos possibilidades de caminhos e voltamos a dialogar sobre como fazer esse conteúdo acontecer. Mas precisamos de mais investimentos para abrir câmera e fazer mais entrevistas – principalmente se decidirmos por série mesmo, que imaginamos uma temporada inicial com mais de dez episódios, além de outras temporadas. E mesmo se tratando de filme, precisaríamos de entrevistas com outros políticos e pessoas públicas. E o povo também – queremos ouvir a opinião popular sobre os assuntos que iremos abordar". 

Felipe Bond é um dos diretores do projeto audiovisual "Corrupção"

Ideia do projeto

O trecho "vazado" por Moro fala sobre a operação Lava Jato, mas Bond garante que esse não é o foco do material: "A ideia, a princípio, era entender como funcionaram os bastidores da Lava Jato, mas eu sugeri para Buchmann irmos mais a fundo, para além desse caso específico. Queria aprofundar e falar de corrupção de forma mais geral, como uma coisa endêmica, que faz parte da sociedade. Isso me interessa muito mais do que um caso específico. Começaremos falando da Lava Jato, mas ela é só nossa base, um ponto de partida". 

Com mais de 40 entrevistas já gravadas – de nomes como Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados; Rodrigo Janot, ex-procurador geral da República; e Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa Lava Jato no Paraná, além do próprio Sergio Moro – o conteúdo foi todo filmado antes da pandemia. "Filmamos antes da quarentena e, aí, quando as restrições vieram, nós paramos. A questão é que estamos falando de uma temática sem fim – depois da pandemia, a corrupção já teve outros desdobramentos, como o caso da compra das vacinas, por exemplo. É um assunto que vai falando por si só. A própria Lava Jato não teve uma resolução propriamente dita", analisa Bond. 

Os diretores querem abordar não só casos grandes de corrupção, mas os pequenos episódios cotidianos também. Bond detalha: "Vamos ter um narrador específico, que será um personagem que representa a sociedade, e também a câmera aberta para o povo. Queremos ouvir diferentes pontos de vista, gerar contraste de opiniões". 

Canais e plataformas 

Além de estar em busca de outros patrocinadores, a dupla de diretores também está em tratativas com canais e plataformas. "Conversamos com algumas plataformas e elas estão estudando as possibilidades. Ainda não temos uma resposta concreta. Mas entendo que seja um processo lento, que envolve um tema delicado, que nem todas as plataformas querem trazer. Muitas querem um conteúdo que dialogue com aquilo que elas acreditam", observa. "Mas reforço que a gente quer contar uma história que não tem lado nenhum. E não é ficar em cima do muro. Eu acredito muito no diálogo abrangente, nas histórias contadas pelos dois lados. De qualquer forma, não é que alguma plataforma tenha dito que só se interessaria por determinado viés. Apenas não tivemos retorno concreto mesmo, infelizmente". 

Próximos passos 

O piloto do projeto foi montado pouco antes da pandemia e, desde então, o processo ficou paralisado. "Estávamos esperando as coisas melhorarem para voltar à tona com as filmagens e aprofundar esses diálogos com canais e plataformas também. A pandemia deu uma segurada em tudo, até mesmo nas nossas buscas por patrocínio. Mas esse vazamento acabou gerando movimentações", disse Bond. 

O plano agora é marcar mais entrevistas, com personalidades que eles não conseguiram falar por conta de agenda e das próprias restrições da Covid-19, é claro. Entre elas, estão os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. A expectativa do diretor é ter uma resposta das potenciais janelas de exibição até o final do ano para logo retomar essa agenda de entrevistas. Em dezembro, ele estará de mudança para a Itália, por isso a "pressa" em resolver – para além da urgência do assunto também. 

"Lançar um conteúdo audiovisual sobre corrupção gera expectativa no público e na gente também. Esse vazamento saiu do nosso controle mas, ao mesmo tempo, gerou mais expectativas de onde vamos estrear e quando vamos, além de formatos e caminhos", finaliza. 

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