Pesquisa mostra diferenças de raça e gênero nas produções audiovisuais brasileiras

Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), da Uerj, publicou nesta semana um estudo que mostra as desigualdades existentes de raça e gênero nas principais funções da produção cinematográfica, no caso, entre diretores, roteiristas e personagens de filmes nacionais de grande público.

A pesquisa analisou os 10 filmes brasileiros de maior público entre os anos 1995 e 2018, excluídos os gêneros documentário, animação e infanto-juvenil. A listagem dos longas-metragens lançados durante este período foi consultada no site do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA).

Desigualdade racial

Segundo os dados do GEMAA, o grupo social que aparece menos representado em todas as principais funções do cinema brasileiro, é o de mulheres pretas e pardas, que não exerceu atividade de direção e roteiro em nenhum dos 240 filmes analisados; constituindo também apenas 4% do elenco selecionado para os longas- metragens. Homens pretos e pardos têm um desempenho levemente melhor e são 2% dos diretores, 3% dos roteiristas e 13% dos personagens.

Desigualdade de Gênero

O GEMAA mostra que a desigualdade mais severa do cinema nacional de grande público atinge uma parcela específica do grupo feminino: a de cor preta ou parda. As mulheres brancas, por sua vez, tendem a obter melhor participação que o somatório geral da população preta e parda. Mulheres brancas, conforme os dados apurados no estudo foram 21% das diretoras, 34% das roteiristas e 34% das personagens.

O gênero masculino de cor branca, por sua vez, domina todas as funções, principalmente as de construção narrativa, como as de diretor (84%) ou roteirista (71%), sendo ainda 49% do elenco.

As conclusões do estudo

Para o GEMAA, os resultados expostos pelo estudo evidenciam a continuidade de desigualdades no modo como a população brasileira é representada nos filmes de grande público. Os longas-metragens que possuem melhor desempenho nas salas de cinema circulam uma imagem inconsistente do país, diz o estudo, muitas vezes estereotipada, que não tende a espelhar de maneira positiva a diversidade existente em nosso território.

Outro problema apontado na conclusão do estudo envolve o lugar no negro na produção audiovisual. Segundo a pesquisa, o lugar do negro no cinema nacional passou por uma transformação há cerca de duas décadas. O modo como o Governo Federal lidou com essas questões, por outro lado, variou em diferentes gestões.

Nos anos de mandato do presidente Lula e de Dilma Rousseff, diz o grupo de pesquisa, a Secretaria do Audiovisual, então vinculada ao Ministério da Cultura, lançou os primeiros editais especiais para fomento de curtas e médias-metragens de mulheres e negros.

Além disso, o debate sobre diversidade começou a conquistar espaço na Ancine. Mais recentemente, contudo, a eleição de Jair Bolsonaro gerou o fechamento das instâncias do governo às pautas de inclusão de negros e mulheres. "É cada vez mais imprescindível, portanto, que busquemos manter o assunto vivo, pois ele constitui um profundo problema de nossa sociedade", finaliza a pesquisa.

Confira aqui a pesquisa.

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