Verticalização e conteúdo exclusivo: a nova (velha) estratégia do mercado de TV paga

Do ponto de vista dos analistas de Wall Street, ainda não há a menor clareza sobre a tendência de desenvolvimento da indústria de mídia nos EUA. Em debate realizado durante a INTX 2016, principal evento de TV paga dos EUA, que acontece esta semana em Boston, não está claro que o modelo das empresas de Internet vai prevalecer da forma como está hoje. "O modelo do Netflix é fantástico. Mas vai continuar funcionando se eles não aumentarem os preços 10% ao ano?", perguntou o analista Craig Muffett, da MuffettNathanson, que há décadas acompanha o mercado de TV a cabo.

"Não necessariamente hoje as empresas mais valorizadas em bolsa são as que estão melhor posicionadas", disse Jason Basinet, do Citi Research. "Eu diria sem nenhuma dúvida que hoje as operadoras que só tem satélite estão com um problema, e que as empresas produtoras de conteúdo estão melhor posicionadas. Já as empresas de distribuição, como as operadoras de cabo, eu colocaria no meio do caminho, porque se beneficiam do crescimento dos serviços de Internet, ainda que tenham um mercado de vídeo mais desafiador", diz o analista do Citi.

Para Craig Muffett, ter redes de distribuição de conteúdos é um bom negócio.

Para Marci Ryvicker, do banco Wells Fargo, as empresas que apostam em conteúdos esportivos é que hoje estão sob a maior ameaça. "Essas empresas estão fazendo investimentos pesados em direitos esportivos e com a simplificação dos pacotes ou a distribuição não-linear, esses conteúdos passam a estar disponíveis para um número menor de espectadores, o que afeta as receitas", diz a analista.

Para Benjamin Swinburne, analista do Morgan Stanley, os detentores de direitos e produtores de conteúdo é que são, hoje, os segmentos mais confortáveis na nova indústria de TV, porque "qualquer que seja o meio, eles estarão lá".

Os analistas comentaram sobre a mudança de modelo no negócio de TV paga dos EUA, que caminha para os chamados "skinny bundles" (pacotes simplificados) e a distribuição de conteúdos diretamente pela Internet, à lá carte. "Esse é um modelo que tem tudo para dar certo, mas o perigo é você tirar o gênio da garrafa e não conseguir colocá-lo de volta", disse a analista do Wells Fargo.

Verticalização

Eles também comentaram a tendência de concentração de empresas de conteúdos e distribuição, protagonizada por empresas como a Comcast (que além de ser uma grande operadora de TV a cabo, é uma grande produtora de conteúdo e ainda comprou a DreamWorks) ou a Verizon (que adquiriu a AOL e pode fazer uma oferta pelo Yahoo).

"A distribuição está no centro de tudo. O problema é que o Facebook é uma plataforma de distribuição também. Isso é bom para os produtores de conteúdo, mas é um mau negócio para os agregadores de conteúdo", diz Basinet, do Citi Research. "As margens estão se espremendo em toda a cadeia. A compra da Dreamworks pela Comcast foi um movimento nesse sentido. Ter a distribuição é importante, mas com algum conteúdo exclusivo é melhor. Usar conteúdo para se diferenciar é o caminho", diz ele, lembrando as apostas de Amazon e Netflix na mesma direção.

A própria Comcast usou a INTX 2016 para anunciar seus planos para os Jogos Olímpicos do Rio, evento em que contará com 11 canais diferentes (integrados à plataforma de set-tops inteligentes X1, do serviço XFinity) e milhares de horas de de conteúdos ao vivo pela Internet e on-demand. A Comcast está mobilizando 4,5 mil profissionais para os jogos no Rio. Contudo, o CEO da Comcast, Brian Roberts, rechaçou a possibilidade de lançar um serviço que seja completamente OTT, ou seja, sem a conexão direta com o assinante de TV paga.

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