Na quinta-feira desta semana, dia 19 de junho, é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. A data marca também o aniversário de quatro anos da Itaú Cultural Play, plataforma de streaming gratuita dedicada ao audiovisual brasileiro. Em comemoração, o serviço terá uma programação especial durante o mês, o que inclui parcerias com importantes festivais de cinema, de diferentes regiões do Brasil, como o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba e a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
A IC Play recebe, ainda, a partir do próprio dia 19, lançamentos de clássicos na coleção permanente "Histórias do Cinema Brasileiro", em cópias restauradas e novas versões digitais. A coletânea incorpora, por exemplo, "Também somos irmãos" (1949), com o ator Grande Otelo (1915-1993), filme que se tornou pioneiro ao abordar o racismo, e "Limite" (1931), longa-metragem de Mário Peixoto (1908-1992), considerado uma das obras-primas do cinema nacional.
Nesses quatro anos, a plataforma cresceu numericamente. Seu catálogo, iniciado com 135 filmes, até hoje já recebeu mais de 1500. A seleção abrange cada vez mais produções realizadas por indígenas, mulheres e diretores negros, além de animações e filmes para crianças. A IC Play também ampliou seu conteúdo voltado à educação, com coleções específicas para professores e sequências didáticas, e passou a disponibilizar mais filmes com recursos de acessibilidade, como tradução em Libras, audiodescrição e legendas.
No ano passado, a plataforma instituiu o Prêmio IC Play, criado para reconhecer quem faz arte e cultura brasileiras por meio do audiovisual, e já premiou quatro curtas-metragens exibidos em festivais como o Visões Periféricas, do Rio de Janeiro, Guarnicê de Cinema, do Maranhão, e a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
"A Itaú Cultural Play nasceu como um gesto necessário de confiança no cinema brasileiro. Nestes quatro anos, evoluímos de um simples catálogo de exibição e disponibilização de filmes brasileiros para uma plataforma que pulsa com as histórias e urgências do país. Ampliamos nossa curadoria com recortes temáticos, abrimos parcerias com festivais de todas as regiões do país, criamos o prêmio IC Play, disponibilizamos mais de 20% do catálogo com recursos de acessibilidade e criamos playlistspensadas para dar apoio aos professores em suas salas de aula – inclusive com a possibilidade de exibições públicas em escolas e centros culturais, iniciativa rara no universo das plataformas de streaming", pontuou André Furtado, gerente de Criação e Plataformas, núcleo do IC responsável pela plataforma, em entrevista exclusiva para TELA VIVA.
Ainda no comparativo com outros serviços de streaming, Furtado destacou que manter uma plataforma gratuita, sem publicidade e com espírito público dedicada ao audiovisual brasileiro "é como remar contra diferentes correntes do mercado". Nesse sentido, ele explica que os maiores desafios não são só técnicos, mas estruturais, tais como garantir uma curadoria que mantenha um catálogo diverso e represente toda a riqueza cultural do Brasil, formar público e buscar proeminência dos conteúdos e notoriedade para a plataforma em um ecossistema que, muitas vezes, escanteia o audiovisual brasileiro por meio de sistemas de recomendações algorítmicas, em sua maioria internacionais. "Há, também, o desafio simbólico de afirmar que o cinema brasileiro tem público, é querido, relevante e capaz de formar imaginários, mesmo fora das grandes plataformas", afirmou.
E, falando em cinema brasileiro, o diretor enfatizou sua empolgação com o momento atual, uma vez que a produção nacional voltou a ter reconhecimento, ganhar prêmios importantes e ocupar os festivais, as conversas e a imaginação das pessoas. "Na IC Play, isso se reflete em mais curadorias vibrantes, novas parcerias, mais engajamento, mais busca por conteúdos plurais e uma audiência que chega querendo aprender, ver, sentir e pensar. A plataforma não é um espelhamento, mas, sim, a extensão do que o cinema brasileiro tem de melhor: criatividade, resiliência e histórias bem contadas".
Regulação do streaming
Furtado considera a regulamentação dos serviços de streaming um debate urgente, e salienta que a IC Play é a prova viva de que é possível fazer diferente. "Somos brasileiros e oferecemos programação gratuita com uma curadoria que respeita o país em sua complexidade". Num cenário futuro, com o streaming regulado, ele espera ver um novo ecossistema audiovisual, com mais produções, melhores modelos de distribuição e conteúdos brasileiros com mais proeminência nas plataformas. "Um lugar onde iniciativas como a IC Play não sejam exceção, mas parte de um ecossistema robusto, ético e plural, onde o Brasil se vê cada vez mais nas telas", completou.
Parceria com festivais
Um pilar importante da plataforma é a parceria com os festivais de cinema de diferentes regiões do país – para o diretor, tais eventos são seus "aliados históricos". Ele analisa: "Cada parceria é um gesto de escuta e abertura: escuta de curadorias que desbravam o que há de melhor, novo e diferenciado na realização audiovisual brasileira e abertura para públicos que ainda não nos conhecem. Ampliar essas conexões é fundamental. Não apenas como uma janela de lançamentos, mas como extensão da memória e da importância desses eventos".
Apenas neste ano, até final de junho, já terão passado pela IC Play 69 filmes de nove festivais. "Hoje temos pessoas assistindo ao nosso conteúdo em mais de 1100 municípios de todos os estados do Brasil. Nosso carinho pelos festivais é enorme, e queremos cada vez mais ampliar as parcerias. Este modelo de cooperação que desenvolvemos ao longo desses quatro anos é fundamental para o ecossistema audiovisual brasileiro e não se restringe apenas à exibição de filmes: uma iniciativa que temos com alguns festivais é o Prêmio IC Play. Neste ano, devemos chegar a cinco premiações em parceria com festivais", adiantou.
Planos para o futuro
Olhando para o futuro, Furtado diz que a IC Play, assim como outras plataformas, é um ser vivo e orgânico – e, por isso, em constante evolução. "Queremos cada vez mais melhorar o acesso à nossa plataforma em diferentes dispositivos e plataformas parceiras, sempre buscando excelência técnica e curatorial, ampliando a nossa oferta de conteúdo, parcerias de distribuição, colaboração com realizadores e festivais, além de melhorar nossa capacidade de produção de conteúdo original".
E, como principais objetivos que carrega, ele menciona a formação de público, definindo que, mais do que um objetivo, se trata de uma obsessão. "A IC Play não compete com o algoritmo. Nosso papel é realizar uma curadoria sensível, que representa os diferentes 'Brasis' dentro do país. Em vez de oferecer 'o que combina com você', nós perguntamos 'com que Brasil você ainda não dialogou?'. Nosso papel é abrir espaço para outros repertórios, sem medo, mas sim encorajados pela complexidade e pluralidade brasileira", concluiu.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível no site, nas Smart TVs da Samsung, LG, Android TV e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast, além das plataformas Claro TV+ e Watch Brasil.