Para executivas do streaming, momento é fértil para firmar compromisso com diversidade, igualdade e inclusão

Nesta terça-feira, 16 de agosto, o II Mercado Audiovisual Entre Fronteiras – evento que faz parte do Gramado Film Market, braço de mercado que acontece em paralelo à programação do Festival de Cinema de Gramado, promoveu um painel intitulado "O Poder Feminino no Streaming", com as participações de Malu Miranda, Head de Originais do Amazon Studios no Brasil; Mônica Albuquerque, Head de Gestão de Talentos e Desenvolvimento de Novelas, Warner Bros. Discovery Latin America; e Daniela Menegotto, responsável pela SulFlix, uma plataforma que reúne diferentes conteúdos relacionados à cultura do Rio Grande do Sul. 

Mônica abriu o debate pontuando que, ainda que a indústria do audiovisual venha de uma tradição masculina, o streaming chega em um momento em que a sociedade já evoluiu bastante, o que traz mais responsabilidade para as pessoas e, claro, para as empresas. "As marcas precisam estar conectadas com esse desejo da sociedade de evoluir e de ter mais diversidade, igualdade e inclusão. Temos a sorte de estar começando nesse negócio em um contexto em que determinados comportamentos não são mais aceitáveis. Há preconceitos estruturais no mundo inteiro, e por isso temos que estar sempre atentos, mas por outro lado é muito prazeroso presenciar esse momento histórico de provocação e transformação. O mundo está complexo e o legado histórico poderia ser melhor. Mas esse momento, de abertura de oportunidades, é muito fértil para que de fato a gente se comprometa e discuta abertamente esse desejo de ter equipes diversas, com diferentes olhares e representatividade", analisou. "Com isso, todos ganham. É uma questão de qualidade mesmo. Quando temos muitos olhares em uma produção, o conteúdo fica melhor, pois ele é submetido a críticas e perguntas que fazem com que ele cresça. Fazer essas escolhas, gerando equilíbrio na montagem das equipes na frente e atrás das câmeras, é uma decisão empresarial corporativa", completou. 

Malu, por sua vez, ressaltou que o audiovisual é um reflexo do que está acontecendo ao redor da pessoa que está contando aquela história. "É uma responsabilidade nossa, como empresa, ter esse olhar amplo, que enxergue a pluralidade do nosso país, as facetas que a nossa cultura traz e que devem ser refletidas na tela", afirmou. "A gente começa pelo IBGE mesmo, isto é, entendendo qual o tamanho do nosso país, como a população está estruturada… Precisamos saber as respostas dessas perguntas. A partir daí, trabalhamos com intencionalidade. Essa é a palavra-chave. O Amazon Studios globalmente fala muito disso. A nossa líder mundial é uma mulher, assim como as líderes das maiores regiões. Quando você vê isso, entende que o paradigma já mudou. Temos esses dados concretos que são muito positivos, mas ainda há muito trabalho pela frente", reforçou.

A executiva acrescentou que, para além de falar do espaço das mulheres, é importante lembrarmos que existem outros povos e pessoas marginalizadas que ainda precisam ser trazidas para a conversa: "Se não estamos retratando o Brasil nas nossas equipes, escritórios, sets de filmagem e protagonistas, que país estaremos mostrando para o mundo inteiro? Tem que ser o Brasil que existe, que é real". 

Para Mônica, o trabalho consiste numa questão de compromisso. "Senão, a gente não chega lá. Estamos falando de montagem de equipes, buscar equilíbrio, é número mesmo. Tem que medir, cobrar os outros e a si mesmo. Tem muito pra gente avançar, não é simples. Mas as empresas precisam se conectar com os anseios do seu público", explicou. 

"Temos que lembrar sempre que são as pessoas que fazem a cultura. Nós, mulheres, precisamos de confiança e de generosidade para trabalhar com outras mulheres. Antigamente, o líder era o mais forte. Hoje, é o mais criativo e inovador – e essas são qualidades que temos de sobra", argumentou Daniela. 

Contratação de projetos e talentos 

As executivas ainda falaram sobre seus processos de contratação de projetos junto a produtoras e profissionais independentes e de talentos para os elencos. 

No caso da Amazon, os projetos podem ser enviados por meio de um portal de submissão, lançado em abril deste ano. "O portal nos ajuda muito e nos dá um acesso democrático, pois todo mundo pode inscrever sua ideia", contou. "O ineditismo é o que traz e desperta a curiosidade do consumidor. A Amazon preza muito pela inovação, por ver uma coisa que nunca vimos antes. Por outro lado, tem o "arroz e feijão", o básico, o desejo de ver algo com o qual já está acostumado, que também é importante ter dentro de um portfólio", completou. 

Já Mônica falou sobre um assunto que, atualmente, é muito discutido: o número de seguidores do talento influencia diretamente na sua contratação para um filme ou série? A executiva garantiu que não: "Os atores são escalados pela adequação ao papel, talento e composição de escalação. A função da rede social não tem nada a ver com o processo de escalação. Para o streaming, as redes têm uma função interessante, que é a comunicação. Na TV linear, por exemplo, o próprio canal anuncia a estreia que terá no dia seguinte. No streaming é diferente. Dependemos da decisão da audiência de sentar e assistir ao conteúdo. Muitas vezes a pessoa nem sabe onde achar o que quer ver diante da grande oferta que temos hoje. Nesse sentido, as redes ajudam – claro que ao lado de toda a campanha de marketing. Elas têm essa importância de chamada, de indicação, e são ainda uma janela interessante para ficarmos de olho em novos talentos. Mas não são relevantes para escalação". 

Por fim, a executiva da Warner Bros. Discovery Latin America falou sobre os planos da empresa de investir em novelas. "Chamamos de telessérie, mas sabemos que o público em geral vai chamar de novelas. Para nós, a ideia é essa: pegar a base da telenovela, isto é, as histórias melodramáticas e folhetinescas tradicionais que tanto representam a audiência da América Latina, com com uma roupagem e uma matemática diferente, com ritmo de série e uma narrativa que funciona para o streaming", contou. A plataforma pretende desenvolver essa linha de conteúdos mais extensos, com cerca de 50 capítulos, misturando essas linhas narrativas. "Acreditamos que isso vá atrair a atenção das audiências, sobretudo da América Latina. Queremos manter uma frequência de histórias para estar permanentemente produzindo. É uma tendência, que acredito que vá criar e desenvolver mercado, além de trazer oportunidades na frente e atrás das câmeras, pois são conteúdos que demandam grandes estruturas", concluiu Mônica. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui