Um dos grandes desafios dos produtores de conteúdo nos dias atuais, especialmente dos produtores de conteúdo jornalísticos, é conseguir assegurar a autenticidade e a origem dos conteúdos exibidos. Em tempos de AI generativa, deep fakes e disseminação massiva de desinformação pelas redes, saber o que é verdade e o que é falso é um trabalho que vai além apenas da apuração jornalística.
Em debate realizado durante o IBC 2024, que aconteceu este final de semana em Amsterdam, a atuação colaborativa entre os diferentes veículos de mídia e produtores de conteúdo foi apontada como um caminho essencial para o combate à desinformação e checagem da autenticidade das informações. Para Ross Dagan, VP e head de notícias da CBS News, no futuro a tecnologia pode ajudar a evitar informações falsas, "mas o problema é que ainda não estamos lá ainda". Para ele, mesmo que haja muita coisa sendo desenvolvida, "sempre vai ser preciso termos um componente humano para verificar".
A Globo vai no mesmo caminho. Segundo Raymundo Barros, CTO da emissora brasileira, os desafios enfrentados pelos grupos de mídia vão da segurança cibernética ao conteúdo falso. "A tecnologia nos ajuda, mas o ritmo que as ameaças crescem é mais rápido e estamos ficando para trás. Precisamos de colaboração entre o ecossistema de mídia e tecnologia. É uma corrida de gato e rato tentando evitar esse problema".
Um tema que ganhou protagonismo na IBC 2024 foram as ferramentas de "provenance", dedicadas a verificar e autenticar a procedência de determinados conteúdos e também assegurar a assinatura digital daquela propriedade intelectual, algo essencial ao combate da pirataria, por exemplo.
Tecnologias como C2PA (Coalition for Content Provenance and Authenticity), que buscam padronizações de diversos fabricantes para a autenticação de conteúdos, são apontadas como um dos caminhos necessários para evitar, por exemplo, que conteúdos não-autênticos sejam utilizados de maneira indevida em coberturas jornalísticas no futuro. Será possível, por exemplo, ter um selo digital que ateste quando, onde e por quem determinado conteúdo foi captado, e a certeza de que ele não foi manipulado ou produzido a partir de Gen-AI (Inteligência Artificial Generativa).
Para Laura Ellis, futurologista da BBC R&D, as tecnologias de IA estão muito acessíveis e a procedência passa a ser cada vez mais relevante na autenticação. "O conteúdo não está protegido na Internet. Tem que ser um esforço coletivo", diz ela.
Uma das iniciativas é o programa de aceleração coordenado pela IBC para unir diferentes redações jornalísticas na troca de informações. "É melhor publicar certo do que publicar primeiro, por isso estamos optando sempre pelo compartilhamento daquilo que avaliamos ser de origem duvidosa", diz o executivo da CBS. A Globo participa deste programa junto com outras redações pelo mundo. "O nosso projeto Fato ou Fake já verificou milhares de informações, e só vemos o problema crescer. Não dá mais para ter jornalismo sem esse tipo de atuação", diz Barros.