Em entrevista ao programa Café com Pixel, realizado por Tela Viva e CQS/FV Advogados, Paulo Barcellos, CEO da O2 Filmes, traçou um panorama do mercado audiovisual brasileiro, desde sua entrada na O2 até os desafios e oportunidades atuais. Barcellos, que iniciou sua trajetória na área técnica e hoje atua como CEO, compartilhou suas impressões sobre o mercado de produção de conteúdo no Brasil, abordando temas como o papel das plataformas de streaming, a importância do público e o impacto da inteligência artificial.
Barcellos descreve o mercado audiovisual brasileiro como uma "montanha-russa", com altos e baixos constantes. Segundo ele, o mercado sempre foi impulsionado pela publicidade, mas nos últimos anos, as plataformas de streaming trouxeram uma nova dinâmica, permitindo a produção de projetos mais ambiciosos. "A gente viveu um momento muito legal nos últimos cinco ou seis anos, onde a gente conseguiu sentir o gostinho na boca do que é virar uma indústria audiovisual", disse Barcellos, referindo-se ao período de grande investimento das plataformas no Brasil.
No entanto, ele ressalta que o cenário atual é de diminuição dos investimentos das plataformas no mercado brasileiro, o que exige uma reavaliação das estratégias. Barcellos aponta ainda para uma "desconexão muito grande no Brasil entre o produto que o produtor oferece e o que o público quer assistir".
Para Barcellos, o futuro do audiovisual passa por entender e atender o público brasileiro: "O que dá certo é fazer um filme para a classe média. É contar histórias universais que as pessoas se relacionam", afirmou. Ele destaca a necessidade de produzir conteúdos com "apelo universal", que possibilitem a identificação do público com a história.
O executivo também defende a importância de testar as produções com o público antes do lançamento, para garantir que a obra tenha boa receptividade. "A gente precisa mudar a cultura no Brasil. É feio testar as coisas?", questiona, relembrando a experiência de Francis Ford Coppola com o filme "O Poderoso Chefão 2", que teve sua montagem modificada após testes com o público.
Investimentos
Barcellos comentou sobre o sucesso da série "Cidade de Deus", que considera um exemplo de como aproveitar uma boa Intellectual Property (IP). "Não tem nada de errado ou menos nobre em você pegar um filme de extremo sucesso e gerar uma IP derivada desse produto", disse.
Sobre o futuro da distribuição de conteúdo audiovisual, Barcellos reconhece que o streaming tem um papel central, mas ressalta a importância de outras janelas, como a bilheteria de cinema e o licenciamento para outras plataformas. Ele também destacou a necessidade de fomento público para o setor, com mecanismos como o Funcine, mas também de soluções como o product placement, para garantir a viabilidade financeira das produções.
Inteligência Artificial
Barcellos abordou o impacto da inteligência artificial no mercado audiovisual. Ele acredita que a IA será uma ferramenta importante na produção de conteúdo, mas não substituirá completamente o trabalho humano. "A IA não vai substituir o ser humano, mas o ser humano que usa a IA vai substituir o que não usa", afirmou.
Ele prevê que a IA será utilizada para otimizar processos e reduzir custos, permitindo a criação de mais conteúdo. No entanto, ele questiona se o mundo comporta mais conteúdo e se as pessoas, com a disputa de atenção por diferentes telas, ainda precisam de mais conteúdo.
Barcellos finalizou sua participação no Café com Pixel com uma mensagem de otimismo, mas também de alerta. Ele ressaltou a importância da adaptação às novas tecnologias e da busca por soluções para garantir a sustentabilidade do mercado audiovisual brasileiro. O executivo destacou a necessidade de uma visão estratégica e de investimentos para que o Brasil possa se tornar um player competitivo na indústria audiovisual global.
Antes do streaming, a gente já via o audiovisual brasileiro ser "refém" de uma necessidade de impor algo que se traduzisse como brasilidade. Sempre fugimos da narrativa universal, buscando nosso umbigo. E nosso cinema nunca deixou de se posicionar dessa forma. É óbvio que tivemos Central do Brasil, cidade de Deus e alguns poucos destaques que ganharam repercussão global. Mas para termos uma indústria precisaríamos ser uma Coreia do Sul. Mas não vamos chegar a lugar algum com essa bola de ferro chamada brasilidade presa nos nossos pés. E se formos parar para pensar nessa brasilidade, se perguntarmos nas ruas, ninguém vai saber do que se trata. Pode ser até que essa brasilidade provoque algum tipo de ufanismo. Mas vai ser um ufanismo que se sente entre um episódio e outro de séries coreanas ou de Taylor Sheridan