Ventre Studio, produtora que recentemente anunciou a produção de um longa-metragem sobre o navegador Amyr Klink, vai lançar em 2025 um novo projeto: a minissérie "Coligay", dirigida por Paulo Machline e Rafael Gomes. A obra pretende apresentar ao público a real história da Coligay, torcida organizada do Grêmio que se destacou por ser a primeira no país composta exclusivamente por membros homossexuais. Idealizada pelo gerente da antiga boate Coliseu, Volmar Santos, o grupo emergiu durante o período de 1977 a 1983, enfrentando a ditadura militar e um contexto de intensa discriminação na sociedade brasileira da época. Com roteiro assinado por Patricia Corso, a minissérie será exibida pelo Canal Brasil.
Um roteirista parceiro da produtora, Fernando Américo, apresentou a eles o livro "Coligay, Tricolor de Todas as Cores", de Leo Gerchman. "Não conhecíamos a história e nos encantamos. Existiu uma torcida organizada gay nos anos 70 e 80? Em Porto Alegre? E foi abraçada pelo resto da torcida gremista? Ela remete a personagens progressistas, divertidos e apaixonados por futebol, num Brasil que vivia uma ditadura militar. No meio de tanta repressão e justamente num ambiente predominantemente machista, surge um grupo disposta a desafiar as normas com sua torcida alegre e colorida. E é um sucesso", contou João Queiroz, sócio e produtor na Ventre Studio, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Contamos com o livro, com a aproximação a personagens da época através de entrevistas, com o acervo do próprio Grêmio e também com muita criatividade de um grupo talentosíssimo de roteirista e diretores para recriar a época e também criar em cima", adiantou o produtor sobre o projeto.
Até hoje, o meio do futebol ainda é bastante machista e, por vezes, homofóbico também. Nesse sentido, os produtores acreditam que relembrar essa história pode ter um impacto interessante no público. "O futebol está mudando, assim como a sociedade. Porém ainda temos gritos homofóbicos esporádicos nos estádios. Mostrar um caso verdadeiro de uma torcida gay, com irreverência, alegria e de forma inspiradora, é uma ferramenta que esperamos que ajude ao machão homofóbico a refletir seu comportamento", aposta Queiroz.
"O futebol é o lugar do pertencimento, de vestir a mesma camisa, cantar o mesmo hino, sofrer e vibrar juntos. E por outro lado, é também o lugar da exclusão, do 'combate' ao diferente, do outro time, da outra cor. Dessa forma, acredito que o universo do futebol, especialmente das torcidas, possa ser visto como uma arena política, vide as questões de racismo com Vini na Espanha, os discursos recentes dos jogadores na França", completa Paula Consenza, sócia e produtora da Ventre Studio. "Como mulher brasileira cercada por homens fanáticos por futebol, me chamou a atenção que nenhum deles conhecesse a Coligay. Acredito que a série contribuirá muito para a desmistificação da homossexualidade no futebol, especialmente pela maneira irreverente da Coligay se colocar em lugar tão fechado – e em plena ditadura. Tem que ter muita coragem pra chegar coberto de purpurina num ambiente desses. Essa força e originalidade estarão presentes também na nossa maneira de contar a história", acrescentou.
O Canal Brasil, que exibirá a série, é um parceiro de longa data da produtora – e, conforme Consenza reforça, de todo o audiovisual brasileiro também. "A escolha dos filmes e séries em que apostam demonstra uma curadoria ousada e inovadora. Além disso, o modelo de negócios praticado é muito favorável à produção independente, criando espaço para coproduções internacionais e a comercialização da série no mundo todo. A interlocução é ótima e a troca criativa é verdadeiramente muito rica", celebra.
"O maior desafio, nosso e do canal, na verdade, me parece ser o momento do lançamento. Sem acesso a grandes verbas de lançamento precisamos ser muito criativos para criar relevância frente aos lançamentos dos streamers internacionais", destaca a produtora.
Que ditadura militar o que que ninguém tava bem ai pra isso,deixem de frescura Aqui em Manaus tinha a galo gay no início dos nos 80 e era tudo normal