Nesta quinta-feira, dia 18 de agosto, estreia nos cinemas brasileiros o filme "45 do Segundo Tempo", com direção de Luiz Villaça (da série indicada ao Emmy Internacional de Melhor Comédia "A Mulher do Prefeito" e do filme "De Onde Eu Te Vejo"), produção da Café Royal e Bossa Nova Filmes, coprodução Globo Filmes, Telecine e Spcine e distribuição da Paris Filmes e Downtown Filmes.
O elenco conta com nomes consagrados da televisão brasileira, como Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes e Ary França, além de participações de Denise Fraga, Filipe Bragança e Louise Cardoso.
A trama apresenta a história de Pedro Baresi (Tony Ramos), um palmeirense roxo e dono da tradicional cantina italiana Baresi, que reencontra depois de 40 anos seus amigos de colégio Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França) para recriar uma foto tirada na inauguração do metrô de São Paulo, em 1974.
Pedro ama futebol, culinária italiana e sua vira-lata Calabresa, mas as dificuldades financeiras e a falta de esperança o fazem refletir sobre sua própria existência. Nessa comédia dramática sobre escolhas, amizades e redescobrimento, Pedro, Ivan e Mariano revivem memórias dos melhores dias de suas vidas e seguem em busca de Soninha (Louise Cardoso), a musa da infância dos três.
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"Meu objetivo é contar uma história sobre conflitos humanos. O pano de fundo é o futebol, mas o filme não é sobre futebol, e sim sobre uma relação de amizade. O que eu acho mais bonito nesse reencontro dos três amigos é que, quando um abre suas fraquezas, os outros resolvem se expor também. A gente tem essa teoria de que homem não fala muito sobre sentimentos, o que é um pouco verdade, por isso gosto dessa relação que eles têm", disse o diretor, Luiz Villaça, em entrevista exclusiva para TELA VIVA.
O filme sofreu uma série de atrasos na data de estreia por conta da pandemia – atrasos esses que, no fim das contas, segundo o diretor, foram positivos: "O filme chega em um momento muito importante para o Brasil. Estamos presenciando discussões que jamais poderíamos ter, sobre democracia, ódio. É hora de lembrarmos que precisamos nos olhar, conversar, tudo isso de forma democrática, para evoluir e continuar nosso caminho. Nascemos para fazer parte de uma sociedade onde possamos nos escutar, nos olhar e interagir".
A história
A ideia do filme veio de uma reportagem que realmente aconteceu, no jornal Estadão, anos atrás. "O ponto de partida, então, foi o personagem do Tony Ramos. Pensamos muito em qual seria o caminho, para onde esses caras teriam ido. Aí entra uma coisa que eu acho super interessante, que é a idealização da vida que a gente faz quando é adolescente, e comparar isso com o que realmente aconteceu. Eu e meus parceiros discutimos muito quais figuras usaríamos para contar essa história. Muita gente que tem visto o filme se identifica com os personagens, e eu adoro isso", contou Villaça. "A história dialoga muito com o público – e quando esse diálogo acontece, há um entendimento por parte das pessoas e, aí, uma reação", completou.
Abordagem de questões sociais
"O filme faz uma tentativa de ser visceral em pontos que achamos importante abordar", definiu o diretor. Nesse sentido, entram em cena diversas questões sociais presentes na vida dos personagens.
Ivan, por exemplo, interpretado por Cássio Gabus Mendes, carrega pontos que são, narrativamente, muito ricos. Quando ele descobre que o filho está se envolvendo com outro homem, por exemplo, ele se percebe homofóbico – "e é só quando a gente se percebe alguma coisa que a gente pode começar a lutar contra ela", observou Villaça. Além disso, ele tem uma relação de machismo profundo e falta de sensibilidade total com a mulher, interpretada por Denise Fraga, o que também propõe uma discussão importante. Por fim, essa trama ainda permite uma reflexão sobre o que imaginamos ser versus o que viramos dentro do nosso ofício. "É um assunto sobre o qual eu sempre discuto. Sobre o quão somos fiéis ao nosso ofício e ao que buscávamos. Eu, por exemplo, me considero fiel ao meu pensamento, linguagem, respeito e alegria com o que eu faço. No caso do Ivan, não. Ele não foi fiel ao que idealizou, e seu mundo cai inteirinho à medida que vai se dando conta disso. Acho importante histórias assim, que façam a gente se reconhecer e se questionar", completou.
Otimismo com o futuro do cinema nacional
Villaça é sensível às questões do cinema nacional e celebra o lançamento de mais uma obra brasileira nas salas de cinema após momentos de crise provocados não só pela pandemia, mas também pelas tentativas de enfraquecimento do audiovisual e da cultura como um todo por parte do atual governo: "Eu me sinto mais um cara a lutar, isto é, mais um dentro dessa luta. Historicamente, dos anos 90 pra cá, quando o nosso cinema foi destruído, conseguimos, por meio de estudos, leis e instituições criadas, fortalecer nossa arte. Hoje, temos que reconquistar o público nesse pós-pandemia e não deixar que aconteça o desmantelamento e enfraquecimento das nossas instituições que esse governo tentou. Tenho esperança que, a partir de janeiro, a gente comece a fortificar novamente nossas instituições do cinema e das artes como um todo. Não é reconstruir, e sim fortalecer. Elas estão aí, só precisam de força".
Ele prosseguiu: "No mundo inteiro o Estado tem, sim, papel decisivo na cultura do país. Nós, naturalmente, também necessitamos de um Estado que dê condições e valor ao desenvolvimento cultural do nosso país. É lindo ver filmes do Brasil em festivais importantes e é mais lindo ainda ver um filme nacionais fazendo sucesso, levando milhões de pessoas para assistir. Sentimos cada vez mais que o brasileiro gosta de se ver. Com acesso e apoio, nossa indústria é incrível".
Por fim, Villaça concluiu: "O cineasta no Brasil tem que ser otimista. Eu sou de uma geração que viu o cinema brasileiro acabando e recomeçando, aparecendo novos cineastas, a continuidade dos já consagrados, a explosão das séries. Sou esperançoso de que criemos cada vez mais condições de retomar pra gerar oportunidades para todos – cineastas mais jovens, velhos, mulheres, negros, LGBTQIA+, todo mundo. Isso é possível – temos um mercado para gerar possibilidades. Inclusive com a descentralização, com filmes sendo produzidos de Norte a Sul do país. Temos um caminho, que infelizmente tentou ser interrompido. Mas as pessoas passam, o cinema continua".