Prestes a completar 60 anos de história, a maior emissora brasileira optou em produzir um remake de "Vale Tudo" para a data comemorativa, dando continuidade à revisitação de clássicos da teledramaturgia como os remakes recentes de "Pantanal" e "Renascer". No entanto, investimentos em propriedades intelectuais já existentes estão longe de ser uma exclusividade brasileira. Ainda na América Latina, novelas clássicas colombianas como "Betty, La Fea" e "Pedro, El Escamoso" ganharam novos capítulos em 2024, com o elenco original e distribuição em plataformas de streaming.
Não é incomum nos depararmos com discussões acaloradas sobre a falta de histórias originais, seja na TV ou no cinema, em Hollywood ou além. Para os críticos, tudo parece ser uma reciclagem de algo que já foi feito: uma adaptação, remake, reboot, prequel, sequel, entre outras variações de terminologias que não saem da boca dos aficionados por entretenimento. Apesar das críticas direcionadas a uma suposta aversão aos riscos, também é interessante analisar o outro lado da equação: a audiência.
De acordo com os dados da Parrot Analytics, líder em análise de entretenimento global, cerca de 75% dos 100 títulos de maior demanda no Brasil são baseados em propriedades intelectuais pré-existentes, considerando o respectivo primeiro mês de lançamento entre produções lançadas ou com novos episódios disponíveis em 2024. Ao ir além das métricas tradicionais, a demanda engloba buscas online, redes sociais, além do consumo. Através dessa metodologia, a Parrot é capaz de mapear toda a jornada de descoberta de um conteúdo, quantificando a popularidade de um título na economia da atenção.
Ao filtrar o Top 50, esse percentual cresce para 86%. Isso significa que a presença de uma audiência já familiarizada com aquele universo tende a gerar mais engajamento, então até mesmo entre o consumidor, histórias baseadas ou desenvolvidas a partir de um outro produto têm uma performance mais expressiva, o que justifica o interesse de executivos em permanecer investindo no que é, teoricamente, mais seguro. Até quando considerado apenas títulos brasileiros esse padrão permanece, com produções como "Renascer", "De Volta aos 15" e "Casamento às Cegas: Brasil" se destacando em demanda.
No geral, séries e filmes originais apresentam um patamar semelhante entre os títulos de maior demanda entre os lançamentos do ano anterior. Enquanto no Top 100, 29% das séries são histórias originais, sem um material de apoio, com destaques para "Squid Game", "Grey's Anatomy", e as brasileiras "Garota do Momento" e "Senna", sendo essa última baseada em fatos; apenas 20% dos filmes que alcançaram o ranking têm essa característica. Entre os principais filmes do ano há títulos como "Divertida Mente 2", "Deadpool vs Wolverine" e "Alien: Romulos", produções que são continuações de franquias bem estabelecidas, entretanto, títulos com roteiros originais em produções que já se tornaram parte da cultura pop, como "A Substância", também conseguiram registrar uma demanda expressiva no Brasil, indicando que também há um interesse por novas histórias.
É uma equação complexa entender se a audiência está consumindo mais títulos de IP pré-existentes porque eles estão supostamente recebendo um maior investimento dos principais produtores de conteúdo, ou se é o inverso que ocorre, já que em uma indústria cada vez mais volátil, investir nesses tipos de conteúdo pode ser um caminho mais seguro para alcançar a um maior número de pessoas. Resta saber como a audiência brasileira irá se comportar não só com o remake de "Vale Tudo", mas com as novas releituras, que aparentemente se tornarão cada vez mais comuns, também entre as novelas.