Dirigida e produzida por Tatiana Issa e Guto Barra, responsáveis também por "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", a nova série de true crime "Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça" estreia nesta terça, 18 de março, e terá ao todo três episódios, lançados às terças, às 21h, no canal HBO e na plataforma de streaming Max. Por meio de depoimentos e reencenações, a produção lança um novo olhar sobre o trágico naufrágio que parou o Brasil no Réveillon de 1988.
"O que tem em comum nas histórias que escolhemos contar é que elas não são só sobre um crime, ou uma pessoa, uma família e mortes. Procuramos histórias que tenham outras camadas, e que tragam discussões diferentes, necessárias e atuais. E, a partir daí, sempre buscamos o viés da emoção – e de diferentes emoções. No caso dessa série, passa por tristeza, revolta, indignação. Nossa busca é essa: contar histórias importantes, com rigor investigativo, e que consigam mexer com as emoções de quem está assistindo", define Guto Barra, diretor e produtor, em entrevista para Tela Viva.
"As discussões que essas séries trazem, além de importantes, são atemporais. No caso de 'Bateau Mouche', estamos falando de corrupção, de negligência, da justiça não sendo feita ao longo de tantas décadas, e ninguém sendo penalizado. A gente sempre procura casos e fatos impactantes, claro, mas que possam sobretudo trazer discussões pertinentes e necessárias para a sociedade. Para que a gente possa, quem sabe, de alguma maneira, trazendo novamente tudo isso à tona, com esse letramento de coisas que a gente não entendia naquela década e que hoje podemos questionar como foi possível, melhorar, para que essas situações não se repitam. E infelizmente vemos isso se repetindo em histórias constantemente", completa Tatiana Issa, diretora e produtora.
Na série, os criadores 11 vezes indicados ao Emmy e três vezes vencedores da premiação se propõem a reconstruir os acontecimentos da fatídica noite em que o Bateau Mouche IV naufragou, resultando na morte de 55 pessoas, incluindo a atriz Yara Amaral. O caso se tornou um símbolo da impunidade no país e ainda segue na Justiça até hoje, com processos marcados por investigações sobre fraudes e irregularidades. A tragédia levantou, ainda, debates sobre segurança, fiscalização e responsabilidade, que seguem em voga até os dias atuais.
Investimento em true crime
Adriana Cechetti, diretora de produção e desenvolvimento de conteúdos de não ficção da Warner Bros. Discovery Brasil, conta que o processo de escolher uma história para produzir passa por um questionamento a respeito do porquê contar aquela história naquele momento – e que, no caso de "Bateau Mouche", a resposta vai por esse caminho apontado pelos produtores de gerar discussão, trazer para a atualidade um fato que aconteceu há muito tempo, agora de uma maneira diferente, compilando a história para contá-la de uma maneira inédita. "Infelizmente vivemos num país com muitos crimes, então não é qualquer crime que vale contar. Temos um olhar específico para as histórias e a importância delas na sociedade. Avaliamos o que queremos gerar de conversa com elas".
Embora haja quem diga que o auge do true crime já passou, a WBD segue apostando fortemente no gênero, especialmente após o grande sucesso de "Pacto Brutal", que Cechetti vê como um marco na história do true crime no Brasil. "Não achamos que o true crime esteja saturado, mas procuramos outros olhares dentro dele. 'Bateau Mouche' é um exemplo disso, de um outro viés do gênero. Temos em fase de desenvolvimento e de pós-produção vários outros projetos nessa linha, inclusive repetindo a parceria com o Guto e a Tati. É um gênero em que acreditamos muito – e principalmente pela localização. No fundo, essas histórias funcionam para a audiência brasileira porque são histórias locais. É diferente de contar a história de um crime internacional. São crimes que aconteceram no Brasil, sobre os quais as pessoas têm alguma referência. Essa localização do true crime é muito importante para a audiência", destaca.
Patricio Diaz, gerente sênior de produção de conteúdos de não ficção da Warner Bros. Discovery, acrescenta: "No true crime, nosso maior desafio é a curadoria. Como o gênero está em alta, recebemos muitos projetos. Sempre partimos da relevância, isto é, o que a história tem de relevante, porque vamos contá-la, e porque agora. E 'Bateau Mouche' tem todos os ingredientes que procuramos. Acredito que a partir dessa obra muitas discussões podem ser abertas. É uma história cheia de camadas – não só negligência e corrupção, mas ambição e ganância também. São as motivações. Então é outra discussão que é muito pertinente. No intuito de ganhar mais e mais dinheiro, situações como essa acabam acontecendo. É importante refletirmos sobre isso".
Rigor de produção
"Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça" inclui recriações no mar e em um tanque com 40 metros de comprimento, 30 de largura e até 25 de profundidade, além de mais de 30 entrevistas exclusivas de sobreviventes, familiares das vítimas, advogados, especialistas e protagonistas do resgate.
"Foi um projeto muito desafiador. Não só do ponto de vista pessoal, pelas histórias pessoais que conhecemos nessa jornada, que foi tão dolorosa, afinal trata-se de uma tragédia brutal, mas também profissional. Foi um grande desafio de produção", pontua Issa. "Quando trouxemos a ideia, logo nos deparamos com a dúvida sobre como iríamos contar essa história, como reproduzir esse barco. Tínhamos imagens de arquivo apenas a partir do momento do resgate das vítimas. O arquivo jornalístico de imagens é chocante. Mas não tínhamos nada do antes e durante", lembra.
Assim, a produção decidiu pelas recriações e dramatizações das cenas – sempre com cuidado, colocando o respeito às vítimas em primeiro lugar, conforme salienta a diretora e produtora, mas também visando um rigor de produção. "O desafio era enorme. Precisávamos filmar embaixo da água, com vários figurantes, diretores de arte, contra-regras. Foram cenas de barco virando, chuva, água, onda, alto mar. Eram muitas noturnas, tudo embaixo da água, refizemos o barco em maquete… Foi uma coisa grandiosa, com uma equipe muito grande também. E que trouxe um valor de produção importante para a série. O resultado ficou muito bem feito. Havia o risco de não ficar, e assumimos esse risco todos juntos, mas deu certo", celebra.
Para Guto Barra, o que fica para o público que assistir é mais ou menos o que ficou para a equipe envolvida no projeto. Ele explica: "É fácil imaginar que é uma história horrível, uma desgraça. Mas, quando você for vendo, é muito pior do que a gente lembrava, do que já sabíamos a respeito. Chocou a gente que estava fazendo e com certeza chocará quem assistir também".
"Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça" é uma coprodução da HBO com a Producing Partners. A série é dirigida e produzida por Tatiana Issa e Guto Barra, com roteiro de Barra e Renata Amato e supervisão de Sergio Nakasone, Adriana Cechetti e Patrício Diaz por parte da Warner Bros. Discovery.