De acordo com um panorama do setor audiovisual apresentado pela Ancine na primeira reunião ordinária da atual composição do Conselho Superior do Cinema (CSC), embora o setor tenha sido impactado pela pandemia, continuou ativo em 2020. A reunião aconteceu em Brasília no dia 2 de setembro.
Para a agência, o panorama demonstrou a necessidade de modernização da regulação, a partir da consideração e inserção das novas tecnologias, no escopo de criar um ambiente econômico mais competitivo e com menos assimetrias, aumentando a eficiência da política pública para o setor.
Mesmo com o forte crescimento do vídeo sob demanda no período, o volume de obras produzidas ficou 16% abaixo da média anual nos cinco anos anteriores, com 2,9 mil obras. Destas, 1.592 foram filmes e séries, não incluídas as obras videomusicais. Deste universo – que inclui filmes e séries de ficção, documentário, animação, além de programas de variedades e reality shows – 945 obras foram produzidas por produtoras independentes.
No mesmo período de 2015-2019, em média, 340 obras foram produzidas anualmente com financiamento público gerido pela Ancine, incluindo Leis de incentivo e Fundo Setorial do Audiovisual. Segundo a agência, em 2020 foram 311 obras com financiamento público, uma redução de 9% na média anual, também em relação aos cinco anos anteriores, mesmo durante a situação da COVID-19 e suas restrições sanitárias.
Os dados, aparentemente, não foram suficientes para que o Ministério da Economia, que tem assento no CSC, revisse o Projeto de Lei apresentado menos de duas semanas depois à Câmara dos Deputados e que propõe a extinção de benefícios da Lei do Audiovisual.
Papel do audiovisual na economia
Os dados apresentados pela Ancine apontam uma evolução do número de empregos no setor no período de 2010-2019. A TV aberta foi a atividade econômica que mais gerou vínculos de emprego, com uma participação, em 2019, de 57% do total de postos de trabalho gerados pelo setor audiovisual.
No mercado de TV por assinatura destacou-se a redução da base de assinantes, que se manteve em 2020 com a mesma tendência de queda, retornando em meados de 2021 a patamares inferiores aos de 2012. Contudo, o panorama identificou que, em 2020 a média de participação de programação de obras brasileiras nos canais de filmes e séries permaneceu nos mesmos patamares dos anos anteriores, para produções independentes ou não.
Apesar de uma recuperação no início da pandemia, a audiência da TV Paga como um todo vem mantendo uma trajetória de queda. Em contraste, vem crescendo a audiência de conteúdos não-lineares, incluindo serviços de streaming ao vivo ou sob demanda.
Observou-se que, cada vez mais, o conteúdo consumido via TV tende a ser destas outras fontes, que não são canais de conteúdo linear.
O panorama ressaltou também dados sobre o valor adicionado do setor audiovisual no período anterior à pandemia, publicados no Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA).
Utilizando a última atualização de dados do IBGE, as estimativas da Ancine apontam um crescimento do valor adicionado pelo setor até 2014, mantendo patamares similares nos anos seguintes, até o valor de R$26,7 bilhões em 2018. O VA do setor audiovisual foi maior que de setores como o da fabricação de produtos têxteis e de produtos farmoquímicos e farmacêuticos.
Em 2018, a TV paga ainda respondia pela maior parte do VA gerado pelo setor, mas em um percentual que começou a se reduzir a partir de 2016. Por outro lado, observou-se crescimento na participação do valor adicionado pelo VOD a partir de 2017, chegando a responder por cerca de 20% do VA do setor em 2018.
Publicidade
Outro destaque do panorama é a migração verificada nos investimentos de publicidade das mídias tradicionais para as mídias digitais. O panorama traz dados de pesquisa do Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP), realizada a partir de uma amostra de agências de publicidade. Em 2020 o investimento total em publicidade caiu 19% na comparação com 2019. A TV aberta perdeu R$ 1,9 bilhão no período (-20,4%); a TV paga teve queda ainda maior, indo de R$ 1,21 bilhão para R$ 844,1 milhões (-30,6%); e a maior queda em receitas de publicidade foi nos cinemas (-78,89%). O único meio que incrementou o faturamento de mídia foi a Internet (+1,7%), que registrou uma participação de 26,7% do bolo publicitário de 2020, contra 21,2% em 2019.
Theatrical
Para as salas de cinema do país, o ano de 2020 foi desafiador, encerrando o período com um público de aproximadamente 39 milhões de espectadores, o que representa uma queda de mais de 77% em relação a 2019.
O avanço da vacinação e a diminuição no número de casos de Covid-19 proporcionaram uma reabertura, fazendo com que o número de salas em funcionamento na semana 31, em meados de agosto de 2021, fosse o maior desde o início da pandemia. O movimento de reabertura vem atingindo todas as regiões do país, com destaque para o eixo Rio-São Paulo, onde se concentra a maior parte das salas do parque cinematográfico e que, no fim do segundo trimestre, possuía cerca de 90% do total de salas abertas em relação à mesma semana de 2019.
No fim do segundo trimestre, pela primeira vez desde o início da pandemia, o público semanal das salas de cinema superou 1 milhão de espectadores. Apesar de significativo, o número ainda é inferior à média de público semanal ocorrida entre 2017 e 2019, que foi de cerca de 3,2 milhões de espectadores. O assunto já está pautado para a próxima reunião do Conselho Superior do Cinema (CSC).
Veja o levantamento na íntegra.
(Com Assessoria de Comunicação da Ancine)