No congresso do Set Expo 2024, realizado nesta semana em São Paulo, alguns cases do uso da inteligência artificial (IA) no jornalismo foram apresentados. O debate é em torno do uso da tecnologia garantindo os valores éticos e, sobretudo, a confiabilidade da notícia. O ganho de produtividade não pode ser em detrimento da precisão e veracidade dos fatos reportados.
A inteligência artificial é uma ferramenta que pode ser usada para melhorar o jornalismo. No entanto, é importante usar essa tecnologia com responsabilidade para evitar imprecisões e garantir que as informações fornecidas sejam precisas e confiáveis.
Rafael Sbarai, Head de Produto e Operações do Cartola Express – Globo, acredita que a inteligência artificial transformará profundamente o curso das empresas de mídia. Para ele, é importante avaliar, sob a óptica de negócio, o objetivo do uso da tecnologia em toda a cadeia de processo, garantindo a qualidade e a ética do conteúdo gerado por algoritmos e maximizando o valor agregado para o público-alvo.
Ele ressalta que a IA sem conteúdo não tem valor e que, se as empresas pararem de abastecer a IA, ela para de funcionar. É com base nos dados das empresas de mídia que os sistemas tecnológicos produzem seus próprios resultados com potencial de serem melhores e mais rápidos de serem encontrados.
Sbarai também destaca que a indústria da TV sofre impacto muito forte em curto, médio e longo prazo. Ele questiona qual a estratégia das empresas diante da busca como fonte de tráfego mais valiosa e o que acontecerá após a introdução e implementação global de respostas de IA generativos.
Para Sbarai, é importante que as empresas de mídia se preparem para o futuro da IA no jornalismo. Ele recomenda que elas reflitam sobre suas estratégias, avaliem o objetivo do uso da tecnologia e garantam a qualidade e a ética do conteúdo gerado por algoritmos.
IA na verificação de notícias
O UOL criou uma ferramenta para coibir as alucinações dos modelos de inteligência artificial generativa. Com técnicas de Retrieval-Augmented Generation (RAG), o portal conseguiu tirar do papel projetos para uso do público final e para uso interno da redação. O portal criou chatbots baseados nas suas bases de informações, resumos de matérias gerados por IA e ronda automatizada que monitora sites selecionados.
Thomas K. Pomerancblum, gerente geral de engenharia de software do UOL, falou sobre os desafios e resultados dessas iniciativas. Ele destacou que a inteligência artificial é uma tecnologia capaz de criar textos de forma impressionante, mas que também pode gerar imprecisões.
Para evitar esse problema, o UOL criou uma caixa de ferramentas que cria instâncias especializadas, como pequenos apps, para tratar de assuntos ou fazer tarefas específicas. Essas instâncias usam técnicas de RAG para buscar em fontes confiáveis antes de dar as respostas. Isso garante que as informações fornecidas sejam precisas e confiáveis.
Pomerancblum também destacou alguns casos de uso da inteligência artificial no jornalismo do UOL. Entre eles, estão o chatbot IR 2024, que respondeu a perguntas dos leitores sobre a declaração do imposto de renda; a ronda de notícias sobre assuntos de destaque, que notifica a redação para apurar notícias publicadas por outros veículos; e o leitor de PDF, que permite ao repórter fazer perguntas sobre um inquérito policial de 6 mil páginas e obter as respostas rapidamente.
Automatização de processos
A NHK, emissora pública japonesa, está utilizando inteligência artificial para automatizar processos de produção de jornalismo e de conteúdo. A NHK STRL (Science & Technology Research Laboratories) vem desenvolvendo soluções de IA com foco na análise de imagem, fala e linguagem.
Um dos projetos é a geração automática de resumos de notícias e vídeos de programas. O sistema de sumarização de vídeos de notícias permite que o usuário insira um vídeo por meio de "arrastar e soltar", e a sumarização automática leva 2/3 da duração do vídeo de entrada. O sistema também pode gerar índices de reportagens e falas do programa jornalístico, que podem ser corrigidos pelo usuário.
Outro projeto é a extração automática de thumbnails de programas. A IA aprende as características das imagens para formar as miniaturas de acordo com os gêneros dos programas.
Kohei Kambara, chefe da Divisão de Pesquisa de Sistemas de Transmissão Avançados da NHK STRL, destacou que a divisão da emissora estatal japonesa tem se concentrado no desenvolvimento de soluções para automatizar tarefas repetitivas e demoradas, liberando os produtores de conteúdo para se concentrarem em suas atividades.
Soluções de prateleira
O vice-presidente de vendas da CIS Group, Felipe Andrade, apresentou casos práticos de uso de inteligência artificial (IA) como "copiloto" para profissionais de jornalismo e edição, auxiliando-os em diversas tarefas.
Como exemplos de uso da IA no jornalismo, Felipe citou a Avid Ada, IA que tem várias ferramentas. A Avid Ada Summary, por exemplo, sugere vídeos do acervo enquanto o jornalista escreve a matéria, com as transcrições do que está falado no vídeo. Também pode oferecer a possibilidade de trocar um trecho de uma matéria com imagens encontradas pela IA.
Entre as funcionalidades de IA apresentadas por Andrade como copilotos estão:
- A IA Multimodal, que tem percepção quase humana e permite que as equipes naveguem facilmente até os melhores trechos de um vídeo, fornecendo automaticamente a descrição;
- A função de mencionar todas as pessoas presentes em um vídeo e todas as citações delas naquele conteúdo;
- A entrega da transcrição de todo o programa;
- A pesquisa por labels ou tags;
- A procura por caracteres e texto nas imagens do vídeo;
- o reconhecimento facial.
Felipe acredita no crescimento do conceito de copiloto para o jornalismo, pois, de acordo com ele, essas ferramentas podem ajudar os profissionais em diversas tarefas, como apoio, contexto, recomendações e criação de conteúdo. Ele ressaltou, no entanto, que a responsabilidade pelo conteúdo jornalístico cabe aos humanos.