A Globo está voltando suas atenções para a TV 3.0. Buscando o pioneirismo, a emissora já está fazendo testes reais com as possibilidades que a tecnologia oferece. Nesta terça-feira, dia 20 de agosto, Carlos Octávio, diretor de estratégia corporativa e arquitetura, participou do congresso SET Expo 2024, em São Paulo, e esclareceu o porquê da TV 3.0 estar no centro da estratégia do grupo, com sua implementação oficial prevista já para 2025: “A TV linear ainda é muito relevante e, especialmente no Brasil, é a plataforma dominante. Não podemos deixar de inovar e evoluir com essa plataforma que tem tido tanto sucesso ao longo de toda a trajetória da televisão no mundo”. Reforçando esse ponto, ele mencionou dados da Kantar Ibope que revelam que do share de consumo total de vídeo em 2023, 74,3% está na TV linear (somando aqui TV aberta e Pay TV) e somente 25,7% é de vídeo online.
Carlos também afirmou que o avanço das TVs conectadas, que representam hoje mais da metade do parque de televisores, segundo dados de setembro do último ano, acabou acelerando esse processo da TV 3.0 também.
“Estamos falando da TV aberta ganhando as experiências e funcionalidades da TV digital”, definiu. Entre as oportunidades que a TV 3.0 proporciona estão novas formas de medir a audiência, integração entre broadcast e broadband, interatividade, acessibilidade, publicidade integrada e T-Commerce, consumo logado e hipersegmentação geográfica, que permite a exibição de diferentes conteúdos e anúncios publicitários dentro de uma região, trazendo oportunidades de monetização e localização de conteúdo. Outro ponto importante é o direct to mobile sem consumir o plano de dados do usuário – o que dado o contexto econômico de um país de dimensões continentais como é o Brasil se torna ainda mais relevante. Em suma, é uma nova experiência para o consumidor, que oferece ainda uma série de ganhos para os canais e marcas.
Testes no entretenimento, esportes e jornalismo
Conforme dito anteriormente, a Globo já trabalha com testes reais da experiência de TV 3.0. Carlos apresentou exemplos em diferentes segmentos, como entretenimento, jornalismo e esportes. No entretenimento, ele trouxe um case do “Mais Você”, com Ana Maria Braga, onde era possível, a partir do controle remoto da TV, comprar a panela usada pela apresentadora em determinada receita. “É a compra por impulso. Se a pessoa já está com o cartão de crédito cadastrado, consegue fazer isso com um clique”, explicou. Nos esportes, o exemplo veio da última edição das Olimpíadas: durante uma partida de futebol entre Brasil e Nigéria, o público podia votar em quem venceria o jogo e qual medalha a seleção brasileira conquistaria ao final da competição. Essa votação também é feita via controle remoto. No jornalismo, a partir de um exemplo com o “Jornal Nacional”, a audiência consegue ativar um menu lateral para acessar reportagens mais aprofundadas sobre os assuntos que estão sendo falados pelos âncoras e checar ainda detalhes como gráficos, números e tabelas.
São muitas as possibilidades para os três segmentos e tantos outros contextos e territórios onde essa interatividade pode ser explorada. A experiência é fluida e coloca o usuário no controle – até porque especialmente nesse ambiente digital de plataformas de streaming, redes sociais e TV Conectada, ele já está bastante acostumado com essa posição. “O espectador aciona essa interatividade se quiser – entendemos que não são todos que vão querer. Talvez com o tempo experimentem e acabem se habituando. Assim como ele faz com o celular, pode escolher o quanto quer avançar na jornada”, pontuou.
“Estamos experimentando e, ao mesmo tempo, educando o consumidor”, disse o diretor, que revelou ainda que 30% das pessoas que se autenticaram nessa experiência de interatividade proposta pela Globo nos Jogos Olímpicos têm entre 16 e 25 anos. “Começamos assim a quebrar aquele mito de que os jovens não assistem mais à TV. O jovem, assim como qualquer outra pessoa, está atrás de conteúdos que interessam. O esporte é uma boa porta de entrada para trabalharmos essa interação”.
Força do aberto, linear e grandes eventos
O diretor apontou que muitas vezes o mercado fala de grandes transformações, mas que a velocidade com a qual elas acontecem não é tão rápida assim quanto as headlines fazem parecer – o que não significa que não seja necessário agir e simplesmente deixar as coisas seguirem como sempre foram. “O jogo está longe de estar perdido. O caminho não é fácil, claro. Quando olhamos a indústria de mídia no mundo vemos que ainda não surgiu uma única bala de prata ou modelo vencedor. A vida real é mais complexa do que os arquétipos. A Globo, por exemplo, atua com diferentes estratégias. A resposta passa por conjuntos de ações”, disse.
O diretor ressaltou o posicionamento do grupo de acreditar muito no conhecimento da sociedade brasileira e na produção de conteúdos que os brasileiros gostam. “Temos provado que isso é um diferencial. As grandes plataformas também entenderam o poder das produções locais, especialmente no Brasil, que é um mercado muito forte”, destacou, e afirmou que essa força do conteúdo com o olhar de brasilidade dá a oportunidade de buscar novas formas de monetização.
Entre esses conteúdos fortes, ele citou os grandes eventos – como as Olimpíadas, por exemplo, quando a Globo alcançou 140 milhões de brasileiros, mas também os reality shows e festivais, como o Rock in Rio. “São momentos que mexem com a sincronicidade. E a TV aberta é mais eficaz para eles, até porque o digital tem seus limites de tamanhos para lives. A chave na estratégia futura está na força do aberto, linear e dos grandes eventos”, concluiu.