Nesta sexta, 21 de março, o Studio Z, representado por J. R. Braz, diretor de criação, e Elen Chuva, produtora executiva, apresentou um estudo de caso da série "Babydino Tales" durante a programação do Lanterna Film Market, área de mercado do Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação.
O estúdio começou em 2008 trabalhando com publicidade. Até hoje, foram mais de 1 mil filmes publicitários, entre projetos institucionais, via agência ou direto com clientes, muitos deles internacionais, como a Disney. "Esses conteúdos ajudaram a financiar a empresa e desenvolver nossa tecnologia. Nesse processo, fizemos também muitos filmes com personagens, principalmente para produtos infantis, e nos divertíamos muito com eles. É um tipo de trabalho onde dava para 'pirar' mais", contou Braz. "Aos poucos, fomos percebendo como gostávamos de fazer esses projetos e surgiu a vontade de desenvolver algo nosso, original, e com mais tempo, onde pudéssemos nos dedicar de verdade nessa criação. Foi assim que começou o projeto de 'Babydino'. Teve um pouco de inspiração do nosso filho, que na época gostava muito de dinossauros e até ajudou a nomeá-los na série".
Na trama, dois irmãos, brincando de exploradores, descobrem no quintal de casa uma relíquia que os leva direto para a pré-história, onde com seus novos amigos dinossauros vivem aventuras em um mundo em transformação. "Buscamos criar dinossauros bem diferentes entre si para trazer diversidade para a série. Temos, por exemplo, um tiranossauro Rex medroso, um dinossauro grandão que não consegue entrar nos lugares e um outro que é muito mal humorado", detalhou o diretor.
Trajetória da série
Com a expertise conquistada a partir dos anos de experiência com a publicidade, o estúdio produziu os primeiros materiais – como teaser, imagens e uma bíblia – e, entre 2019 e 2020, começou a participar dos eventos de mercado, que eles já sabiam serem muito importantes para o setor. "Pegamos nossa verba de publicidade e, com nossos próprios recursos, investimos nisso. A publicidade nos possibilitou trabalhar com entretenimento. Hoje, temos oito séries em desenvolvimento. Se fôssemos esperar editais e financiamento público, levaríamos anos para produzir", analisou.
No Rio2C, o projeto foi escolhido para ser apresentado para 14 players, sendo 12 internacionais. "Naquela época, o mercado estava propício para conteúdo infantil", lembra Braz. No Licensing Con Latam, a apresentação foi no formato stage pitching e o projeto foi escolhido como o melhor do evento. O público era majoritariamente formado por pessoas de merchandising, de empresas como fabricantes de brinquedos. "Essa é uma área que normalmente entendemos como parte final do projeto, mas descobrimos que, fora do Brasil, é comum aparecer logo no início. Eles acreditam que, se vai entrar no ar, vai vender. É outro pensamento", explicou. E, em 2020, o casal participou online de uma feira de conteúdo de Xangai, na China, novamente para apresentar o projeto para canais.
Em todos esses eventos eles receberam propostas de produção. No Licensing Con, um player propôs uma sociedade, mas queria fazer tudo na Coreia do Sul. "O que nos motivou a produzir entretenimento foi justamente podermos criar coisas nossas e nos divertir com isso. Nesse modelo, estaríamos deixando a parte boa com outras pessoas", refletiu Braz. Chuva completou: "Nosso intuito sempre foi produzir no Brasil tudo o que pudéssemos. Nunca foi uma intenção mandar para fora, por isso recusamos a proposta".
A possibilidade de acordo mais interessante veio da iQIYI, plataforma chinesa de streaming. "Eles receberam nosso conteúdo e quiseram conversar. Foram seis meses de negociação até fecharmos um contrato. Tentamos explicar o funcionamento da Ancine, os editais, e foi muito complicado. Eles não entendiam nossa bagunça", brincou Braz. No fim, o projeto acabou virando um original da empresa chinesa, que financiou 100% do custo da produção. "Depois de meses e muitas versões e formatos de contrato – e já com a Nickelodeon junto, que exibirá a série – chegamos a um consenso legal e amigável. Foi um caminho ótimo, e conseguimos então viabilizar a produção", contou Chuva.vv
No entanto, aceitar transformar o conteúdo no modelo chamado de "original" significaria abrir mão dos direitos patrimoniais da propriedade intelectual. "Vendemos os direitos, mas conseguimos manter o controle de tudo e fazer da série realmente uma obra brasileira", garantiu o diretor. Um problema foi que, na China, já existia uma marca chamada "Babydino". O nome estava registrado no Brasil mas, como a ideia era comercializar produtos, precisava também dessa licença por parte deles. A série passou a se chamar "Babydino Tales" – o que não seria a primeira escolha do Studio Z justamente pelo uso da palavra em inglês, mas no fim eles acabaram cedendo.
Com sua entrada no projeto, a China fez algumas poucas exigências – como incluir na série uma personagem chinesa. Como a equipe do Brasil já tinha as sinopses e os roteiros, sugeriu colocar essa nova personagem em apenas seis episódios – de um total de 26 – e eles aceitaram. Da parte dos brasileiros, as exigências foram que as vozes originais fossem em português, assim como os nomes dos personagens. "A gente esperava até mais resistência em algumas coisas. Mas, no fim, foram necessárias poucas mudanças e adaptações para que a série pudesse ser exibida na China – mesmo com todos os seus critérios de avaliação e cuidado. O processo de produção, após um alinhamento inicial, foi bem tranquilo. Tínhamos total liberdade criativa, mas ter um acompanhamento de perto era muito importante para nós, por isso semanalmente fazíamos reuniões", lembrou a produtora. Braz acrescentou que as mudanças de roteiro solicitadas foram mais por conta de questões culturais, e não relacionadas a qualquer tipo de censura.
Licenciamento como estratégia prévia
Chuva comentou ainda que, na hora que o projeto começa a ser produzido, as coisas precisam andar, porque os chineses são bastante rigorosos com os prazos. O cronograma inicialmente estabelecido foi diminuindo e o projeto foi finalizado até antes do previsto. O diretor revelou que o time da China pressionou bastante – especialmente por conta desses contratos de produtos licenciados que eles fecham logo no início do processo. Essa parte, inclusive, foi um sucesso: a série ganhou um espaço lúdico dentro de um shopping em Pequim, na China, quartos de hotel temáticos e uma série de outros produtos. "Eles levam muito a sério esse desdobramento. Aqui, os produtores de brinquedo sempre preferem esperar a série fazer sucesso para daí pensar em desenvolver um brinquedo. Lá, quando a série saiu, já tinha boneco, parque, hotel".
Nesse sentido, Chuva refletiu: "Daí a importância dos investimentos públicos analisarem projetos de animação de forma separada dos demais projetos audiovisuais. Porque precisa ter essa visão estratégica. Aqui, esperam fazer sucesso. Lá, o pensamento é totalmente diferente. O lançamento da série é concomitante ao lançamento dos produtos e das ações de licenciamento".
Mudança de foco e novos projetos
Com o sucesso de "Babydino Tales", o Studio Z se fortaleceu no entretenimento e, hoje, tem como foco as produções próprias ou, então, em modelos de coprodução. Ainda existe uma área de publicidade dentro do estúdio, mas houve essa total mudança de prioridades. No próximo mês de abril, eles estrearão "Abá e Sua Banda" – filme que fecha esta edição do Festival Lanterna Mágica – nos cinemas. O filme é uma produção da Fraiha Produções, com coprodução da Globo Filmes, Gloob e Prefeitura do Rio, por meio da RioFilme. O diretor Humberto Avelar, Alan Camilo, o Studio Z e Rosane Svartman assinam como produtores associados. "Nesse caso, prestamos um serviço, mas foi uma parceria muito boa de criação", afirmou Chuva.
Entre as produções e os lançamentos mais recentes estão "Turminha Paraíso", série que já soma 1 bilhão de visualizações no YouTube e está disponível na Netflix, e "Pompom Power", que será disponibilizada também no YouTube. Em desenvolvimento, são cerca de oito projetos. "Em quase todos eles bancamos parte do financiamento e seguimos participando dos eventos internacionais através de verba. Trabalhamos com diferentes composições, nessa matemática maluca para produzir", finalizou Braz.