Para Cao Quintas, da Latina Estúdio, conceito transmídia ainda é pouco explorado no Brasil e no mundo

Cao Quintas é produtor e sócio da Latina Estúdio, e assina a produção de obras como "Turma da Mônica – Laços", "Jorginho Guinle – Só Se Vive Uma Vez" e "Adoniran – Meu nome é João Rubinato", coprodução com o Canal Brasil exibida na 23ª edição do festival É Tudo Verdade. Na última terça, 20, ele participou de um painel no Gramado Film Market, braço do Festival de Cinema de Gramado voltado ao mercado, onde debateu com o público presente o conceito de transmídia e explicou, com base em suas experiências, como ele funciona no ambiente do audiovisual.

O conceito surgiu nos anos 60, com McLuhan, que defendia a ideia de que "o meio é a mensagem" – "isso quer dizer que, no fundo, a gente, como comunicador, tem que moldar o que queremos dizer para a audiência de acordo com o meio" – traduz Quintas. Para destrinchar o conceito na prática, ele fez uso do case do Estúdio com o artista Adoniran Barbosa. "Nossa ideia inicial era trabalhar a figura dele em diferentes meios, para diferentes públicos, de diferentes maneiras. Começamos a construir essa narrativa em 2015, criando conteúdos específicos para cada mídia. O que aconteceu foi o surgimento de novas oportunidades para divulgar essa história para além dos espaços que tínhamos pensado inicialmente. Ao longo do processo, criamos engajamento e audiência.", afirma.

O primeiro produto relacionado ao Adoniran criado pela Latina foi um curta-metragem que estreou justamente no Festival de Cinema de Gramado no ano de 2015. "Nele, a ideia era transformar o artista em personagem de suas músicas.", conta Caio. "O filme ganhou diversos festivais e, mais tarde, virou um longa. Identificamos que não existia nenhum documentário sobre ele e, então, começamos uma série de pesquisas em gravadoras e também com conhecidos de Adoniran. Nesse processo, descobrimos 14 músicas inéditas dele, que estavam com um amigo, e que tiveram a autoria reconhecida por parte de sua filha. Aí nasceu um novo produto. Levamos as canções para um estúdio, chamamos artistas contemporâneos, como Ney Matogrosso, Criolo e Liniker para interpretá-las, e transformamos o material em CD e DVD. O conteúdo, em seguida, virou um programa de TV exibido pelo Canal Brasil e, graças aos arranjos mais modernos das músicas, fez com que o nome de Adoniram Barbosa atingisse novos públicos, especialmente os jovens.", descreveu Quintas.

O produtor explicou ainda que essa trajetória acabou gerando mídia espontânea para os produtos e fez com que veículos se interessassem pela história. "Cada conteúdo criou um canal de financiamento para trabalhar os próximos e, assim, criamos uma cadeira.", analisou. Um exemplo de oportunidade que surgiu e acabou pegando o estúdio de surpresa foi o convite da Brahma para que eles fizessem ativações relacionadas ao Adoniran no camarote da marca no Carnaval de 2017. Outros produtos oriundos dessa cadeia foram exposições – uma que ficou em cartaz no Farol Santander, em São Paulo, por sete meses, e aumentou em 55% o fluxo de pessoas no local e uma outra, itinerante – durante cinco meses, quatro mostras simultâneas ficaram expostas nas estações de metrô de São Paulo.

Os planos não pararam por aí. Há ainda um documentário biográfico, que abriu a última edição do festival É Tudo Verdade e que estreia comercialmente no segundo semestre deste ano, e um longa de ficção, em fase de desenvolvimento. Por fim, um museu fixo em homenagem ao artista também está entre os projetos da Latina, além de novas exposições itinerantes. Ao todo, o trabalho com o Adoniran já dura quatro anos – começou em 2015 e segue rendendo frutos. Para realizar todas as ações, a empresa licenciou os direitos da imagem do músico junto da família dele para cada um dos produtos e garantiu ainda o licenciamento de acervo do artista para ser usado à vontade durante determinado período.

"O conceito de transmídia ainda é explorado de uma maneira precária no Brasil e no mundo. Quando colocamos diversas linguagens para conversarem entre si, o ganho é muito grande. Mesmo que seja só para divulgar um filme.", declarou Quintas. Para exemplificar esse ponto, de utilizar ações transmídia para divulgar um filme, o produtor fala do recente lançamento, "Turma da Mônica – Laços", primeiro longa-metragem em live-action dos personagens de Mauricio de Sousa que estreou no último mês: "Usamos a Comic Con como plataforma de divulgação. Fizemos tudo por lá: anunciamos o filme, divulgamos quem seria o diretor, levamos o elenco para realizar sua primeira ação pública… Foi uma forma de aproveitar a audiência que o autor já tinha e atrair as atenções para a propriedade.". Para ele, a lição é "trabalhar diferentes veículos com linguagens específicas para ampliar o alcance e variar as audiências atingidas" e lembrar que "todo projeto audiovisual já deve nascer com desdobramentos em vista.".

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