As Olimpíadas acabaram há pouco tempo e o mercado de mídia e entretenimento celebra os bons resultados das transmissões. Nesta quarta-feira, 21 de agosto, profissionais da Globo e da Claro participaram de um painel no congresso SET Expo 2024 e compartilharam um pouco da recente experiência, destacando os principais desafios, aprendizados e o que fica de legado em termos de tecnologia.
Para Paris 2024, a Claro contou com transmissões em quatro canais do sportv (os três que já existiam e mais um quarto, lançado exclusivamente para as Olimpíadas); um canal com transmissão acessível; 44 sinais extras com transmissão de todos os eventos (canais sem produção, apenas com som ambiente, sem narração); um canal mosaico, com transmissão simultânea dos quatro canais sportv, no qual o espectador seleciona o áudio que quer e, com o ‘OK’ do controle remoto, vai direto para um dos canais; um dos canais sportv com transmissão em 4K; e um canal de aplicação interativa com detalhes dos eventos, como agenda do dia e quadro de medalhas.
A Claro criou ainda uma página exclusiva das Olimpíadas na nova interface da operadora, exibindo todos os canais que estavam com conteúdos relacionados à competição. A integração com a Alexa, funcionalidade que já possuem há algum tempo, também esteve presente – o usuário podia dizer, por exemplo, “Alexa, abrir Olimpíadas 2024” e ir direto para os conteúdos. Outra possibilidade foi o Replay TV, que permitia voltar até sete dias na programação.
A lista de “big numbers” é extensa. Alguns deles são: +20% de caixas ligadas (STB) no período dos jogos; seis em cada dez caixas ligadas estavam assistindo às Olimpíadas; +15% na quantidade total de horas consumidas no período das Olimpíadas, somando STB e App; 1,4 milhões de acessos ao aplicativo interativo das Olimpíadas; 4 milhões de espectadores em média por evento; 4 mil caixas que estavam desligadas voltaram a apresentar audiência; 200 milhões de horas totais consumidas nos canais esportivos; e 7,4 milhões de horas totais consumidas ao vivo pelo app Claro tv+. As informações foram apresentadas por Itamar Silva de Andrade, gerente de engenharia de vídeo da Claro.
Globo: desafio dos multi-devices e cross entre janelas
A Globo, por sua vez, também celebra o trabalho executado. Daniel Monteiro, head de desenvolvimento de produto e tecnologia do Globoplay, ressaltou que o Globoplay é extremamente multiplataforma e permite diferentes possibilidades de consumo – via browser pelo celular, desktop, mobile e Smart TVs, por exemplo. Por isso, um dos principais desafios era pensar em experiências para todos esses devices, considerando as variadas formas de interação entre humano e máquina em cada um desses casos, como controle remoto, touch ou mouse. E para além de existirem todos esses dispositivos, os consumidores também passeiam entre eles – segundo Monteiro, 45% dos usuários que realizam consumo em TV também realizam, no mesmo dia, consumo em mobile, o que reforça essa importância de uma atuação multi-device.
Ainda falando dos desafios, o diretor citou a transmissão ao vivo, que é muito particular e traz para a plataforma picos enormes de acesso. Só nos jogos de Paris foram mais de mil horas de ao vivo. “São eventos que exigem preparação das infraestruturas. Precisamos criar uma operação para escalar a plataforma nos momentos que prevemos antecipadamente que serão de possível pico. Nas Olimpíadas tivemos alguns episódios”, contou. “Faz parte do nosso trabalho prever esse escalonamento quase constante e, dentro da agenda de jogos, entender quais momentos poderiam gerar rajadas”, enfatizou.
A plataforma de streaming da Globo fez algumas ações para a cobertura das Olimpíadas, como “vestir” a interface da plataforma com o tema, trazendo destaques com os principais atletas e melhores momentos, e uma nova experiência de troca de canais mais rica em imagens e em metadados, com as Olimpíadas destacadas em uma categoria exclusiva. No mobile, era possível habilitar notificações, o que estimulava o engajamento. “É papel do provedor de conteúdo informar as pessoas. Essa parte de curadoria é importante especialmente por conta do alto volume – de jogos, esportes, países, atletas”, explicou.
Passado esse “turbilhão”, o diretor elenca os principais insights obtidos. Em primeiro lugar, ele reforça o fato de serem poucos dias de evento (19 ao todo), o que dá ao canal pouca chance de errar. “Fizemos alguns ajustes logo nos primeiros dias e todas as questões apontadas foram resolvidas. É importante ter essa noção de que precisa agir rápido”, disse. Ainda nesse sentido, ele observa que muita coisa liga pela primeira vez ao mesmo tempo no primeiro dia de evento, como esses canais exclusivos. “Planejamos, fazemos testes pontuais e, de repente, tudo liga de uma vez. Por isso temos a complexidade de testar de forma mais próxima e fiel à realidade o possível”.
Em terceiro lugar, ele traz o desafio de criar fortes integrações entre broadcast e digital e revela que fica o questionamento sobre novas maneiras de conectar melhor essas duas coisas, criando para o consumidor uma experiência cross. Por fim, ele sinaliza a oportunidade que eventos como as Olimpíadas trazem para criar novidades e deixar um legado no produto, com recursos que poderão ser usados em novas competições esportivas, reality shows e outros segmentos. “Não podemos tratar os Jogos Olímpicos como um projeto, e sim como produto. O evento é muito curto, então nossa principal estratégia era deixar um legado que gere diferencial e transforme a plataforma.
Reduzir latência é prioridade
Apesar dos ganhos, os especialistas apontam a latência como principal ponto a ser aprimorado para os próximos eventos, especialmente de esporte. A indústria de streaming digital ainda tem um longo trilho para percorrer para conseguir entregar baixa latência nas transmissões.
“Na Claro, temos DTH e o cabo, mas nosso carro chefe de vendas são os serviços de streaming, box ou app, por isso estamos dedicando os esforços e voltando as atenções para essas plataformas. Nesse sentido, a latência é um grande desafio”, mencionou Andrade. O diretor contou ainda que a operadora identificou, via pesquisa, outros segmentos onde a latência é um problema para o consumidor, como reality show. “Já reclamaram de delay no ‘BBB’, ‘A Fazenda’ e, mais recentemente, no debate político. O público assiste à TV e comenta nas redes sociais, então se demora um minuto a mais para ver o que aconteceu, o assunto já passou. Por isso precisamos trabalhar nessa questão não apenas para o esporte”. Monteiro concorda. Para ele, a latência é o grande desafio para as próximas Olimpíadas, com a velocidade de transmissão no streaming o mais parecida o possível com a TV paga ou aberta.
Por fim, os diretores apontam outras expectativas e pontos de melhoria para a próxima edição dos Jogos. Monteiro fala em escalar o 4K para a maior parte da grade, fazer novas experiências com o 8K e investir em interfaces mais interativas e diferentes. Andrade completa com essa questão da qualidade de imagem e cita ainda a inteligência artificial, que pode ajudar a deixar a experiência do consumidor cada vez mais personalizada: “Com a IA, também podemos melhorar a interação com o usuário e obter ganhos do ponto de vista de infraestrutura. Ela pode ajudar na produção, complementando as transmissões com mais dados, como estatísticas em tempo real do jogo e dos atletas”.