WiFi: a nova fronteira para as operadoras

O volume de tráfego de dados móveis indoor representa 80% do total de tráfego de Internet, segundo estimativas da Arris, uma das principais fornecedoras globais de redes de banda larga e TV por assinatura. Deste total, 53% passa por redes WiFi, segundo dados apresentados no evento Executive Leadership Forum para a América Latina, organizado pela empresa esta esta semana em Miami para parceiros e clientes na região. Além disso, a percepção da qualidade dos serviços de banda larga fixa passa, invariavelmente, pela satisfação dos usuários no uso dos dispositivos dentro do ambiente doméstico, e muitas vezes outros fatores influenciam o desempenho da rede, como o tipo de construção, interferências de outras redes, qualidade dos equipamentos, configurações dos equipamentos etc. Por esta razão a Arris acredita que o desenvolvimento de redes WiFi domésticas com capacidade para absorver toda esta demanda por dados e também possibilitar novos serviços é a próxima fronteira a ser explorada pelas operadoras de telecomunicações. Para Marcos Takanohashi, VP de vendas e principal executivo da empresa para a América Latina, a transformação na forma como as pessoas consomem conteúdo, com o uso de dispositivos móveis e em locais nem sempre tradicionalmente dedicados ao consumo de vídeo, tem forçado os operadores de vídeo e banda larga a buscarem novas estratégias, e a conectividade doméstica é a uma das fronteiras mais importantes.

Uma grande aposta da empresa nesse sentido é no desenvolvimento do padrão aberto EasyMesh e de seus próprios equipamentos de varejo que adotam este padrão. Esta tecnologia permitirá o uso de tecnologias de redes WiFi de diferentes fornecedores na estruturação de redes domésticas, mas sempre de forma gerenciada e com a possibilidade de controle por parte do provedor de serviços. Segundo Hugo Ramos, CTO da Arris para a América Latina, a região tem como peculiaridade o tipo de construção com tijolos e cimento, o que dificulta enormemente o desenvolvimento de redes eficientes, que assegurem a distribuição do sinal de WiFi de maneira uniforme e com qualidade em todos os cômodos. Além disso, boa parte da populaçÃo das grandes cidades latino-americanas vivem em regiões muito densas, com a interferência de várias redes WiFi.

Hoje, a rede física das operadoras de telecom (seja por cabo ou fibra) está entregando acessos de altas velocidades, superiores a 100 Mbps, mas o acesso a esta rede está sendo demandado em todos os pontos da casa, e não apenas no gateway. Só que as redes internas de distribuição wireless não estão preparadas para isso. A Arris vê nesta conjuntura uma oportunidade para ser explorada pelas operadoras de TV paga ou telecomunicações que hoje provêem o acesso e apenas um gateway WiFi básico. "Quem tem capacidade natural de capturar essa oportunidade e ter o controle sobre essa infraestrutura doméstica é o operador", diz Ramos.

Controle

Ele indica que hoje existe uma proliferação de equipamentos para redes domésticas por WiFi, mas que não passam pelo controle da operadora. "É possível para o operador não só instalar os equipamentos e agregar valor ao seu serviço com equipamentos que de fato garantam a conectividade em toda a casa, mas que possam agregar valor através de serviços gerenciados", diz ele. Entre os serviços estão gestão de tráfego, segurança, manutenção preventiva entre outros. A Arris aposta tanto nesse segmento que ampliou seu portfólio na área de redes WiFi com a aquisição da Ruckus, empresa especializada em soluções wireless para o mercado corporativo.

A proposta da Arris é que seus clientes tradicionais (operadores de cabo e telecomunicações) passem também a utilizar a infraestrutura instalada para ampliar a cobertura WiFi pública nas cidades em que atendem, além de desenvolver o mercado de redes internas para locais de grande concentração de pessoas, como arenas esportivas, shopping, condomínios, hotéis, aeroportos e centros comerciais.

Na visão da Arris, as operadoras de cabo, por exemplo, por terem redes de fibra ao longo de grandes extensões urbanas, são candidatas naturais a serem o backhaul das redes 5G, que precisarão de uma quantidade absurdamente maior de pico, micro e small cells. Ramos vê essa oportunidade mais acentuada na América Latina, onde grande parte dos operadores de TV paga pertence a grupos com interesse também no segmento móvel.

A proposta da Arris é que o operador tenha controle completo sobre todos os ciclos da rede: conectar o cliente, extender a rede doméstica, controlar a rede e gerir os serviços que trafegam sobre ela.

Expansão da rede HFC

Para além do WiFi, a Arris também aposta que as redes de cabo tradicionais (HFC, que agregam fibra com rede de cabos coaxiais) terão ainda uma longa sobrevida, e isso acontecerá por meio de duas tecnologias: a adoção do DOCSIS 3.1 e depois DOCSIS FDX (full duplex) como padrão de dados banda larga (hoje a maior parte das operadoras de cabo trabalham com DOCSIS 3.0) e a ampliação da capacidade das redes HFC. Tipicamente, uma rede de cabo tem hoje 1 GHz de largura de banda. A expansão para redes de 1,7 GHz de capacidade já vinha sendo falada há algum tempo, mas a Arris acredita que esse limite pode ser expandido para redes de até 3 GHz nos próximos 12 anos, o que coloca as redes de cabo, teoricamente, em condições de oferecer serviços de banda larga para além dos 20 Gbps de downstream e ampliação significativa na capacidade de upstream.

A Arris não acredita que será economicamente viável levar a rede de HFC ao limite "node 0", ou seja uma rede em que cada nó esteja ligado diretamente a um conjunto de assinantes sem a necessidade de um amplificador de sinal no acesso final da rede até a residência. O custo para isso seria tão alto de alongamento da rede de fibra e troca de equipamentos que acaba saindo mais barato ampliar a capacidade da rede para além dos 1 GHz, indo até 3 GHz (e alguns especulam que esse número poderia chegar a 6 GHz). Algumas operadoras de cabo, contudo, ainda são céticas em relação a esta visão de futuro. Hoje, existe um certo consenso de que o melhor caminho é, aos poucos, migrar usuários que demandam mais capacidade da rede diretamente para o acesso por fibra. Já as novas redes estão sendo construídas, do zero, com a tecnologia apenas de fibra (GPON).

Futuro do vídeo: IP

Em relação ao futuro das tecnologias de distribuição de vídeo, a Arris vê a distribuição all IP como uma certeza mas ao mesmo tempo como um grande desafio, sobretudo considerando a imensa base legada de equipamentos tradicionais de distribuição de vídeo modulado. A empresa propõe um modelo de transição com a convivência de uma parcela da rede digital e totalmente all IP com o modelo tradicional de distribuição de canais QAM (modulação digital empregada hoje para a distribuição dos canais). (*O jornalista viajou a convite da Arris)

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