Baixo índice de conteúdo localizado é o principal desafio pro mercado brasileiro de FAST

Janaina Tadeu fala no congresso SET Expo 2024

Para Janaina Tadeu, ex-TCL e nova gerente de conteúdo e estratégia de negócios para a América Latina da LG Eletronics, o maior desafio para o mercado brasileiro de FAST é o baixo índice de conteúdo localizado. Atualmente, na indústria latino-americana, considerando principalmente Brasil e México, que são os maiores territórios do continente para esse segmento, há aproximadamente 1000 canais FAST – no entanto, cerca de 200 são canais locais, representando de 20% a no máximo 30% do total. As informações foram dadas pela executiva durante uma apresentação no congresso SET Expo nesta quinta-feira, 22 de agosto. 

"Temos uma oferta bem grande de produções de outros países disponíveis para canais FAST no Brasil, mas nem todos os conteúdos são dublados ou legendados em português. O baixo índice de conteúdo localizado interfere diretamente no interesse dos anunciantes em investirem mais nesse mercado, por isso é urgente desenvolver esse lado no Brasil, aumentando a quantidade de conteúdos brasileiros, produções locais ou até conteúdos gringos localizados, isto é, dublados ou legendados", destacou. 

Mas apesar do grande desafio, o potencial do FAST na América Latina é enorme. A base de usuários do modelo no continente está apresentando um crescimento rápido, indicando uma perspectiva de mercado promissora. Números revelam que o crescimento de usuários globais de FAST nos últimos quatro meses de 2023 foi de 24%. A região APAC foi onde o segmento mais cresceu (65%) e, na América Latina, a porcentagem foi de 35% – ou seja, está acima da média global. A perspectiva é que, até 2028, a receita do FAST no Brasil seja de US$ 438 milhões. 

FAST impulsiona mercado de streaming global

Janaina ainda trouxe dados para afirmar que o FAST é o principal impulsionador do mercado de streaming no futuro. De 2019 a 2023, ele cresceu 143% globalmente. A título de comparação, o crescimento do AVOD foi 28% e, do SVOD, 22%. O período foi marcado por um aumento expressivo do número de players entrando nesse mercado, incluindo grandes grupos de mídia e representantes de OEM (sigla de Original Equipment Manufacturer, ou Fabricante Original do Equipamento). Em 2024, no contexto mundial, já existem mais de dois mil canais FAST operando. E falando sobre os fabricantes de televisores entrando nesse jogo, a executiva foi categórica: "A empresa que não tiver sua própria oferta FAST nos aparelhos ficará em desvantagem"

O potencial do FAST fica evidente diante do fato de que os usuários de streaming estão cada vez mais migrando de conteúdo pago para conteúdo gratuito com anúncios – os dados mencionados anteriormente falam num crescimento global do AVOD de 28%, por exemplo. Além disso, em 2020, a distribuição do tempo gasto assistindo à CTV era a seguinte: 54% em SVOD e 46% em AVOD e FAST. Em 2023, a balança pendeu para o outro lado: 35% em SVOD e 65% em AVOD e FAST. "O usuário já está acostumado com a publicidade permeando o conteúdo e não fica desconfortável com ela", observou Janaina. 

No mundo, os EUA lideram a publicidade em CTV (considerando o meio como um todo, e não apenas o FAST), enquanto o Brasil é o mercado com crescimento mais rápido. A escala global de anúncio em CTV em milhões de dólares mostra valores na casa dos 24,6 em 2022 e 42,5 em 2026 nos EUA e 496 em 2022 e 1080 em 2026 no México + Brasil. "O Brasil é o mercado da vez e as empresas OEM estão de olho nesse crescimento", enfatiza a executiva. 

O FAST se desenvolveu rapidamente nos EUA. O mercado conquistou a aceitação dos usuários desde o começo e seu uso chegou a um ponto excelente. Do lado da oferta, os players agiram rapidamente, e há atualmente uma grande oferta de canais FAST e o produto está bem estabelecido. No país, 42% dos anunciantes investiram mais de US$ 25 milhões em FAST em 2023 e 84% dos que já anunciaram têm expectativa de investir mais dinheiro no segmento em 2024

Produção original e fabricantes de TV como novos players 

Por fim, outro ponto importante é a produção de conteúdo para o formato. Janaina pontua que o conteúdo no ambiente FAST começou de forma experimental, com os canais que foram surgindo colocando ali programas de acervo, coisas para as quais eles queriam dar uma sobrevida. Agora, o cenário é outro. Nos Estados Unidos já nota-se um grande investimento em produções originais e conteúdos exclusivos. No Brasil, ainda há poucas notícias de produtos nesse sentido. 

E a executiva alerta que as próprias empresas fabricantes de televisores devem seguir esse movimento. A LG Channels, nos EUA, já tem 52% de produções exclusivas ou originais para FAST. Outras grandes produtoras são a Pluto TV, que foi pioneira nesse mercado FAST e, em relação às produções originais, já soma 47%. A ViX, por sua vez, tem 45%. "Não é mais conteúdo de acervo. Hoje, estamos falando na possibilidade de movimentar uma indústria de produção exclusiva para FAST, inclusive com essas empresas de tecnologia entrando na produção de conteúdo e se colocando como novos players", afirmou. 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui