Consumo de streaming cresce na quarentena e plataformas brasileiras investem em lançamentos

A quarentena imposta pela maioria dos governos do Brasil e do mundo como forma de conter a pandemia do novo coronavírus causou, entre outras mudanças, o fechamento temporário de escolas, comércio, bares e restaurantes e diversos centros culturais, tais como cinemas, teatros e casas de shows. Ao ficar em casa, os brasileiros têm apostado nos conteúdos audiovisuais como forma de entretenimento – seja na televisão, com canais da Pay TV batendo recordes históricos e a audiência da TV por assinatura aumentando em 20% desde o início da quarentena, seja nas plataformas de streaming, que têm feito esforços para aumentar as opções de seus catálogos e flexibilizar preços no contexto da pandemia.

A Plataforma Gente, projeto do Grupo Globo focado em análises de mercado, consumo e demais temas relevantes na atualidade, realizou um estudo chamado "O digital em resposta à quarentena" que analisa, entre outros tópicos, esse novo comportamento do consumidor de audiovisual no país. A pesquisa apresenta um dado interessante: de acordo com a Bloomberg, o uso de serviços de streaming aumentou 20% globalmente neste período de isolamento social. Ciente deste cenário, plataformas de streaming começaram a liberar conteúdos gratuitamente. É o caso do Globoplay, que disponibiliza, desde 18 de março, séries infantis, produções originais e temporadas de novelas já exibidas pela Rede Globo. A comunicação da plataforma afirmou a este noticiário: "O foco tem sido disponibilizar informação e entretenimento de alta qualidade para as pessoas que estão em casa, tanto para assinantes quanto para não assinantes. Continuamos em busca de novas possibilidades visando sempre a atender aos desejos e anseios do público brasileiro". Além do entretenimento, o Globoplay também reúne especiais jornalísticos, incluindo todo o conteúdo da Globo e do portal G1. Na plataforma, o público encontra vídeos sobre a crise do coronavírus, pílulas de informações e reportagens dos telejornais e programas da emissora. "Outra medida que tomamos foi limitar a entrega de dados após percebermos um grande crescimento nas curvas de consumo da Internet brasileira. Com essa atitude proativa, busca-se evitar um possível colapso da infraestrutura de troca de tráfego público e também garantir uma experiência de qualidade na nossa plataforma", explica o Grupo, que não deixou de fazer estreias de inéditos neste período: é o caso da original "Todas as Mulheres do Mundo", lançada nesta quinta-feira, 23 de abril. O Globoplay conta ainda que a segunda temporada de "Aruanas", também um produto original, já estava com as gravações em andamento e, com a quarentena, as mesmas foram interrompidas.

O Canal Off, uma das marcas pagas do Grupo Globo, está promovendo, em todas as suas plataformas digitais, conteúdos destinados ao bem-estar, tranquilidade e hábitos saudáveis para as pessoas que estão em casa, com o objetivo de minimizar os impactos do isolamento. É o caso do "Respira e se Inspira", uma série de vídeos-aulas exclusivas de ioga e meditação comandadas pela professora de Hata Yoga Milla Monteiro. "Já estamos com muitas notícias negativas diariamente, então é importante mostrarmos conteúdos que reforcem um lado positivo. E isso o espectador vai encontrar no Canal Off. O 'Respira e Se Inspira', por exemplo, foi pensado para o digital. Mas a procura foi tanta que levamos também para o linear, além dele estar disponível nas plataformas on demand das operadoras. É uma forma ainda de incentivar que as pessoas cuidem da mente, algo fundamental para esse momento que estamos vivendo", comenta, em entrevista exclusiva, Leonardo Campos, gerente de conteúdo do Canal Off. "O que temos acompanhado é um crescimento das plataformas de streaming de forma geral em todo o mundo, e isso se reflete no mercado. Tivemos resultados positivos no YouTube e o aplicativo também está com um consumo superior à média. Não são todos os lares que possuem mais do que uma TV, então o OFF Play também é uma forma de atender o nosso espectador neste período, acrescenta Campos.

"O audiovisual, de uma forma mais ampla, é o maior parceiro desta quarentena – em todas as frentes, não só no streaming", declara André Saddy, diretor-geral do Canal Brasil. A marca tem adotado algumas ações para disponibilizar diversos conteúdos no streaming – é o caso de uma série de clássicos do cinema brasileiro, como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Os Fuzis", "Terra em Transe", "O Beijo no Asfalto" e "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", que podem ser acessados no on demand das operadoras de TV por assinatura e no Canal Brasil Play inclusive por não assinantes da plataforma. Segundo Saddy, a ideia é investir ainda em shows – no momento, o canal trabalha na curadoria de apresentações que gravou ao longo dos últimos anos para oferecer mais essa opção ao público no streaming. Outra aposta são as lives no ambiente digital: diariamente, atores e atrizes nacionais batem um papo com a jornalista, roteirista, diretora e crítica Simone Zuccolotto sobre seus trabalhos e demais assuntos relacionados ao mercado de cinema. Entre os nomes que já participaram, estão Juliano Cazarré, Lázaro Ramos, Alice Braga e Carol Castro. Porém, o grande destaque é o lançamento de "Aeroporto Central", de Karim Aïnouz, uma coprodução Canal Brasil e Mar Filmes que tinha seu lançamento previsto para os cinemas mas, por conta da pandemia, será liberada diretamente nas plataformas (Now, Vivo Play, Oi Play, iTunes, Google+, Filme Filme e Looke). O documentário estreou mundialmente na Mostra Panorama do 68º Festival de Berlim onde conquistou o prêmio da Anistia Internacional. Depois disso, foi exibido em mais de 30 festivais internacionais. "Mesmo na quarentena, o Canal Brasil segue exercendo seu papel fundamental de levar os filmes brasileiros para o público. Não é só trabalhar acervo, mas também continuar trazendo novidades", conclui Saddy.

A plataforma brasileira Looke, que permite o streaming de filmes e séries sob demanda e disponibiliza ainda títulos para locação ou compra, já sente o aumento do consumo em diversas frentes: número de assinaturas, número de transações e no acesso de forma geral. "Durante os finais de semana, o crescimento chega a ser de 700% e durante a semana, 350%.  Além do motivo óbvio de as pessoas passarem mais tempo em casa, também creditamos este crescimento a uma campanha de marketing diferenciada que programamos e entrou em vigor meados de março, um pouco antes das outras plataformas", conta Marcelo Spinassé, fundador do Looke, com exclusividade para TELA VIVA. "Pessoas que nunca antes haviam utilizado este tipo se serviço começaram a utilizar, e as que já utilizavam aumentaram o tempo de permanência na plataforma. Mesmo com o retorno à normalidade, existe o hábito que fica, e as pessoas continuarão a assistir mais conteúdo online por streaming", aposta. Para ajudar o público que está em casa, o Looke tornou alguns conteúdos da plataforma gratuitos por um período e, outros, cujo lançamento ocorreu já durante a quarentena, já estrearam sem custo – e assim permanecerão. Não houve mudanças de preço de assinatura, mas a plataforma tem investido em diversas ações promocionais diretas no serviço. "Como o desconto de dez reais na assinatura do Looke ou por meio de parceiros, como a rádio Mix, dando cupom de desconto na assinatura do Video Club ou 30 dias grátis", conta Spinassé. Apesar do Looke não ter tido problema no cronograma de estreias previstas, o executivo queixa-se de uma questão que já tem atrapalhado diversos canais de TV e plataformas: a paralisação das empresas de dublagem na quarentena. "Temos muitos títulos dependentes de dublagem e as dubladoras estão todas fechadas. A situação perdurando, teremos ou que postergar os lançamentos ou optar por somente legendar alguns títulos, pois temos ferramentas que nos possibilitam fazer as legendas remotamente", afirma.

O Now, plataforma de VoD da Claro, contou com diversos lançamentos após o início do isolamento social – muitos deles tiveram sua estreia antecipada pelos próprios estúdios, como "Frozen 2", "Minha Mãe é uma Peça 3", "Aves de Rapina", "Jojo Rabbit", "Bloodshot" e "Sonic". Entre as ações especificas para o período, o serviço investiu em mais canais, com a abertura de sinal desde o dia 14 de março, e conteúdo de interesse. "Além disso, os canais de notícias tiveram seu sinal aberto e disponível de forma gratuita e universal no período da crise, inclusive para clientes que não possuem TV por assinatura, utilizando-se de plataforma de streaming da operadora. Também foi disponibilizada de forma gratuita para os clientes da operadora uma seleção de conteúdos jornalísticos e documentais, sem ficção, sobre o coronavírus. Com o intuito de oferecer informações confiáveis sobre a pandemia, a Claro conta com uma pasta exclusiva no Now com programas produzidos pela GloboNews, Discovery Channel e Philos", cita Fábio Nahoum, diretor de marketing de produtos, combos e ofertas da Claro. Nahoum explica ainda que a programação de filmes está sofrendo alterações a todo momento, pois os estúdios e programadoras estão ajustando a grade em função da situação. "A janela de exibição depende da disponibilidade de conteúdo dos estúdios. Se a produção atrasou no cinema, deve atrasar um pouco mais para entrar no Now", pontua.

Novidades no mercado

A quarentena impulsionou lançamentos no mercado de streaming nacional. É o caso da plataforma #CulturaEmCasa, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, que estreou na última segunda-feira, 20 de abril. O serviço reúne conteúdos inéditos das instituições da Secretaria como a OSESP, a Jazz Sinfônica, a Pinacoteca, o Museu da Imagem e do Som, o Museu do Futebol, a São Paulo Companhia de Dança, o Projeto Guri, o Theatro São Pedro e o Teatro Sérgio Cardoso. Aos poucos, ela acrescentará ainda conteúdos de outras instituições culturais e de produtores independentes ao catálogo. Além do espaço para conteúdos próprios, a plataforma fará o licenciamento de projetos de produtores culturais de todo o Estado, de forma a atuar como instrumento de geração de renda para artistas, técnicos, produtores e profissionais da cultura de forma geral, que são parte do setor que foi o primeiro a ser afetado pela pandemia. Outros conteúdos em destaque são as lives com artistas da música nacional, parte do chamado Festival Cultura em Casa, que teve início na terça, 21, e o Intensivão Cultura em Casa, com aulas sobre diferentes ofícios nos campos da cultura e da criatividade a partir da próxima segunda, 27. 

Um serviço que não é novo mas que durante a quarentena tornou-se aberto e gratuito é o Petra Belas Artes à La Carte. O Belas Artes, que desde maio de 2019 é patrocinado pela cerveja Petra, do Grupo Petrópolis, é o primeiro cinema nacional a ter um streaming de filmes. São filmes nacionais e internacionais divididos em categorias divertidas, como "Hahaha", "Se você nunca viu um filme cult comece por aqui" e "Prepare os lenços", entre outras. Com o cinema físico fechado, abrir a plataforma foi a solução encontrada pelo grupo para o período de isolamento social. A Spcine seguiu o mesmo caminho: a empresa de cinema e audiovisual de São Paulo liberou todo o catálogo da Spcine Play para todo o país, incluindo filmes – com destaque para aqueles que foram exibidos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – e séries documentais.

Por fim, a Filme Filme é um exemplo de plataforma que também não é exatamente nova no mercado, e sim recém-lançada. Funcionando desde março, o serviço traz opções de filmes nacionais e internacionais com curadoria que muda toda a semana. O foco são títulos premiados e de festivais. Durante a quarentena, a plataforma dos sócios da Pagu Pictures Bruno Beauchamp, Ilda Santiago e Mayra Auad incluiu uma nova categoria ao lado das três já fixas (Filmes de festivais, Documentários e Populares): curtas-metragens, que é inclusive aberta a jovens realizadores que desejam ter suas produções exibidas ali.

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