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Para os produtores do Centro-Oeste, distribuição é um dos principais gargalos 

(Foto: Mayara Varalho)

Nesta terça-feira, dia 22 de outubro, teve início a 8ª edição do Mercado SAPI, o mercado audiovisual do Centro-Oeste, que ocupa o Hub Goiás, em Goiânia, até o dia 25. No primeiro debate do dia, que teve como tema “Fomento e Políticas Públicas: o presente e o futuro do audiovisual independente” e contou com representantes do governo, instituições e associações representativas de produtores independentes, todos da região Centro-Oeste, ficou evidente que, apesar das demandas serem diversas – como regulação do VoD, desconcentração de recursos e estruturação de uma film commission local, entre muitas outras – destaca-se a necessidade de fazer com que os conteúdos produzidos em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal sejam mais difundidos – tanto dentro dos próprios estados quanto nacionalmente. A distribuição é o grande gargalo, segundo os participantes da mesa

O desafio ficou ainda maior após o boom de produções audiovisuais que as leis complementares, como a Aldir Blanc e a Paulo Gustavo, proporcionaram. De acordo com o Painel Geral de Dados da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), em 2023, os valores recebidos por estados, DF e municípios somaram mais de R$ 2,98 bilhões. Entre os estados que mais avançaram na aplicação dos recursos estão Paraíba, Goiás, Acre, Distrito Federal e Tocantins. São dois representantes da região Centro-Oeste na lista, e o fato do restante da seleção dos estados que mais avançaram nesse sentido serem das regiões Norte e Nordeste deixa ainda mais claro como essas políticas foram importantes especialmente para os territórios fora do eixo Rio-São Paulo. 

Gabriel Bastos, gerente de Fomento ao Audiovisual e Salas de Cinema da Secult de Goiás, garante que uma das prioridades é a abertura de salas de cinema e o fortalecimento dos cineclubes. Ainda com esse objetivo, ele anunciou a criação de uma plataforma de streaming própria da Secult – onde serão disponibilizados, por exemplo, os filmes do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, de Goiás, não somente para que o público possa assistir, mas também para otimizar os processos de inscrições e votações. Keiko Okamura, Secretária Adjunta da Cultura do estado de Mato Grosso e produtora audiovisual, concorda que trata-se de um problema urgente. “Temos o desafio de pensar no audiovisual para além da produção, olhando para essa dificuldade de distribuição. Temos poucas salas de cinema, especialmente no interior do estado, e ainda poucos festivais. Não conseguimos levar para o próprio estado as produções que temos. Acessamos pouco as distribuidoras. Temos filmes premiados e participamos de eventos, mas ainda não o suficiente. É uma difusão tímida. Temos uma produção potente de audiovisual indígena que o próprio mato-grossense desconhece”, alertou. Nesse caminho, ela também citou o cineclubismo. “Queremos fortalecer e avançar numa próxima etapa de um projeto que seria algo parecido com uma biblioteca-contêiner, mas para exibição de filmes. E, para isso, esperamos contar com o co-investimento dos municípios”. Já Lidiana Reis, curadora e produtora do Mercado SAPI e idealizadora do Prêmio CORA, lembrou que a Ancine ficou sete anos sem editais específicos para a distribuição. Esse retorno só foi anunciado recentemente. “É importante que os recursos sejam pensados para que os filmes, além de serem produzidos, sejam vistos. É a hora de pensarmos nisso”, pontuou. 

Para Cibele Amaral, cineasta e uma das diretoras da CONNE – Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste, o contexto atual, no qual o setor volta suas atenções para o debate em torno da regulamentação do VoD, é válido também para “levantar a bola” para o cinema nacional. “A campanha de impacto que faremos pela aprovação do PL 8.889/2017 foca no fortalecimento da produção audiovisual brasileira. E isso também passa por incentivar as pessoas a irem para as salas de cinema assistirem a filmes nacionais”, comentou. Segundo Amaral, o modelo que a Ancine trouxe para o fomento da distribuição anteriormente concentrou o recurso na mão das distribuidoras. “E elas são poucas. Não deram conta de fazer essa campanha de lançamento dos filmes. Investiram recursos de publicidade em poucos filmes para fazer com que eles de fato causassem impacto”. 

A diretora do CONNE destaca o fato de que, hoje, a produção audiovisual disputa as atenções da audiência não só com produções norte-americanas nos cinemas, mas também com as plataformas de streaming, o TikTok e a pirataria: “O Estado e a Ancine precisam olhar pra isso. São urgentes os mecanismos de controle de pirataria e a regulação das plataformas, porque a sala de cinema está disputando com elas. As pessoas pensam ‘não preciso ver no cinema, já já estreia no streaming’. Precisamos de programas de incentivo para que o público vá ao cinema. Estamos pensando estratégias. Oferecer outro ingresso, transporte, alimentação… Temos que levar o público de volta. Em outros países, esse público já voltou”. Amaral ainda defende que a cota de tela olhe para a regionalização. “Ficamos sempre nesse lugar de produzir e não saber se o filme vai circular. Com certeza existe público para todos os filmes, mas esse encontro não acontece. As pessoas que poderiam se interessar nem ficam sabendo que o filme existe”, lamentou. 

Por fim, o secretário Bastos alertou que, na época da divisão de recursos da Lei Aldir Blanc, a demanda foi pequena em relação à distribuição, e por isso afirmou: “O setor precisa trazer essa demanda para que possamos provocar as demais gerências. Levar as propostas para o Programa Goyazes, por exemplo, e para o próprio PNAB (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura). As nossas portas estão sempre abertas. E teremos ainda mais produções a partir dos recursos dessas leis, então precisamos cuidar da distribuição”. 

 

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