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Segunda temporada de “Mila no Multiverso” foi rodada no Tocantins e deixou quase R$ 1,3 milhão no estado

Raquel Gusson e Tiago Mello, da Boutique Filmes (Foto: Mayara Varalho)

A Boutique Filmes é uma produtora audiovisual com mais de dez anos de trajetória. Até hoje, foram mais de 50 projetos – entre os destaques, “3%”, da Netflix, que foi a primeira série brasileira para o streaming; “Rota 66 – A Polícia que Mata”, para o Globoplay; “PCC – Poder Secreto”, para a Max; e muitos outros. Em novembro, eles lançarão “Sutura”, thriller médico produzido com a Spiral International com licenciamento para o Prime Video. Nesta quarta-feira, 23 de outubro, no Mercado SAPI, em Goiânia, Tiago Mello, produtor executivo e sócio da Boutique, e Raquel Gusson, produtora de desenvolvimento, falaram sobre um outro projeto importante: “Mila no Multiverso”, a primeira produção de ficção científica nacional do Disney+, que estreou sua primeira temporada em 2023 e a segunda em julho deste ano. Dirigida por Julia Jordão e Jéssica Queiroz, a série tem como chefes de roteiro Cássio Koshikumo e Janaina Tokitaka e Tiago Mello como produtor executivo. 

“A Boutique sempre acreditou muito em histórias que impactassem de alguma maneira e buscou criar, em parceria com os players, propriedades intelectuais brasileiras fortes. Já há alguns anos, vivemos em um cenário de polarização, e a partir disso comecei a pensar em uma série para crianças que estimulasse as pessoas a verem as coisas a partir de diferentes pontos de vista e serem um pouco mais empáticas umas com as outras. Pensei na adolescência, que é esse período em que firmamos grupos, e o que nos leva a sermos tão fixos em quem gostamos ou o porquê não gostamos de outras pessoas. Então cheguei nessa ideia de sinopse onde uma menina fosse transportada para um outro universo, onde ela não fosse amiga de quem acha que é e onde as coisas são diferentes de como ela tinha construído. ‘Mila no Multiverso’ foi desenvolvida a partir desse conceito”, contou Mello. 

A trama conta a história de Mila (Laura Luz), que em seu 16º aniversário, descobre um dispositivo que pode levá-la para visitar universos paralelos à procura de sua mãe, Elis (Malu Mader). Logo, Mila percebe que este sumiço é só o começo de sua história, já que Elis, ao descobrir a existência de múltiplos universos, passa a ser perseguida por um grupo misterioso chamado “Os Operadores”. Mila vai precisar se adaptar rapidamente aos desafios e com a ajuda de seus amigos Juliana (Yuki Sugimoto), Vinícius (João Victor) e Pierre (Dani Flomin) irá em busca da sua mãe, vivendo assim uma aventura na exploração do vasto multiverso.

O produtor confessou que, inicialmente, eles não sabiam o que ia acontecer numa eventual segunda temporada – a primeira acaba com um possível gancho, com a protagonista chegando num novo universo, mas os desdobramentos ainda não estavam definidos. Mas a partir do ‘green light’, estruturaram esse novo universo onde a personagem estaria e entenderam que, no caso de novas temporadas, eles poderiam seguir nessa premissa, de cada uma apresentar um lugar inédito. A segunda leva de episódios trouxe um cenário mais próximo da natureza. “Queríamos um lugar que fosse árido, mas não deserto, porque muitas séries estrangeiras já exploraram isso. Pesquisamos locações em diferentes estados – até que encontramos Serras Gerais, no Tocantins. A ideia era aproveitar as paisagens brasileiras para uma produção de ficção científica – coisa que não vimos muito no audiovisual”, disse o produtor. E, para além dos cenários, ele reforçou que o Brasil deve produzir ficção científica: “É um gênero que nós gostamos e consumimos muito. Temos que ter o direito de fazer também – e colocar nessas histórias coisas da nossa realidade. No Brasil, existe uma diferença muito grande entre o que a gente produz e o que a gente é. Nós merecemos mais, poderíamos mais”. 

Impacto da produção no Tocantins  

As externas da série, então, foram gravadas nas Serras Gerais e também no Jalapão. Em paralelo, a Boutique construiu 2 mil m² de estúdio em São Paulo para compor os cenários – estes, criados usando referências do que encontraram no Tocantins, como os desenhos das vegetações locais. Na primeira temporada, foram 750 m² construídos. Mello compartilhou alguns números interessantes que evidenciam o impacto que uma produção audiovisual pode ter no local onde é rodada. De diárias de filmagem mesmo, foram oito em Serras Gerais, mas algumas pessoas chegaram dias antes para trabalhar na pré-produção. De um total de 552 pessoas da equipe de filmagens, 102 foram para o estado. Foram gastos R$ 30 mil em custos extras, R$ 268 mil em passagens aéreas e R$ 180 mil em transporte terrestre. Com essas oito diárias, a produção ocupou 70 quartos de hotel e gastou R$ 143 mil em hospedagem. Além disso, foram mais de R$ 40 mil em catering, além dos aluguéis de equipamentos e dos gastos indiretos, uma vez que nos períodos de folga as pessoas podiam passear pelos pontos turísticos. O custo total da produção no Tocantins foi de quase 1,3 milhão de reais. O processo contou com uma coprodutora local, a Tocantins Filmes, da produtora Kécia Ferreira, que encabeçou o trabalho. “No final, o prefeito veio falar com a gente e disse que não imaginava o tamanho do impacto que o audiovisual poderia causar. Destaquei que se tratava de um negócio econômico, que gera empregos e traz dinheiro”, lembrou Mello. 

Os caminhos do projeto  

O que muita gente não sabe é que “Mila no Multiverso” seria originalmente um projeto da Netflix – o streaming já tinha comprado o projeto e financiado três meses de desenvolvimento. Mas, aí, a área infantil da plataforma no Brasil foi fechada e, as produções, interrompidas. “Melhoramos o projeto e levamos para a Disney, que gostou. É curioso ver como os projetos tomam rumos que, às vezes, nós não esperávamos”, observou o produtor. Ele sabia que a série, do ponto de vista de gênero, da temática e da diversidade que trazia, seria difícil de vender para os players. Mas a Disney se interessou justamente por essas características. “Isso não é tão fácil no cenário brasileiro ainda, principalmente num produto para crianças”, disse. Mello avalia que a série foi bem, mas acredita que faltou um pouco mais de promoção. Outro problema foi a questão do idioma – ela não teve dublagem em outras línguas, o que prejudicou seu consumo em outros territórios. E a dublagem é importante especialmente nos conteúdos para o público kids. 

Raquel Gusson, produtora de desenvolvimento, acrescentou: “O projeto tem tudo a ver com a Disney. Além do fator diversidade, que eles já estavam buscando – e é muito interessante quando um player compra isso -, nós temos essa protagonista que é uma heroína Disney clássica. Ela ama a família, é uma boa amiga, é corajosa, luta por igualdade e justiça… É ‘Disney core’. Mas entendo que a batalha do ponto de vista global é um tanto quanto desleal, afinal estamos ali na plataforma do lado de marcas gigantescas como Marvel e Pixar”. E, ainda falando sobre diversidade, Gusson destacou que ela está presente na tela e na equipe. Enquanto a trama tem personagens LGBT, neurodivergentes, negros e amarelos, a sala de roteiro também. “E a Disney deve ser esse mundo ideal, onde todas as pessoas podem coexistir e um não é melhor ou pior do que o outro”, analisou. 

Por fim, a produtora de desenvolvimento compartilhou como se dá essa relação entre produção e criação: “Jogamos junto dos autores a fim de trazer valor de produção para a obra. Temos que fazer escolhas necessárias para resultar na tela, potencializar o que aquele projeto tem de bom. No caso de ‘Mila no Multiverso’, por exemplo, já que a temporada nova iria apresentar um universo diferente, precisávamos investir muito na criação da arte e nos estúdios. Para cada projeto, pensamos nesse tipo de estratégia”. 

 

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