Premiada no Grande Otelo, Belli Studio diversifica meios de atuação e fontes de financiamento

Aline Belli (ao centro), sócia e produtora da Belli Studio (Foto: Mayara Varalho)

A Belli Studio, produtora audiovisual de Blumenau – SC, começou sua trajetória em 1999, inicialmente com ilustrações para livros infantis, e aos poucos foi desenvolvendo outras áreas de atuação e se consolidando no mercado. Uma das sócias da empresa, a produtora executiva Aline Belli, ainda tem uma forte atuação política, presidindo o Santacine e ocupando uma cadeira no Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual (CGFSA). Nesta quarta-feira, 23 de outubro, Belli participou de um painel no 8º Mercado SAPI, em Goiânia, para compartilhar um pouco de seus negócios. O SAPI, inclusive, foi pensado lá atrás justamente com esse objetivo: aproximar as pequenas produtoras de Goiás das produtoras já bem estabelecidas do restante do país. "Até hoje seguimos com esse intuito de trazer experiências inspiradoras, que possam gerar insights e conexões importantes", pontuou Lidiana Reis, coordenadora geral do evento. 

Assim como a Têm Dendê Produções, da Bahia, que também participou deste segundo dia do mercado, a Belli Studio é uma produtora com 25 anos de história, criada e estabelecida fora do eixo Rio-São Paulo e liderada por uma mulher que, para além dos negócios da empresa, atua diretamente na política setorial. Hoje, a Belli conta com uma equipe de 45 pessoas e divide-se essencialmente em dois segmentos – arte e animação – com duas formas de atuação: em seus próprios produtos e também com produções de terceiros. Para além dos desenhos animados – a produtora ficou conhecida por títulos como "Boris e Rufus", "Tuca, O Mestre Cuca" e "Esquadrão do Mar Azul" – ela trabalha com uma ampla gama de possibilidades, como tematização (concepção de empreendimentos e ambientes), ilustração (de livros e HQs), mapas (temáticos ou turísticos), criação de personagens e de universos narrativos (para empreendimentos, por exemplo), além, é claro, de projetos animados em geral, como clipes, curtas e longas. Entre os projetos que eles fazem "pra fora" destaca-se a animação "Ricky e Morty" (originalmente do Adult Swim/Cartoon Network) – desde 2020, o estúdio brasileiro, junto de vários outros, anima os conteúdos da série, que já tem sete temporadas. 

Case 

O ponto alto da trajetória recente da Belli é a série original "Esquadrão do Mar Azul", que estreou em 2023 na TV Cultura e na TV Rá-Tim-Bum e venceu a categoria de Melhor Série de Animação para TV Aberta, Cabo e Streaming na última edição do Prêmio Grande Otelo, da Academia Brasileira de Cinema. Os vencedores foram anunciados em 28 de agosto deste ano. A série, criada e escrita por Marcela Catunda e dirigida por Rubens Belli (marido e sócio de Aline Belli), busca ensinar de forma lúdica sobre a biodiversidade e os cuidados com os oceanos. Destinado ao público de três a cinco anos, o projeto contou com diversos patrocinadores, como Tigre, Tirol, Docol, Ceramfix, Bistek, Schulz e Zen SA.

Em 2022, a série participou da mentoria MIFA CAMPUS BRAZIL, promovida pelo Festival Internacional de Animação de Annecy em parceria com o MIFA (Mercado Internacional de Filmes em Animação). O objetivo da mentoria foi desenvolver projetos que atendessem às demandas e expectativas do mercado internacional e ainda o treinamento com exercícios de pitching para promoção e venda de projetos de conteúdo original. O vídeo de apresentação internacional do projeto foi finalizado durante o próprio MIFA, ainda em 2022, e ele estreou com os episódios de 1 a 8 no ano seguinte. "Estivemos nessa mentoria com outros quatro projetos brasileiros, de outras quatro produtoras, em uma imersão de quatro meses. Foi um aprendizado imenso, e saímos de lá com muita vontade de produzir", contou Aline. "Nossos 16 primeiros episódios já têm versões em português e espanhol. Sempre tivemos esse cuidado de que todas as nossas séries saiam já em duas línguas – a primeira é o português, claro, e a segunda pode ser espanhol ou inglês", acrescentou. 

A série contou com patrocínio de algumas empresas. Sobre esse processo de busca de patrocinadores, ela comentou: "Sempre fomos atrás deles com um objetivo maior para além do dinheiro. Queremos que acreditem na nossa empresa, e não só no projeto, e que entendam que o ecossistema audiovisual desenvolve talentos e é uma indústria. Além disso, temos uma preocupação grande em todos os nossos trabalhos com a mensagem que iremos passar. No caso dessa série, estudamos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e o ESG nas empresas para que elas se sentissem de fato conectadas com a ideia". Entre esse ano e o próximo, a Belli Studio, a partir da missão de atingir a marca de 52 episódios de "Esquadrão do Mar Azul", está captando para a produção de mais 13 pela Ancine, através da Lei do Audiovisual – Artigo 1ºA. Os episódios anteriores contaram com recursos diversos além do próprio 1ºA, como Lei Rouanet (episódio 1) e PIC-SC através do ICMS (episódios 9 a 16). 

E, olhando para os projetos da Belli de modo geral, Aline avaliou: "Estamos buscando desacelerar com nossas obras audiovisuais. Isto é, pensando nas crianças e eliminando o excesso de informação, que é algo que já está tão presente na vida delas – nas redes sociais, nas telas, na tecnologia. Até quando trabalhamos com terceiros tentamos compartilhar essa ideia com eles". A animação "Boris e Rufus", que é um dos grandes cases da produtora, é de 2018, mas segue totalmente atual – a série aborda, entre outros assuntos, os perigos da tecnologia. "Não falamos de forma tão didática porque a série é para crianças de oito a dez anos, e não mais o público pré-escolar, mas a mensagem está ali. Se até nós, adultos, entramos em 'frias' quando o assunto é tecnologia, imagine as crianças, que ainda não têm esse discernimento". 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui