Lucas Cassales enxerga com frustração a carreira de seu primeiro longa, "Disforia", interrompida nos cinemas por conta da pandemia

Nesta sexta-feira, dia 26 de junho, "Disforia", primeiro longa-metragem de Lucas Cassales (do curta "O Corpo"), estreia nas plataformas de VoD – Net Now, Google Play, iTunes, Vivo Play, Looke e YouTube Filmes. O longa estreou nos cinemas no dia 12 de março, mas logo teve sua carreira interrompida devido à pandemia de Covid-19. A obra é uma produção Sofá Verde Filmes, de Porto Alegre, RS, com coprodução da Epifania Filmes, também gaúcha. "Disforia" estreou no 47º Festival de Cinema de Gramado na Mostra de longas-metragens gaúchos e conquistou o prêmio de Melhor Direção na Rio Fantastik Festival 2019.

"Foi bastante frustrante essa suspensão do lançamento. São meses de trabalho, uma equipe enorme envolvida só na distribuição… Lançamos nos cinemas no dia 12 de março, quinta, e na sexta, 13, os cinemas no Rio de Janeiro fecharam. Na semana seguinte, eles fecharam em outros estados também", relembra Cassales em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Claro que eu concordo com o fechamento, não tinha outra alternativa. Mas nos pegou no susto. Tivemos que desistir de guardar o filme para talvez relançar no futuro, algo assim, porque não há previsão de abrir os cinemas físicos. Então pulamos essa fase. Minha maior frustração é não saber como ele se relacionaria em questão de público e recepção", lamenta.

Em "Disforia", Dário (Rafael Sieg) sofre pela dificuldade em se recuperar de um acontecimento assustador de seu passado. Ao se aproximar da menina Sofia (Isabella Lima), as emoções e a culpa tomam conta da vida de Dário, a partir das sensações estranhas e perturbadoras que a menina causa nas pessoas ao seu redor. Atormentado, ele precisa encarar o passado e o mistério envolvendo a família de Sofia. Assista ao trailer: 

O roteiro é assinado por Cassales ao lado de Thiago Wodarski. "Tivemos a ideia original juntos e, a partir daí, fomos fazendo algumas adaptações. Thiago é ligado a um cinema mais visual, gráfico. Mas me deixou bem à vontade para achar o tom mais adequado para a história que eu queria contar", diz o diretor. "Esse projeto vem na pegada de 'O Corpo', curta que eu estava trabalhando na época, no sentido de fazer obras oníricas e sensoriais", completa.

O cineasta revela que o processo de "Disforia" levou bastante tempo – começou com a inscrição em editais em 2013 até chegar às filmagens propriamente ditas em 2018. Nesse período, muitas mudanças foram feitas na narrativa do longa. "No início, era mais um thriller investigativo. Mas o trabalho que eu estava fazendo com o curta acabou influenciando", explica. O resultado é um filme que mantém uma atmosfera de suspense do começo ao fim, além de deixar muitas questões em aberto. "Conforme fomos filmando, outras mudanças foram sendo feitas. Fui limando diálogos – cortei frases de quase todas as cenas antes de rodar. Justamente para deixar a história mais abstrata e conceitualmente mais onírica", afirma.

Cassales é bastante crítico a respeito do futuro do audiovisual no pós-pandemia. Enquanto diversos nomes do setor apostam em um "boom" do cinema nacional, com o público dando maior valor à cultura, o diretor vai no caminho contrário: "Não acredito muito em uma mudança. Muita gente não vê o cinema brasileiro como cultura, ao mesmo tempo em que consome qualquer coisa lançada na Netflix. É uma questão muito mais complexa. Esse tipo de pessoa não vai mudar só porque passou a consumir mais obras audiovisuais – é o grupo que está desrespeitando a quarentena e saindo de casa, por exemplo". E por fim, o cineasta torce por uma mudança em outro sentido: investimento estatal. "Nos últimos 14 anos, um bom trabalho estava sendo feito. Isso sim foi um boom no crescimento do cinema nacional como indústria, do nosso audiovisual como um todo. Mas desde o Governo Temer só sofremos baixas – ataques à Ancine, crise no FSA… Torço agora, especialmente, pelo destravamento dos financiamentos", conclui.

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