Para comemorar os 30 anos do lançamento do livro "Cidade Partida", do escritor e jornalista Zuenir Ventura, e da TvZero, Roberto Berliner, diretor de filmes como "A Pessoa é Para o Que Nasce" e "Nise: O Coração da Loucura", levará para as telas o documentário "Cidade Partida – 30 Anos Depois".
Quando Berliner entrou com sua câmera em Vigário Geral, dias depois da chacina que vitimou 21 moradores na madrugada de 29 de agosto de 1993, encontrou Ventura, que iniciava a pesquisa para o seu livro. Ambos passaram meses no ir e vir da Zona Sul para a Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 1994, o escritor lançou "Cidade Partida", obra que narra as realidades contrastantes dos moradores das favelas – Vigário Geral como ponto de partida – e a das classes média e alta, explorando como essas duas "cidades" coexistem e se enfrentam diariamente. Berliner, que acabara de inaugurar a TvZero, negociou a cessão do livro, que já vendeu mais de 100 mil exemplares, para o audiovisual. Por falta de recursos, o projeto ficou parado.
Nessa retomada da produção, que terá a participação do próprio Ventura, o diretor convidou Luciano Vidigal, cineasta da primeira geração de artistas do Nós do Morro, reconhecido por seu trabalho em projetos que retratam a vida e as questões sociais e raciais na favela e no asfalto, com olhar de quem vive essa realidade, para dividir a direção. "Há 30 anos estava lá, com o Zuenir. Homens brancos da Zona Sul, com um olhar perplexo e humano, para um lugar ignorado pelo poder público. Hoje, ao lado do Luciano, um homem negro da favela, vamos tentar decifrar essa 'Cidade Partida' dos dias atuais. O projeto é a soma do material inédito, filmado 30 anos atrás, com o que vamos filmar agora, em parceria com o Luciano", explica Berliner.
Entre as muitas filmagens inéditas da época, estão depoimentos de sobreviventes e o enterro de Flávio Negão, chefe do tráfico de Vigário Geral, que ganhou notoriedade depois da longa entrevista dada a Zuenir Ventura para o livro, preservada em fitas K-7. Negão liderava em 1993 o grupo envolvido no confronto que resultou na morte de quatro policiais – episódio que motivou a chacina de Vigário Geral. Nenhum profissional de imprensa teve acesso ao cemitério. Roberto Berliner e a equipe da TvZero foram os únicos autorizados a filmar.