Para produtora de "Benzinho", colaboração artística e contribuição técnica são vantagens das coproduções

Filme Benzinho Credito: Bianca Aun/Divulgação

O filme "Benzinho", que performou muito bem em festivais tanto dentro quanto fora do Brasil, foi uma coprodução do país com o Uruguai. E, para Tatiana Leite, que atuou na produção do longa, a participação internacional foi de suma importância. "Eles nos auxiliaram em questões burocráticas, trouxeram seu know how e, claro, a participação artística de boa qualidade. Pra mim, esses fatores em uma coprodução contam muito mais do que o aporte financeiro.", declarou durante o segundo dia do Fórum Mostra, parte da programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Tatiana reconhece que, apesar de fundamental, o processo de coprodução é repleto de desafios, como a questão do idioma e da diferença de fuso horário, por exemplo. "Mas é muito mais interessante dividir o processo de produção de um filme com outras pessoas, ainda mais de culturas diferentes. É uma troca rica e que cria um senso de irmandade.", pontuou, destacando ainda como essa questão beneficia também a circulação da obra em mercados estrangeiros. Além de "Benzinho", Tatiana realizou outros quatro filmes por meio de coproduções, sendo apenas um entre empresas brasileiras e os demais com produtoras de fora. Na Mostra de Cinema, ela apresenta "Família Submersa", coprodução com a Argentina e a Alemanha.

Representante da França no evento, a produtora Catherine Dussart, criadora da CPD Productions, afirmou que as coproduções são essenciais especialmente nos chamados filmes de autor, que além de todos os desafios de produção também enfrentam uma série de dificuldades para encontrar lugar nas salas de exibição. "Coproduções nos permitem trabalhar com novos talentos com quem talvez nunca fôssemos cruzar, além de trazerem diferentes pontos de vista para as obras e, claro, ajudarem no financiamento.", comentou. Ela relembrou ainda que a Europa começou a receber os primeiros estímulos para fazer cinema em coprodução nos anos 90. "Na época, achávamos que filmes em coprodução precisavam ter temáticas internacionais. Foi um erro, fizemos filmes que não tinham praticamente identidade nenhuma por conta desse pensamento. Então entendemos que, para ter um bom resultado, o longa precisa ter identidade própria e estar enraizado em determinada cultura para aí, sim, atingir esse âmbito universal. É importante ainda garantir que quem está somente financiando não vá interferir no projeto artístico original. A identidade do diretor deve prevalecer.", enfatizou.

Em relação a esse tal âmbito universal, Tatiana discorda que existam "projetos internacionais". "Por exemplo, no caso de 'Benzinho': é um filme que se comunica com o resto do mundo, mas é uma produção nacional, de Petrópolis. Tem nuances de Brasil em sua essência, na trama e nos personagens também. E é justamente isso que traz a ele uma força tão grande.", opinou, complementando assim a questão levantada por Catherine a respeito da importância de se manter a identidade. "É muito importante ter certeza de que todos estão fazendo o mesmo filme dentro de um trabalho de coprodução, que há uma convergência de ideias. Todos precisam se escutar e saber o que cada um pretende com aquele trabalho.", completou Catherine.

Trazendo um novo ponto de vista para a discussão, Marcin Luczaj, responsável pelas aquisições da New Europe Film Sales, empresa baseada na Polônia e com atuação internacional – uma de suas aquisições foi o próprio "Benzinho", inclusive – ressaltou que para eles não importa se o longa vendeu bem no Brasil – "O foco está totalmente no mercado internacional. Se a obra será entendida fora do país onde foi produzida e tem um certo apelo, já funciona para nós.", disse. De forma prática, ele aconselha as produtoras que estejam atrás de potenciais coprodutores de fora: "Um caminho é levar curtas-metragens para ambientes de festivais. O produtor precisa ver algum trabalho seu pronto para topar entrar em uma coprodução. E isso vale tanto para os festivais grandes – Cannes, Berlim – como para os menores, como Bulgária e Kosovo.".

Por fim, como única representante do Brasil no Painel, Tatiana reforça a importância de que o próprio país promova encontros que viabilizem coproduções internacionais. "O Brasil também precisa ter iniciativa de trazer esses players até nós. Não dá para ficarmos correndo atrás deles o tempo todo.", declarou. Apesar disso, ela avalia como positivos os mecanismos de fomento à coprodução no Brasil em comparação com os demais países: "No cenário da América Latina, por exemplo, estamos muito bem inseridos. Tivemos nos últimos anos editais bilaterais, com países como Argentina, Uruguai e México, e torço para que a Ancine continue investindo nisso, uma vez que ela já aumentou bastante possibilidades de participação e troca. O Uruguai tem poucos fundos para a produção de seus filmes, enquanto o Paraguai não tem nenhum. Então, de modo geral, nossa posição é muito boa.", concluiu.

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