Juliana Loyola e Lygia Costa são especialistas de conteúdo de dramaturgia no Globoplay. Nesta sexta-feira, dia 25 de outubro, as duas participaram do Mercado SAPI, em Goiânia, onde compartilharam um pouco sobre as estratégias de pensar em curadoria e audiência dos produtos brasileiros da plataforma. O streaming da Globo se divide internamente em duas frentes – as produções dos próprios Estúdios Globo e os conteúdos feitos em parceria com as produtoras independentes. "Trabalhamos com produtoras de todos os tamanhos e diferentes regiões do Brasil. Isso faz uma grande diferença para os nossos conteúdos", apontou Costa.
Para ela, não existe uma "fórmula secreta" para fazer uma história de sucesso que alcançará e emocionará milhares de pessoas, mas é possível pensar em alguns pilares. "Os brasileiros querem se ver representados na tela. E todos os brasileiros – conservadores, pretos, LGBTs. Aí está o desafio: pensar conteúdo para uma audiência ampla. Precisamos furar bolhas. Produzir histórias universais com DNA local", afirmou. Outro ponto importante que Costa trouxe foi a adequação ao gênero cinematográfico e televisivo. Ela explica: "Para além da qualidade de dramaturgia e a técnica, temos que dar atenção ao gênero. Temos conseguido explorar alguns, como ação, melodrama, thriller e suspense, entre outros. E quando o produto consegue se aproveitar do gênero, isto é, usar esses códigos da linguagem cinematográfica, que são universais e amplamente conhecidos da audiência, para contar uma história que emociona, isso se torna muito atrativo".
Como exemplo, ela citou a novela "Vai na Fé", que a TV Globo exibiu em 2023. Não é exatamente um produto Globoplay, mas se tornou um case recente do grupo por ter conseguido conversar com pessoas de diferentes realidades. "E dentro do gênero melodrama, que é muito estabelecido, consolidado e reconhecido pela audiência", destacou. Em relação às novelas, Costa entende que o momento é de entender como adaptá-las para o streaming, e mencionou "Pedaço de Mim", produção brasileira de melodrama que a Netflix estreou este ano e que esteve entre os conteúdos mais assistidos da plataforma. "Esse sucesso diz um pouco dessa tentativa de fazer um melodrama televisivo, com os códigos da TV, mas com ritmo de streaming e um formato adaptado a ele". Juliana Loyola complementa: "Melodrama é o que sabemos fazer. O que estamos vivendo agora é uma transformação em como estamos consumindo esse gênero. 'Pedaço de Mim' é um novelão clássico, mas em 17 episódios. É uma história previsível, mas com reviravoltas. Agarra o público. E o público mais novo, por exemplo, tem visto novela e série no TikTok, em vídeos de dois minutos. Não podemos desconsiderar essa mudança de forma de consumo".
O próprio Globoplay surgiu lá atrás como um catch-up da TV Globo, e era consumido essencialmente por pessoas que queriam acompanhar os capítulos das novelas que não conseguiram ver na televisão. A plataforma foi evoluindo, abarcando séries, filmes e outros formatos, mas ainda sente uma força muito grande vinda das novelas. Loyola revelou que os conteúdos mais consumidos nos últimos anos no Globoplay foram as séries "Os Outros" e "Arcanjo Renegado" ao lado de todas as novelas que foram ao ar. "Ainda é um produto muito forte. As pessoas se veem representadas na novela. E ainda podem se ver muito mais".
Nesse sentido, ela enfatiza que a audiência quer se ver representada muito além do que já se vê – e principalmente para além do que as novelas que foram produzidas no eixo Rio-São Paulo mostram. "O Globoplay acredita muito no conteúdo nacional, e temos o desafio de fazer o nacional mesmo. Por isso estamos buscando produtores e ideias de outros lugares e estamos nesse mercado, por exemplo. Queremos valorizar cada pedaço da cultura do país. Nesses momentos, criamos esses laços".
Nos eventos de mercado que promovem encontros entre players e produtores, é muito comum que os realizadores perguntem que tipo de projeto os canais e plataformas estão buscando. No painel do Globoplay, alguns caminhos foram apontados. Loyola afirmou que a plataforma ainda tem um público muito forte que vem da TV, mas que isso não a impede de querer falar com outras audiências. "Dentro do Grupo Globo, o Globoplay é a janela que está mais disponível para conversar com outros públicos. Temos interesse no melodrama, mas também no infantil, no conteúdo jovem, em séries de ação…", citou.
Costa acrescentou que o que performa bem são conteúdos mais populares, com narrativas clássicas – que trazem a fórmula da jornada do herói, por exemplo. Reforçando esse ponto, ela mencionou o sucesso que os doramas coreanos e as novelas turcas têm feito no Brasil. "São conteúdos conservadores, com histórias simples, e que seguem um padrão. E são grandes melodramas. É isso que o público brasileiro está buscando". E acrescentou: "Mas é muito importante prestar atenção na linguagem. Ainda tem uma linguagem específica de cinema e de streaming – esta, que muda de plataforma para plataforma – Globoplay, Netflix e Max têm linguagens diferentes".