Uma das novidades da edição de 2022 do FAM – Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul é o projeto "Conversas FAM de Cinema", composto de sessões de filmes convidados seguidas de debates com realizadores e personagens mediados pela produtora cultural e educadora popular Adriana Gomes.
No último sábado, 24, o tema do papo foi "Cultura Popular na Infância", com exibição do longa-metragem "Pequenos Guerreiros" (CE), de Bárbara Cariry (à esquerda na foto), sobre cultura popular e infância. No filme, Cosme e Maria, acompanhados do filho Benedito e dos sobrinhos Matheuzinho e Bruna, fazem uma viagem para pagar uma promessa. A viagem é cheia de aventuras e de descobertas. As três crianças vivem um processo de encantamento e afetividade e, depois dessa jornada, serão para sempre grandes amigos.
"O filme nasceu de um desejo meu de falar sobre a minha infância. Sou de Fortaleza, capital do Ceará, e cresci fazendo viagens ao interior, especialmente para a região do Cariri, onde meus pais nasceram. Passei toda a minha infância visitando esses lugares e conhecendo essas pessoas. Então, meu desejo era fazer um filme onde crianças e jovens pudessem se perceber, ou seja, fazer um cinema que se aproximasse de algo que é pouco visto – o que é uma pensa, porque a gente não tem exatamente filmes que retratem uma infância que não seja a tradicional, aquela vivida nas grandes capitais. Tinha vontade de falar sobre isso a partir das minhas vivências e experiências. Tive esse privilégio de viajar bastante com os meus pais e tentei, a partir disso, criar essas pequenas histórias e pequenas relações", disse Bárbara.
"Nós, mais velhos, carregamos uma série de conceitos e pré-conceitos em relação a diversas coisas. As crianças, não. A ideia foi justamente essa: trazer esse olhar livre, principalmente para as novas descobertas – de pessoas, de coisas e de tudo aquilo que pode encantar quem estiver disposto", analisou. "O núcleo central da família é formado por atores profissionais, mas o que cerca, não – são pessoas comuns, que convidamos para participações no filme. Isso traz algo interessante, um processo orgânico e natural", revelou a diretora.
O filme é um road movie, isto é, foi filmado em deslocamento – ao longo de um mês, em 2018, partindo da praia e indo até o Nordeste, a região do Cariri, e praticamente seguindo a mesma ordem de cenas que aparece na tela. Seus recursos foram em 90% oriundos de Edital e a equipe foi composta de aproximadamente 25 pessoas.
Entre as referências para o trabalho – que é o primeiro projeto de Bárbara à frente da direção de um longa-metragem, após experiências como produtora – estão os filmes do Cacá Diegues dos anos 70, como "Bye Bye Brasil" e outros "que falam de personagens mambembes, pouco representados no cinema brasileiro, que estão sempre em deslocamento, e são personagens de características fortes, marcantes".
"Pequenos Guerreiros" foi lançado em 2021 e percorreu o circuito de festivais. Em outubro deste ano, fará sua estreia comercial nas salas de cinema.
Entre os próximos projetos de Bárbara, está um longa ficcional de drama, que fala sobre um universo tradicional do Maranhão, as Caixeiras do Divino – tema que ela já abordou anteriormente em documentário – e ainda um projeto de série voltado ao público infanto-juvenil.