Rodrigo Teixeira, da RT Features, aponta deficiências no mercado de diretores e na formação de público no Brasil

Bárbara Sturm, diretora de conteúdo da Elo Company; Henry Galsky, coordenador de projetos e conteúdo do Canal Brasil; e Rodrigo Teixeira, fundador da RT Features e um dos principais produtores brasileiros também atuantes no mercado estrangeiro se reuniram nesta sexta, 26/10, no Fórum da Mostra de Cinema de São Paulo para ministrarem um workshop sobre os processos de apresentação e venda de projetos no mercado audiovisual.

Em geral, o tom do encontro foi crítico, com declarações por parte dos representantes dos elos de produção, distribuição e exibição sobre as brechas de conhecimento de alguns dos novos profissionais do meio. "Sei que fazer audiovisual no Brasil é difícil, a maioria das pessoas não consegue se dedicar 100% a isso e arrumam outras formas de ganhar dinheiro, mas isso acaba atrapalhando.", apontou Teixeira. "Às vezes, chegam até mim para apresentar projetos com um tom que assusta um pouco, já se colocando em uma alta posição que ainda não estão. Falta reconhecer fraquezas e priorizar a honestidade nessa relação.", completou. "Recebo diversos e-mails sobre pessoas que dizem estar escrevendo o novo 'Harry Potter' ou garantindo que aquele projeto ganhará um Oscar. Tem que ser realista, ainda que o projeto esteja cru. Ser honesto é o melhor caminho.", concluiu.

Barbara, da Elo Company, reforçou a necessidade de saber exatamente o que aquela pessoa para quem você está indo apresentar seu projeto faz, qual é o perfil de obras com as quais ela costuma trabalhar e qual faixa de orçamento ela suporta, entre outros tópicos. "Chegar com referências reais também é importante, isto é, que sejam compatíveis: se é o primeiro longa do diretor, traga referências de outros primeiros longas de diretores; se é um projeto de série pequena, traga referências de séries de tamanhos semelhantes. É importante ter como referência aquilo que você pode ser.", explicou. Para ela, as rodadas de negócios ao redor do país ainda são os melhores meios de se apresentar projetos. "É onde você se coloca à prova.", definiu, lembrando ainda que, para esses encontros, é necessário chegar com um projeto completo e bem escrito, e não basear a apresentação na fala.

Responsável pela equipe que recebe, avalia e negocia as coproduções do Canal Brasil, Henry Galsky reforçou a importância do tempo de desenvolvimento do projeto: "O timing de cada player do mercado é diferente – o da TV, por exemplo, é mais rápido. Não dá para apresentar um projeto no papel sem ter noção de quanto tempo demoraria para ele estar de pé. Temos uma grade de programação a cumprir, por isso o prazo de execução é um tópico muito importante.". Galsky falou ainda sobre o aspecto legislativo. "Quem quer entrar nesse mercado tem que conhecer como a legislação funciona. Saber que nós só podemos trabalhar com produtoras independentes que estejam registradas na Ancine, por exemplo, é fundamental.", citou.

Após produzir obras como "Frances Ha" (2012), "Indignação" (2016) e "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017) – esta, concorrente do último Oscar -, Teixeira apresenta um olhar mais pessimista diante do cenário nacional. "Quem é do meio precisa assistir produto brasileiro e ajudar a disseminar o cinema do Brasil. Não dá para um filme como 'As Boas Maneiras', que foi extremamente bem lá fora, ter alcançado somente sete mil pessoas aqui.", exemplificou. "Não temos um bom mercado por nossa culpa. Temos graves problemas de formação de público e dependemos totalmente do FSA. Não criamos um plano B pra ele.", declarou. Segundo o produtor da RT Features, temos ainda uma deficiência grande em relação à direção, muito mais do que em relação aos roteiros. Ainda assim, ele enxerga um movimento positivo recente: "Tenho visto um fenômeno positivo de destaque de diretoras mulheres, mais do que de diretores homens. Elas se preocupam com a história, e isso é muito importante.", ressaltou.

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