O perfil dos lares brasileiros já não é mais o mesmo e a TV Globo busca atender com seu conteúdo o novo desenho familiar do país. Em apresentação no Rio2C, que acontece nesta semana no Rio de Janeiro, Amauri Soares, diretor da TV Globo e afiliadas, disse que, na TV aberta, a Globo não tem interesse em atuar para nichos geracionais.
O Brasil que sai da pandemia de Covid-19 é um país complexo e desafiador, do ponto de vista da criação de conteúdo audiovisual. De acordo com dados divulgados pela Globo, o novo lar brasileiro é multigeracional: em 32% das casas moram membros de três ou mais gerações de uma mesma família. Soares chamou esta configuração de condomínios familiares. Segundo ele, a vida em diversas gerações é uma estratégia para que estejam preparados para uma renda escassa e incerta, que passa a ser somada. "A televisão está no centro desta casa que busca histórias que dialoguem com todos eles. Nossa vocação é contar histórias que interessem a todos. Não buscamos, na TV aberta, a segmentação geracional", disse o executivo. Além disso, a casa sai da pandemia com o status de um "refúgio sagrado", o último refúgio dessa família multigeracional.
A TV também é uma espécie de metrônomo que marca o ritmo das famílias. É possível saber o momento do dia pela programação da TV. "Fazemos TV pensando nas jornadas que as pessoas têm", diz Amauri Soares.
Perfil sócio econômico
O Brasil é, segundo a principal executivo da TV Globo, um matriarcado de mulheres pobres, pretas e sem marido – este é o perfil de 1/3 dos lares. O salário médio das mulheres negras é o mais baixo do País e 64% das famílias chefias por mulheres tem algum nível de insegurança alimentar, apontou Soares no evento. "Para entender o Brasil, tem que saber conversar com essa mulher. Essa protagonista social é a protagonista das nossas histórias". O personagem da mulher forte e batalhadora, lembra, sempre esteve na dramaturgia do canal. Faltava, completa o executivo, uma maior diversidade racial, o que está mudando.
Soares lembrou ainda que o Brasil é um campeão mundial de concentração de renda – 49,6% da renda se concentra em 1% das pessoas. Metade da população não têm coleta de esgoto. "Precisamos manter calibrado nosso olhar para a sociedade", disse.
Não menos importante, o país passa por uma transformação religiosa. Os católicos deixaram de ser maioria da população em 2022, embora ainda sejam o maior grupo. Mais de 1/3 dos brasileiros são evangélicos e em 10 anos serão maioria. "O país está se tornando multirreligioso. Nós todos aprendemos na escola que é o maior país católico do mundo, mas tem uma transformação acontecendo. Precisamos entender os impactos dessa transformação na vida das pessoas", disse.
Para 90%, família e fé são os valores mais importantes. No entanto, não é, necessariamente a fé religiosa. "É fé no futuro, fé no amanhã, fé de que vai melhorar".
Apesar do perfil médio, o mercado de consumo no Brasil é R$ 4,4 trilhões. Se trata de um mercado com oportunidades e sofisticado do ponto de vista de audiovisual. A audiência, lembra Soares, está habituada ao storytelling e à dramaturgia. Consome novelas, jornalismo, filmes, esportes.
Nova grade
O executivo contou que uma nova programação vai ao ar com o término do "Big Brother Brasil", que acabou nesta terça, 26.
Haverá uma nova sitcom aos domingos, "Família Paraíso", no segundo semestre, com o ator Leandro Hassum, além de novas temporadas de "The Voice Kids", "The Voice", "No limite" e "Mestre do Sabor". O jornalismo e a área de esportes contarão com a cobertura especial das eleições e da Copa do Mundo, respectivamente.
Entre as três novelas inéditas exibidas diariamente está, no horário das 21h, "Pantanal", "que é o maior exemplo de conteúdo multigeracional". Estreia em outubro a nova novela de Gloria Perez, "Travessia". Na faixa das 18h a emissora terá "Mar do Sertão".