Retomada do audiovisual carioca deve passar pela consolidação de políticas públicas

O audiovisual é um potente vetor de desenvolvimento das cidades; uma das atividades econômicas mais estruturadas da indústria criativa e fruto de um planejamento consistente ao longo dos anos. No painel "RioFilme apresenta: O impacto do audiovisual no desenvolvimento das cidades", realizado nesta quarta-feira, 27 de abril, no Rio2C, produtores e autoridades discutiram a importância e o impacto do audiovisual no desenvolvimento de territórios. 

Elisa Tolomelli, sócia da EH! Filmes, declarou: "Acho que filmes, séries, novelas, documentários e videoclipes são capazes de influenciar desejos, consumo e hábitos. Nos Estados Unidos eles descobriram isso muito cedo. Por meio do cinema, conseguiram vender o way of life americano. E por aqui, nossas novelas influenciam hábitos, estimulam compras, inspiram cortes de cabelo, tornam as pessoas famosas… O poder do audiovisual é gigante. Paralelo a isso, ele estimula o desejo da viagem, faz com que as pessoas queiram conhecer outras cidades e culturas. Incentiva turismo nacional e internacional". 

No último ano, a produtora foi filmar em São Luís, no Maranhão, e injetou ao todo três milhões de reais no local. "Contratamos atores, equipes, tivemos despesas diretas e indiretas. Imagina eles recebendo quatro filmes desse por ano? É muito dinheiro injetado na cidade por meio do audiovisual. O poder público precisa entender que o patrocínio que eles podem dar a essas produções depois retorna financeiramente para o Estado. É uma troca. As filmcomissions precisam existir. São várias possibilidades de parceria e diferentes tipos de apoio possíveis", apontou. 

Leonardo Edde, produtor da Urca Filmes, presidente do SICAV e vice-presidente da Firjan, concorda que o audiovisual proporciona retorno cultural, econômico e de imagem. "Falamos que o audiovisual é a locomotiva da indústria criativa, mas todos os estudos internacionais dizem que ele é a locomotiva da indústria como um todo. Em torno de 70% dos nossos orçamentos de projetos audiovisuais vão para outras indústrias – alimentação, transporte e hospedagem, por exemplo. São 68 segmentos da economia impactados pelo audiovisual", citou. "E temos ainda a questão da imagem do local ainda, que traz turismo e engajamento. Mas para que as produtoras filmem nesses diferentes cenários, elas precisam de apoio. Aí entram as filmcomissions e os mecanismos de cash rebate. No Rio de Janeiro, estamos reativando esse poder. Estamos passando por uma reativação no sentido de dar mais importância ao audiovisual", ressaltou. 

Políticas públicas 

O Deputado Estadual Marcelo Calero afirma que as políticas públicas, que são tão necessárias nesse sentido de fortalecimento do audiovisual, também estão repletas de desafios: "No Brasil, temos uma questão crônica com a descontinuidade dessas políticas. Vivenciamos essas interrupções cotidianamente. Em maior ou menor grau, sempre acontece. Na gestão Crivella, todas as políticas construídas nas gestões anteriores foram interrompidas – e estamos falando de coisas que vinham sendo gestadas há muito tempo. As políticas estavam sendo amadurecidas – e gosto de falar em amadurecimento porque política pública é aprendizado, tem um ciclo de formatação necessário: a gente identifica o problema, propõe uma solução e trata de implementar as ações para corrigir aquela questão. Quando há interrupção, simplesmente cria-se uma lacuna. A descontinuidade faz com que aquele desafio seja esquecido. E estamos falando de uma indústria que é a vocação do Rio de Janeiro. Somos um cenário lindo e temos que aproveitá-lo". 

Para o Deputado, existe ainda outro problema: as respostas da administração pública normalmente são defasadas em relação às reais necessidades do setor. "Existe uma tendência de resistir ao novo. O novo pressupõe revisão de práticas e processos e, às vezes, significa ter que criar novos fundamentos legais", pontuou. "Um edital de porte da RioFilme é resultado do desafio de conseguir enxergar os problemas e arbitrar diferentes e legítimos interesses. O Prefeito olha para o orçamento da cidade inteira e tem que fazer a conta fechar. É difícil mesmo. Aí, temos que fazer a nossa parte de explicar porque um orçamento como esse da RioFilme é importante. É quase um shark tank, uma apresentação de pitching. Mas faz parte. Disputa política é disputa de orçamento", argumentou. 

"No Rio, passamos por um momento importante de revisão de mecanismos de fomento da cultura e especialmente do audiovisual. Mas não adianta criar mecanismos por lei se você também não garantir que aqueles recursos fluam de maneira permanente. Depende do interesse político do gestor também, senão surgem maneiras de barrar. É necessário pensar em um plano completo, para que o recurso esteja garantido e não haja descontinuidade por parte do Prefeito ou do Governador da gestão em questão", alertou o Deputado. "A ideia do nosso mandato é estar aberto a novas ideias e possibilidades. Entre os próximos passos, estamos para votar o projeto de cota de tela, de minha autoria", acrescentou. 

Por fim, Edde refletiu: "A RioFilme ja foi a força motriz do audiovisual. Ela é muito importante. Em São Paulo, a Spcine surgiu como uma evolução da RioFilme e hoje vemos o município despontando no audiovisual. Estamos voltando aos poucos a entender o impacto da nossa indústria com a nova gestão da RioFilme. O caminho é compreender essa importância para realmente evoluirmos".

O que tem sido feito

No final de março, a Prefeitura do Rio lançou o Programa de Fomento ao Audiovisual Carioca 2022, o maior investimento em audiovisual da história da cidade, gerido pela RioFilme, órgão ligado a Secretaria de Governo e Integridade Pública (Segovi). Ao todo, serão investidos no setor, por meio de editais, R$ 55,250 milhões, investimento 176% superior as linhas de ação propostas em 2021. 

O Programa de Fomento ao Audiovisual Carioca 2022 inclui novas linhas como os editais de Cash Rebate no valor de R$ 15 milhões, com foco na atração de investimentos para a cidade. Entre as linhas estreantes no programa de fomento se destacam também: Investimento em Produção de filmes e séries documentais para cinema, TV e Streaming (R$ 2.700.000,00), Investimento em Produção de novas temporadas de webséries (R$ 600.000,00), e Distribuição de filmes para salas de cinema em parceria com distribuidoras brasileiras, no valor de R$3 milhões, entre outras novidades.

Ainda dentro do escopo do valor total investido, estão previstos também os editais de Apoio à participação de produtoras cariocas em festivais e mercados internacionais, no valor de R$ 280.000,00. 

Também dentro das novidades, além dos editais para apoio às produções, o Programa vai lançar um edital de investimento em formação profissional, uma demanda importante do setor. O foco essencial será promover inclusão de jovens ao mercado de trabalho e suprir lacunas que criam entraves para o crescimento do mercado. A ação se dará por meio de parceria com instituições de ensino.

Além disso, ainda em 2022, deverão evoluir os estudos para a implantação do Distrito Criativo Carioca, na zona oeste, entre Barra e Jacarepaguá. O novo Polo Cine Vídeo deverá ser uma peça fundamental do DCC, com os estúdios já existentes que serão modernizados, e os novos a serem construídos, todos oferecendo infraestrutura de ponta para o setor. O novo Polo contará com o investimento da Quanta DGT, empresa vencedora da licitação para gestão do espaço, no valor de R$ 92 milhões.

E dentre as ações de maior êxito anunciadas na Retomada do Audiovisual Carioca em 2021, destaca-se o fortalecimento da Rio Film Commission, que  já está gerando resultados animadores. O impacto das mudanças já pode ser mensurado, pelo aumento considerável das demandas do setor junto à RFC: em 2022 já foram contabilizadas 1.292 diárias de filmagem autorizadas, o que configura um aumento de 300% em relação a 2021.

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