Aposta em IPs conhecidos, franquias e continuações é tendência global para o audiovisual

"Moana 2" estreia em novembro de 2024 (Foto: Divulgação Disney)

Num período em que o audiovisual – não só no Brasil, mas no mundo – busca novos modelos de negócio, investe em opções alternativas de rentabilização e opta por correr menos riscos, tudo isso com o objetivo de manter suas empresas sustentáveis e as contas sob controle, destaca-se uma tendência: a aposta em propriedades intelectuais já conhecidas, franquias e continuações. 

Neste mês de agosto, a The Walt Disney Company promoveu a D23: The Ultimate Disney Fan Event, com painéis, apresentações e experiências imersivas, na Califórnia. Os principais anúncios de títulos giraram justamente em torno dessa tendência. Já confirmados anteriormente, estão os filmes "Moana 2" (estreia em novembro de 2024), "Zootopia 2" (em novembro de 2025) e "Frozen 3" (em 2027). E na ocasião, foi revelado o título do terceiro longa da franquia "Avatar", "Avatar: Fire and Ash", previsto para dezembro de 2025. 

Chegando ao Disney+ em 2025 está "Dream Productions", uma série recém-anunciada do mundo de "Divertida Mente" sobre o estúdio dentro da mente da personagem Riley. E, ainda entre as próximas produções de filmes, estão "Toy Story 5" e "Os Incríveis 3". Por parte do estúdio Lucasfilm, os conteúdos em destaque foram a nova série de "Star Wars", "Skeleton Crew"; a segunda temporada de "Andor" e "The Mandalorian e Grogu", o próximo longa de "Star Wars" que será lançado nos cinemas em 2026. Também estão previstas novas séries do universo Marvel. 

De Disney Live Action, os lançamentos seguem na mesma linha: "Mufasa: O Rei Leão", "Branca de Neve", "Lilo & Stitch" e "Freakier Friday", continuação de "Sexta-Feira Muito Louca", de 2003. É claro que o grupo também anunciou títulos totalmente inéditos, mas no comparativo com as franquias e continuações, o número é bem menos expressivo. 

A tendência segue em outros grupos de mídia, estúdios e plataformas – como a Paramount, por exemplo, que decidiu, no âmbito mundial, focar nos principais hits globais. A partir daí, o time fez uma análise para entender quais IPs faturaram mais de um bilhão de dólares e identificou dez produções com esses números de faturamento – como "Bob Esponja" e "Yellowstone", por exemplo. "Quando olhamos para todos esses conteúdos que faturaram mais de um bilhão de dólares, entendemos que teríamos mais produtos com esse capacidade, mas acho que estamos no caminho certo no sentido de buscar um crescimento sustentável e maximizar o retorno das nossas principais produções", explicou Fabrício Proti, SVP de Ad Sales Multiplataforma na América Latina e Gerente Geral da Paramount no Brasil, durante sua participação no Pay TV Forum 2024, evento organizado pelas publicações TELA VIVA e TELETIME, no dia 13 deste mês. 

Já a Paramount Pictures, um dos principais estúdios de cinema dos Estados Unidos, tem como principais estreias para os próximos meses "Transformers: O Início", em setembro; "Sorria 2", em outubro; "Gladiador II", em novembro; e "Sonic 3: O Filme", em dezembro. Todos eles são casos de continuações ou franquias. 

A Warner Bros. Discovery, por sua vez, segue por um caminho parecido – inclusive na sua estratégia para o Brasil. Para Renata Rezende, diretora de produção de conteúdos de ficção Latam da WBD, os grandes IPs são as "joias da coroa" das plataformas na atualidade – e devem continuar sendo pelos próximos anos. Em entrevista exclusiva, a executiva destacou também a preferência por histórias que, ainda que sejam locais, tenham potencial global – essa é a grande meta do processo de busca pelos melhores projetos. "De certa forma, são tendências que se encontram: as grandes propriedades costumam ter essa capacidade de viajar o mundo. Queremos projetos que consigam romper essa barreira, esse estigma de que séries brasileiras não viajam", afirmou. Dentro desse planejamento, está, por exemplo, a série "Cidade de Deus: A Luta Não Para", que estreou na Max nesta semana. A nova trama se passa 20 anos após os eventos do filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund, de 2002, e é uma das principais apostas do grupo. 

Anteriormente, em junho, no Rio2C, Mariano Cesar, General Entertainment Content Leader da WBD para a América Latina, também disse acreditar muito na força dos conteúdos que se tornam franquias – como "Game of Thrones", que derivou a série "A Casa do Dragão", cuja segunda temporada estreou em junho na plataforma. 

Cabe incluir nessa estratégia mais macro de apostas em IPs já conhecidos o movimento de aquisição de direitos de adaptação de livros, podcasts e games, também muito praticado recentemente pelas empresas. A própria WBD está filmando a minissérie "Praia dos Ossos", baseada no podcast homônimo, que revisita a jornada de Angela Diniz. Ainda no Brasil, a Boutique Filmes se prepara para lançar versões audiovisuais de sucessos literários como "Tudo é Rio", de Carla Madeira; "O Mistério do Cinco Estrelas", da série "Vaga-Lume"; e "O Gênio do Crime", de João Carlos Marinho. "São livros que marcaram época, têm muitos fãs e se destinam a diferentes públicos. São obras que já se provaram. E agora ganham novas versões, pois no audiovisual se cria outra coisa", analisou Tiago Mello, produtor executivo e sócio, em entrevista para TELA VIVA. 

E ainda falando nessas versões, há quem diga que estamos entrando na "golden age" das adaptações de games para o audiovisual. Essa é a opinião de nomes como David Alpert, CEO da Skybound, produtor executivo e um dos criadores de séries como "The Walking Dead" e "Invincible", e Jon Goldman, managing director da Skybound e media advisor de empresas na área de games, que participaram do programa "Café com Pixel", promovido por TELA VIVA em parceria com o escritório CQS/FV Advogados. Goldman destaca que o grande público que os jogos têm, com pessoas que passam centenas de horas consumindo as franquias, ajuda na hora de destacar o título quando ele vai para o cinema ou para a TV. Alpert concorda e analisa: "Agora que os jogos evoluíram e há muitos mundos imersivos e narrativas de personagens ricas e profundas, temos um cenário ideal para adaptações. Está começando, e acho que estamos perto de ver a era de ouro das adaptações de videogames para o audiovisual". 

Os grupos citados anteriormente – Disney, Paramount, Warner Bros. Discovery – possuem plataformas de streaming próprias, mas seus negócios não giram apenas em torno delas. Por isso, é possível colocar a Netflix como um ponto um pouco fora dessa curva, uma vez que ela tem um "foco único". No entanto, apesar de ainda lançar um volume considerável de projetos originais, o streaming também tem ido por esse caminho. Durante a apresentação da Netflix na última edição do Rio2C, em junho deste ano, Gabriel Gurman, diretor de filmes da Netflix Brasil, adiantou: "Estamos desenvolvendo novos projetos e buscando ser criativos e ousados, além de trabalhar com diversas produtoras. Estamos olhando para podcasts, remakes e livros". Na ocasião, ele aproveitou para anunciar a adaptação do clássico de Paulo Coelho, "O Diário de um Mago", com filmagens no Brasil e na Espanha. E, no momento, a produção brasileira de maior destaque na plataforma é a terceira temporada de "De Volta aos 15". Baseada no livro homônimo de Bruna Vieira, a série alcançou o terceiro lugar no Top 10 Global de séries de língua não-inglesa mais vistas da Netflix, com mais de 8.4 milhões de horas assistidas. 

Em relação ao Prime Video, já faz um tempo que o streaming reduziu seu volume de lançamentos – no Brasil, pelo menos, o movimento foi bem nítido. Num evento realizado para a imprensa e convidados em abril deste ano, Paulo Koelle, head do Prime Video para a América Latina, revelou que, em 2023, as abas do Prime Video que mais cresceram foram os channels e a loja de filmes. E para além de séries e filmes, o serviço tem investido bastante em esportes, e quer continuar avançando nesse sentido. No caso deles, a estratégia envolveu especialmente buscar novas formas de monetização e busca por se firmar como destino único de entretenimento, que reúne diversos conteúdos e serviços. 

No cinema brasileiro, a tendência se confirma. Neste mês, chegou aos cinemas "Estômago 2", continuação do filme de 2007; em dezembro, estreia "O Auto da Compadecida 2", sequência do longa de 2000; e, após 13 anos de intervalo, a TvZero, em parceria com a Imagem Filmes, anunciou neste mês a produção do longa-metragem "Bruna Surfistinha 2", filme que em sua primeira versão levou mais de 2 milhões de brasileiros aos cinemas. Vale destacar aqui a aposta por "sequências tardias", isto é, de filmes de mais de dez anos atrás. Na televisão, é possível afirmar que a onda de remakes de novelas também se encaixa nesse processo.

E, ainda sobre o "Auto da Compadecida 2", é interessante notar que ele estreia nos cinemas em 25 de dezembro de 2024 – na mesma data, estreiam "Sonic 3" e "Mufasa – O Rei Leão". Mais uma vez, todos casos de continuações ou franquias. 

Por fim, mais uma prova de que a tendência é real: os três filmes mais vistos atualmente nos cinemas brasileiros são "Deadpool & Wolverine", "Alien: Romulus" e "É Assim que Acaba". O primeiro é uma continuação, o segundo é parte de uma franquia e o terceiro é uma adaptação literária. Outros títulos em cartaz também são casos semelhantes, como "O Corvo", "Harold e o Lápis Mágico", "Meu Malvado Favorito 4" e "Divertida Mente 2". Já é possível dizer que o futuro do audiovisual passa e muito por coisas que o público já conhece – seja do cinema, da TV, do livro, do videogame ou de outros lugares. 

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