Premiado, curta "Napo" estreia no YouTube no Dia Internacional da Animação

Depois de circular por mais de 60 festivais mundo afora e sair premiado em 20 deles, o curta-metragem brasileiro "Napo" estreia nesta quinta-feira, dia 28 de outubro, às 20h, no Dia Internacional da Animação, no canal da produtora Miralumo Filmes no YouTube

Dirigido por Gustavo Ribeiro, o curta é uma animação para adultos e crianças. A trama gira em torno de Napo, um senhor de idade que, por conta do agravamento do Alzheimer, vai morar com a filha Lenita e com o neto João. Aos poucos, a doença o fez esquecer todos os que passaram por sua vida. No primeiro contato com o neto, Napo nem o reconhece. Incapaz de compreender a doença que leva seu avô entre o passado e o presente, João encontra uma maneira de criar novas lembranças para o avô. Ao tropeçar em um álbum cheio de velhas fotografias, ele deixa as imagens guiarem sua imaginação e transforma as memórias de seu avô em desenhos, que moldam sua relação em uma história de lembrança e construção de memória.

"A ideia do curta surgiu na faculdade. A avó de um dos meus colegas tinha Alzheimer e queria abordar o tema de alguma forma. Decidimos ir além e falar sobre as diferentes formas de construir memórias, a partir dessa questão do Alzheimer. Não tem um único jeito de construir memórias – acho que a gente se conecta a elas de diferentes maneiras, sendo a arte uma das principais. No fim, acho que o filme fala também sobre o ato de estar ao lado das pessoas, algo que se tornou ainda mais relevante em tempos de pandemia. A trama mostra outras formas de relação, para além da óbvia. É uma coisa mais sensorial. A construção de uma memória através de um sentimento, e não de forma cronológica", reflete o diretor em entrevista exclusiva para TELA VIVA. Assista ao trailer:

Finalista no LA Shorts 2020, um dos principais festivais de curtas do mundo, "Napo" circulou por mais de 60 festivais, entre eles os Festivais de Xangai, Atlanta, Santa Monica, San Jose, Moscou, Chicago e Lago, entre outros. Para Ribeiro, ter o primeiro trabalho da produtora reconhecido internacionalmente é motivo de orgulho e também uma forma de homenagear seu avô e tantos outros avós que se foram durante a pandemia de Covid-19. "Hoje vejo que o filme fala sobre as relações com os nossos avós de modo geral, e me fez ver como somos uma parte deles, um amontoado das pessoas que passaram pela nossa vida. Espero que agora, com a estreia no Brasil, ele funcione como um processo de cura para quem perdeu pessoas queridas", diz. 

Escola Revolution 

Conforme o diretor contou, a ideia de "Napo" surgiu quando ele ainda estava na faculdade de Artes Visuais, na Universidade Federal do Paraná. Na época, ele e alguns colegas mandaram o projeto do curta para um edital do estado e, um ano depois, receberam a notícia de que tinham sido aprovados. "Quando enviamos o projeto, estávamos no terceiro ano do curso. Quando veio a aprovacão, já estávamos terminando a faculdade e, com mais experiência, entendemos que o projeto que tínhamos inscrito no edital era muito ambicioso. A animação em 3D é muito complexa, você tem que criar um universo do zero, desenvolver o design de tudo que envolve aquele universo. E até então, poucos de nós mexíamos com 3D", conta. "Então, tivemos a ideia de abrir uma escola. O objetivo era treinar algumas pessoas e, mais tarde, contratá-las para trabalhar com a gente. Por causa do filme, abrimos uma escola, a Revolution, e viramos empresários", completa.

Gustavo Ribeiro, da Miralumo Filmes, é o diretor de "Napo

A Revolution foi aberta entre 2015 e 2016, quando Ribeiro e seus colegas estavam se formando na faculdade. Os investimentos para o novo negócio vieram da ajuda de familiares e do que eles tinham economizado nos estágios durante o curso. "Começamos com peças usadas mesmo, que compramos por conta. Nesse começo, foi muito pesado. Trabalhávamos o dia inteiro, fazíamos TCC. A escola cresceu muito rápido – não esperávamos isso. Em seis meses, já tínhamos 600 alunos. Cinco anos depois, já recebemos alunos de todos os estados do Brasil e ensinamos mais de cinco mil pessoas. Temos alunos que já foram pra fora, pra trabalhar em estúdios grandes. Ou seja: o curta foi um elemento transformador nas nossas vidas mas também nas vidas de muitas outras pessoas", define. 

O projeto da Revolution acabou atrasando um pouco a produção do curta, já que foi necessária total dedicação à empresa. "A partir do momento que sentimos que a escola estava estabilizando, andando um pouco mais sozinha, começamos a trabalhar no filme. Chamamos algumas pessoas da escola, outros vieram de fora… O processo de produção foi bem paulatino. Nenhum de nós até então tinha experiência numa animação desse tamanho e complexidade. Então, quem estivesse na equipe, tinha que estar preparado para aprender muito. E se frustrar algumas vezes também", brinca Ribeiro. Ao todo, "Napo" demandou dois anos de produção, em um trabalho que o diretor define como "bastante intenso". 

Durante a pandemia, a Revolution cresceu bastante, assim como a produtora, a Miralumo Filmes. "Nós já trabalhávamos com computador então, pra nós, a mudança para o modelo remoto não fez muita diferença. Do nada a animação virou muito global, estão buscando gente de todo o mundo para fornecer serviços. No caso do filme, a pandemia nos prejudicou porque não pudemos ir aos festivais, até hoje não vimos o filme no cinema. Mas fora isso, pro trabalho da produtora, o período foi até que positivo", conclui. 

"Napo" será lançado nesta quinta-feira, dia 28 de outubro, Dia Internacional da Animação

Animação nacional 

Por fim, Ribeiro reflete sobre a animação brasileira: "Em termos de qualidade, temos muitos profissionais bons. Em todos os grandes estúdios mundiais há brasileiros entre os melhores profissionais das equipes. Pelo fato de não termos oportunidade, incentivo e centros de treinamento, automaticamente temos que ser dez vezes melhores do que as pessoas de fora para sermos considerados por esses grandes estúdios. Isso faz com que tenhamos um celeiro de muita gente boa". 

Ele prossegue: "No entanto, sinto que, com um tempo, existirá cada vez mais uma mudança no consciente coletivo de começar a entender que, lá fora, não estamos falando sobre as nossas realidades, não estamos nos vendo nos filmes produzidos. Vejo essa tendência de muita gente enxergar que podemos contar nossas histórias aqui mesmo. Hoje, são dois caminhos: ainda há muita gente que quer ir pra fora, mas muitas outras que querem voltar, alinhadas a esse propósito de contar as próprias histórias. O Alê Abreu, de 'O Menino e o Mundo', por exemplo, caminha nesse sentido. Acho que inevitavelmente isso vai acontecer". 

E finaliza: "Eu tenho muito orgulho do filme que a gente fez, considerando o tempo que levamos, o orçamento que tivemos e a qualidade que entregamos. Nós temos o conhecimento e a capacidade, então vamos atrás". 

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