O modelo FAST de distribuição online de vídeos vem ganhando relevância de forma acelerada no Brasil, colocando o país entre os territórios de maior destaque em algumas das principais plataformas. O nome deste modelo é um acrônimo de free ad-supported streaming TV services, ou serviços de streaming de TV suportados por publicidade. O modelo se diferenciam do AVOD (ad-supported video on demand) pela oferta de conteúdo linear, ao invés de uma biblioteca sob demanda.
Em debate no Rio2C, que acontece nesta semana no Rio de Janeiro, Aline Jabbour, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Aquisição de Conteúdo para América Latina da Samsung, conta que o Brasil é o país com o share mais elevado de uso da plataforma Samsung TV Plus na base de aparelhos com o serviço embarcado. Por aqui, 50% dos lares equipados com TVs com a Samsung TV Plus consome o conteúdo linear ofertado (os televisores conectados por menos de três minutos à plataforma não são considerados).
"Com todas as plataformas e serviços existentes, a experiência do usuário é muito importante, e é aí que a Samsung se diferencia", diz a executiva. Por isso, a fabricante coreana teve a ideia de ter um entretenimento "desde a hora em que a TV sai da caixa". A Samsung TV Plus é de graça, sem assinatura e está em mais de 100 milhões de devices em 23 países. Embora o Brasil seja o território com maior share de uso, não é aqui que os usuários passam mais tempo na plataforma – o país está atrás dos Estados Unidos na lista. A média global de tempo usando a streaming gratuito da Samsung é de 75 minutos por dia por TV.
J´a a Pluto TV, serviço FAST da Paramount, conta com 65 canais no Brasil, bem menos do que no seu maior mercado, os Estados Unidos, com mais de 800 canais. Neste ano a operação brasileira deve se tornar a maior na América Latina, ultrapassando o México, hoje líder na região, contou Denis Onishi, diretor de Negócios e Ad Sales da Paramount no Brasil. O serviço tem 64 milhões de usuários ativos mensalmente em smart TVs, browsers e consoles de games. "Cada um busca o que quer ver. No Brasil, a Pluto TV tem bastante pessoas vendo filmes de ação, mas em alguns meses, os animes são os mais demandados", diz Onishi.
Monetização
A agregadora de VOD Sofa Digital lançou no fim do ano passado dois canais FAST no Brasil, o Turma da Mônica e o Adrenalina Freezone. Os canais, conta o CEO da empresa, Fábio Lima, em poucos meses conquistaram uma audiência que os colocariam entre alguns canais abertos. Para ele, leva tempo para o mercado ser educado e acompanhar essa mudança no hábito do consumidor, mas o investimento publicitário virá.
Denis Onishi, da Paramount, acredita que o FAST será um concorrente da TV aberta. "Não é só audiência, mas a relevância que o conteúdo tem também é levado em conta", diz, sobre as decisões nos planos de mídia. "Nos EUA, o Pluto TV teve mais de US$ 1 bi de receita em 2021", diz.
Fábio Lima destaca que o conteúdo dos canais FAST não necessariamente precisa ser de acervo. Há a possibilidade de criar conteúdos e até mesmo canais sob encomenda para um patrocinador, permitindo a remuneração de conteúdo inédito. Onishi concorda e lembra que o serviço da Paramount já conta com canal ao vivo de jornalismo, de grande valor agregado. Para ele, os FASTs terão impacto direto na TV por assinatura, uma vez que contam com conteúdo linear e permitem segmentação.
A head de Portfólio e Performance digital da Globo, Renata Fernandes, não concorda com um canibalismo entre modelos. "Quando o streaming apareceu, foi decretado o fim do linear, mas isso não aconteceu", diz. Para ela, o modelo de serviço é, justamente, uma resposta do setor de entretenimento ao online, um retorno às origens. "Existia essa dúvida de como o entretenimento se colocaria nisso", afirma. "Mas a gente sempre soube que o linear não ia morrer. Quando trouxemos isso para o Globoplay, entendemos que a experiência é complementar", completa.
Renata lembra que o tempo para consumir conteúdo não muda e "a TV aberta traz uma conexão emocional e um sentimento de pertencimento". Muitas vezes, o espectador assiste um conteúdo para poder participar das conversas sobre ele.
O sob demanda inseriu algumas características valiosas ao consumo de conteúdo, mas que, para a executiva da Globo, tem um custo. "Às vezes você só quer relaxar, não quer passar pela experiência de ter que procurar. A experiência FAST tem um pouco a ver com isso: não ter que passar pelo momento da escolha", diz Renata. Por outro lado, o modelo ainda permite uma oferta infinita de canais, o que não é possível em outras plataformas de distribuição de vídeo linear. Com isso, o FAST traz a possibilidade de criar uma programação para nichos, por menores que sejam. A executiva da Globo aposta na exploração de conexões emocionais dos nichos, com a criação de canais de novelas, de uma série ou personagem específicos.
Aline Jabbour, da Samsung, concorda com uma complementariedade de modelos. Mais que isso, acredita que os FASTs possam ser uma ponte do linear para serviços de SVOD. Como exemplo de uma possível ponte, falou da possibilidade de ter um FAST com diversas temporadas antigas de uma série cuja a nova temporada seja exclusiva de um SVOD. O conteúdo gratuito poderia incentivar a assinatura de um serviço pago para continuar tendo acesso à história. Entre os usuários do Samsung TV Plus, 57% saltam constantemente entre um serviço SVOD e o FAST.