Potencial de coprodução entre Brasil e América Latina é destacado por produtores

"Cem Anos de Solidão"

O potencial para o incremento da coprodução audiovisual entre países latino-americanos, com destaque para o Brasil, foi um dos temas centrais abordados pelo produtor executivo Diego Ramirez, CEO da Dynamo, e pela roteirista Camila Brugés, nesta quarta, 28, durante o painel "A Essência Latina da criação de Cem Anos de Solidão à Narcos" no Rio2C. Ambos os profissionais veem um cenário propício para mais parcerias, apesar de barreiras históricas percebidas, como o idioma. Brugés comentou que "a língua nos faz sentir que não podemos conectar, e creio que é incorreto". Ramirez observou que o idioma já não deveria ser um impeditivo e que, embora "o Brasil tem um mercado interno tão grande e tão forte que até muito pouco tempo atrás a coprodução não era necessária", o contexto atual da indústria pode fomentar essas colaborações.

No evento, Ramirez, cuja produtora Dynamo está por trás de sucessos como "Narcos", "Fronteira verde" e a recente adaptação de "Cem anos de solidão", e Brugés, roteirista em "Fronteira verde" e "Cem anos de solidão", compartilharam suas experiências sobre os elementos que tornam as histórias latinas únicas e as estratégias para conquistar o público global. A Dynamo, fundada há 19 anos, iniciou como um mecanismo financeiro para cinema independente e hoje tem a produção como seu principal negócio, com operations na Colômbia, Madri, na Espanha, e México, e divisões de filmes, séries, documentários e, mais recentemente, entretenimento não roteirizado.

A complexa adaptação de "Cem anos de solidão" foi detalhada. Ramirez relatou que a Netflix negociou os direitos com a família de Gabriel García Márquez, que impôs três condições: que fosse uma série, feita na Colômbia e em espanhol. Segundo ele, a abordagem para a obra foi de "respeito, mas sem medo". A roteirista Camila Brugés comparou o trabalho de adaptação ao de uma tradução literal: "entender qual é a linguagem legada e qual é a nossa linguagem para comunicar a essência que está por baixo da obra". O processo de roteirização envolveu uma fase inicial de dois anos com o roteirista José Rivera, que linearizou a novela, seguida por três anos e meio com uma equipe de roteiristas colombianos, incluindo Brugés, para escrever as duas temporadas.

A produção de "Cem anos de solidão" demandou cerca de dois anos de pré-produção, com a construção da cidade de Macondo do zero em quatro versões diferentes para representar a passagem do tempo. Mais de 11 mil pessoas se apresentaram para o casting, e aproximadamente 1 mil profissionais trabalharam no set. Até o momento, foram produzidas mais de 50 mil peças de vestuário, com uma estimativa de chegar a quase 100 mil. A pós-produção da primeira temporada levou quase um ano.

Questionados sobre uma "essência latina" unificadora, Brugés afirmou: "Eu não creio que exista uma literatura latino-americana como em um estilo unificador, e espero que nunca passe". Ela defende a diversidade como uma força. Ramirez complementou que "quanto mais autêntico um projeto, quanto mais local, creio que contraditoriamente funciona melhor" globalmente, desde que trate de temas universais.

Sobre o sucesso global de produções como "La casa de papel" ou "Round 6", Ramirez acredita que "nos faltam histórias de sucesso" originadas na América Latina que gerem um impacto cultural semelhante. Brugés apontou que "os criadores na América Latina sempre tivemos um pouco as mãos amarradas, porque a indústria pensa que a audiência latina não está pronta para ver determinadas coisas". Ela defende que é preciso assumir mais riscos para além de obras já consagradas.

O impacto de "Narcos" também foi analisado. Ramirez considera que a série "internacionalizou a indústria colombiana" e preparou o terreno para produções maiores. Brugés, embora reconheça a importância de "Narcos", a vê como uma série "bem americana em toda sua entidade", e celebra que atualmente se possa contar outras histórias, como a de "Senna".

Diego Ramirez concluiu com uma visão otimista, afirmando que a "América Latina vai ser um local importante de produção de conteúdo global". Camila Brugés instigou os criadores a se perguntarem "o que exatamente queremos contar e como", buscando pontes que reflitam a diversidade do continente e fomentem a colaboração.

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