Mary Livanos, produtora executiva da Marvel Studios, e Gandja Monteiro, diretora de episódios de produções como "Agatha all along" e "Wandinha", participaram nesta quarta, 28, do painel "A Construção de Franquias Fantásticas para Além das Telas" no Rio2C. Durante a conversa, mediada por Carol Moreira, as profissionais discutiram os processos de criação e expansão de universos narrativos baseados em propriedades intelectuais (IPs) consolidadas, como quadrinhos e jogos.
Ao abordar a originalidade em IPs existentes, Livanos, com experiência em "WandaVision" e "The Marvels", destacou a importância de identificar o que ressoou com o público na introdução de um personagem. Para a série "Agatha all along", por exemplo, a estratégia foi "construir o mundo ao redor dela para que a história se desdobre de forma orgânica", em vez de simplesmente inserir a personagem no universo Marvel. Livanos enfatizou a necessidade de assumir riscos: "Se você não está correndo riscos (…) você pode estar fazendo algo errado, porque deveria estar criando histórias que ressoem emocionalmente profundamente nas pessoas".
Gandja Monteiro, que dirigiu episódios de "The Witcher" e o final de "Agatha all along", complementou que sua abordagem foca na especificidade e humanidade dos personagens. "Não se trata de agradar a uma audiência; trata-se de entusiasmar uma audiência e liderar uma audiência", afirmou. Monteiro também revelou que, para entender a personagem Agatha, leu livros sobre bruxas reais para compreender "a luta pela qual essas mulheres passaram".
No que tange à produção, Livanos relembrou o desenvolvimento de "WandaVision", o primeiro programa da Marvel Studios para o Disney Plus, como um desafio por não haver experiência prévia em televisão. "Nós meio que improvisamos, o que foi selvagem", disse. A produtora defende que "o chefe (…) é a série. Então é um jogo de 'a melhor ideia vence'".
Monteiro, por sua vez, contou que no início de sua carreira produziu um curta-metragem de ficção científica com 42 tomadas de efeitos visuais (VFX) para provar sua capacidade de trabalhar com o gênero, já que as oportunidades eram condicionadas à experiência prévia. "Você meio que tem que provar, porque eles não vão simplesmente te dar isso de bandeja", explicou.
Ambas as profissionais ressaltaram a relevância dos efeitos práticos. Livanos citou a série "Agatha all along", onde a produção optou por cenários tangíveis, inspirados em "O mágico de Oz", para evitar que os efeitos visuais transformassem tudo em "uma espécie de mingau de CGI". Um exemplo foi a inundação de um cenário de casa de praia. "De repente, nada disso parece especial. Portanto, nossa tarefa era executar a série da forma mais prática possível", disse Livanos. Monteiro acrescentou que o uso inteligente de VFX serve para "realmente potencializar" o efeito prático, e não para "consertar coisas na pós-produção".
Sobre a colaboração em produções de grande orçamento, Monteiro destacou que, apesar dos recursos, "nunca há dinheiro suficiente", observando uma tendência de orçamentos menores nos últimos anos. "Os estúdios estão tentando gastar menos (…) e ainda querem o melhor do melhor. E esse é o desafio", comentou. Livanos mencionou a importância de, quando possível, ficar abaixo do orçamento inicial para ter flexibilidade para "oportunidades criativas que possam surgir".
Questionadas sobre a influência dos estúdios nas narrativas, Livanos afirmou nunca ter enfrentado imposições para alterar o destino de personagens contra a lógica da história. Monteiro reconheceu a existência de uma hierarquia, mas salientou a importância do alinhamento com a visão estabelecida para o projeto.
Ao final, Livanos e Monteiro confirmaram que estão trabalhando juntas em uma nova série focada no personagem Visão, que dará continuidade a tramas de "WandaVision" e "Agatha all along". A produção está atualmente em filmagem.