Chegaram ao fim as filmagens de "Virtuosas", primeiro longa-metragem de ficção da Novelo Filmes e de Cíntia Domit Bittar – cineasta, ativista e atuante na política audiovisual – como diretora. Estrelado por Bruna Linzmeyer, Maria Galant e Juliana Lourenção no elenco principal, a obra explora o universo do movimento coach cristão em um retiro de empoderamento de mulheres virtuosas com humor ácido, suspense e terror. A produção se deu inteiramente em Florianópolis e traz também entre o elenco principal as atrizes Sarah Motta e Brisa Marques. Nenê Borges e Fernando Bispo completam o elenco, que ainda conta com participação especial de Gabriel Godoy.
"O filme tem sido uma oportunidade para experimentar dois grandes temas que tenho estudado ao longo dos anos: o terror feminista e a classe média fundamentalista-cristã-negacionista brasileira, por mais ampla e diversa que essa classe social com esses adjetivos-substantivos seja", disse Bittar com exclusividade para TELA VIVA.
A diretora se interessa pelo terror e afirma acreditar nele e "em sua complexidade" há muitos anos. "É um gênero muito amplo e ótimo para abordar diversos tópicos do debate contemporâneo, ainda mais para mim, uma ateia cujo medo reside não em fantasmas ou demônios, mas nas maldades mais terrenas que as pessoas são capazes de cometer", observa. E ainda pensando no gênero, ela ressalta: "Explorar o feminismo no terror não é somente através da 'final girl', que é a protagonista mulher que sobrevive ao assassino e sai viva/vencedora. Tampouco é apenas sobre violência promovida por homens. Uma forma interessante de abordar o terror sob o olhar feminista é criar personagens mulheres complexas, que vão até o ápice de suas maldades porque são demasiadamente e monstruosamente humanas". E completa: "Fico feliz de o gênero estar em alta. Me dá uma boa expectativa sobre o 'Virtuosas' e outros projetos nossos que estão a caminho. Há muitos anos também frequento espaços de mercado dedicados ao gênero, como o Blood Window, no Ventana Sur. É muito entusiasmante ver a América Latina crescendo tanto nesse segmento".
"Virtuosas" teve sua produção realizada com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema e será distribuído pela Olhar Filmes, com previsão de estreia para 2025.
Empresa produtora e diretora
Criada em 2010, a Novelo Filmes é uma produtora audiovisual independente sediada em Florianópolis e liderada pelas sócias Ana Paula Mendes, Cíntia Domit Bittar e Maria Augusta V. Nunes. "É nosso primeiro longa de ficção aqui da Novelo Filmes e meu como diretora. Foram inúmeros desafios para chegarmos aqui. Desde impactos diretos como edital estadual que ganhamos há dez anos e o estado nunca pagou, ou de personagem de documentário morrer e a Ancine pedir pra devolver o dinheiro e outras coisas bizarras, que são de arrepiar os cabelos, até questões mais amplas que afetam o setor de forma generalizada, como períodos de paralisação do fomento nas esferas municipal, estadual e nacional ao longo dos anos, bem como a própria pandemia da Covid-19, na qual além de penar com a interrupção das atividades acabei perdendo familiares", revela Bittar. "Então conseguir realizar nosso primeiro longa de ficção, mesmo que uns anos depois do planejado, e estarmos em plena retomada da Novelo Filmes, é uma baita vitória", celebra.
Em transição para formatos maiores, Bittar está atualmente com três obras em pós-produção: o longa documental "Gugie", a série "Quero Ser Veg" e o longa de ficção "Virtuosas". Todas elas são protagonizadas por mulheres. A diretora ainda é membra do Conselho Superior de Cinema, vice-presidente do Santacine (Sindicato da Indústria Audiovisual de Santa Catarina) e integrante do + Mulheres Lideranças do Audiovisual Brasileiro. Integrou a chapa fundadora da API (Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro), onde esteve na diretoria por três mandatos (2019-2023).
"Além de realizadora mulher, sou sócia de uma produtora independente de mulheres e em Santa Catarina, ou seja, fora do tradicional eixo da indústria audiovisual brasileira, e é inegavelmente tudo mais devagar nessas circunstâncias. Por isso sou defensora de políticas afirmativas para mulheres e outros grupos como pessoas negras, indígenas, LGBT+, PcDs… e ações que promovam a democratização do fomento e a valorização da regionalização, que é reconhecer as diversidades regionais em suas potências e vocações", finaliza a diretora.