As casas de apostas seguem crescendo rapidamente no Brasil. Um estudo macroeconômico realizado pelo banco Itaú projetou um gasto anual de R$ 23,9 bilhões com jogos e apostas online no país. O levantamento foi conduzido pelos economistas Luiz Cherman e Pedro Duarte. As chamadas "bets" se tornaram as principais patrocinadoras dos times de futebol brasileiro e, por isso, são presença garantida nas transmissões das partidas dentro e fora dos campos, uma vez que, além dos patrocínios, também investem em anúncios nos intervalos comerciais.
Segundo um levantamento do ge, o portal de esportes da Globo, os sites de apostas representam 68% dos patrocínios masters dos principais clubes do Campeonato Brasileiro. Há empresas do ramo que patrocinam os próprios campeonatos, como a Betano, no Brasileirão, e a Betnacional, na Série B da mesma competição – esta última detém ainda os naming rights do Campeonato Pernambuco Série A2, A3 e Feminino por dois anos, além do Campeonato Carioca.
As casas de apostas chegam também às transmissões de conteúdo. Em maio deste ano, foi lançada a TV Casa de Apostas. Idealizado pela Muito Mais Play, o projeto tem a proposta de levar ao YouTube transmissões ao vivo que tratam de diferentes temáticas relacionadas ao futebol. O canal é patrocinado pela Casa de Apostas, marca brasileira do segmento, que apresenta o produto como nova estratégia para ampliar a presença nas mídias digitais. Já o BetBox tv, canal de TV brasileiro dedicado a apostas esportivas, tem feito transmissões de jogos – um exemplo de destaque foi a final do Brasileirão Feminino entre São Paulo e Corinthians, realizada no dia 15 de setembro. A partida pode ser vista pelo site oficial do BetBox tv, no YouTube ou pelo canal 580 da nova parabólica (banda Ku). O BetBox tv está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
Direitos de transmissão
Lá fora, as "bets" também estão se movimentando e ganhando cada vez mais espaço no mundo de futebol – seja patrocinando times e campeonatos, anunciando nos intervalos das partidas e, mais recentemente, adquirindo direitos de transmissão. A Caliente TV, por exemplo, canal da plataforma mexicana de apostas Caliente, adquiriu os direitos de transmissão dos jogos da Liga dos Campeões – o mais importante torneio europeu de clubes de futebol – no mercado mexicano. Pelo acordo, a Caliente TV transmitirá metade dos jogos, ficando responsável pelas exibições das partidas que acontecem às quartas-feiras, enquanto os duelos das terças contam com transmissão da Warner Bros. Discovery, sob a marca da TNT Sports, ou ainda a Max, no streaming, e o canal de TV paga TNT. O canal da plataforma de apostas obteve direitos de transmissão para as temporadas 2024/25, 2025/26 e 2026/27 e irá transmitir um total de 109 partidas em cada temporada, incluindo a final do torneio.
As transmissões da Caliente TV eram gratuitas no YouTube, Twitch, Facebook, Twitter e no site da Caliente. Posteriormente, a plataforma de apostas anunciou que a Liga dos Campeões pode ser acessada através de seu aplicativo, que está disponível em dispositivos iOS e Android. As informações são do portal argentino TAVI Latam.
Emissoras criam suas próprias casas de apostas
No Brasil, atentas às tendências, as emissoras Globo, SBT e Band planejam lançar suas próprias casas de apostas – de olho, é claro, nesse mercado que cresce vertiginosamente no Brasil, ou ainda prevendo essa movimentação por parte das casas de apostas de quererem entrar no já bastante acirrado jogo de disputa pelos direitos de transmissão dos campeonatos, como aconteceu no exemplo mexicano.
Em agosto, a MGM Resorts International e o Grupo Globo anunciaram a formação de um novo empreendimento para buscar licenças de apostas esportivas e iGaming no Brasil. Se a licença for aprovada ainda este ano, o novo empreendimento será lançado no Brasil no início de 2025, sob a marca BetMGM. Em comunicado oficial, a MGM afirma que o novo empreendimento alinhará a experiência líder do setor em jogos e entretenimento da MGM Resorts com a tecnologia comprovada da LeoVegas e ainda o conhecimento superior sobre o consumidor do Grupo Globo no Brasil, podendo alcançar assim cerca de 70 milhões de pessoas diariamente por meio de suas múltiplas janelas com um produto "com escala, recursos e acessos significativos". Ainda segundo a MGM, o Brasil tem mais de 20 milhões de apostadores ativos, representando um tamanho de mercado estimado em mais de US$ 3 bilhões, crescendo dois dígitos a cada ano.
"A MGM Resorts está comprometida em se tornar a principal empresa de entretenimento de jogos do mundo, e esta aliança estratégica com o Grupo Globo e a entrada no mercado brasileiro é um passo importante em nossa estratégia de crescimento", disse o CEO e presidente da MGM Resorts, Bill Hornbuckle. "O Brasil é um dos mercados emergentes de jogos mais emocionantes e vibrantes do mundo, e ninguém tem mais exposição e experiência neste mercado do que o Grupo Globo. Esta aliança histórica nos permite entrar rapidamente no mercado com a escala e a experiência necessárias para estabelecer uma posição inicial como operadora líder e fornecedora da melhor experiência para clientes em todo o Brasil", completou.
A empresa adiantou ainda que o empreendimento estabelecerá sua sede em São Paulo e elegerá uma equipe de liderança composta pelos melhores talentos de cada empresa e novas contratações adicionais para supervisionar as operações e o crescimento contínuos do empreendimento. Além disso, ressaltou que o início das operações está sujeito às aprovações regulatórias de jogos locais. Procurado por este noticiário, o Grupo Globo disse que não irá dar detalhes sobre a novidade, uma vez que a empresa depende ainda da licença, e que por isso as comunicações estão sendo lideradas pela MGM. No Brasil, até o momento não há nenhum representante oficial da parceria.
O Grupo Silvio Santos, detentor de diversas empresas brasileiras, sendo o SBT a principal delas, também está se preparando para entrar nesse mercado. A OpenBet, fornecedora global de tecnologia, conteúdo e serviços de apostas, firmou um acordo de longo prazo para lançar a nova marca de apostas esportivas e jogos da Todos Querem Jogar (TQJ), que conta com participação societária da Sisan Participações, empresa do Grupo Silvio Santos (GSS). A OpenBet foi escolhida para impulsionar a plataforma de apostas e jogos da TQJ. Por meio de nota, a empresa declara que a TQJ está comprometida em proporcionar experiências de apostas e jogos seguras e responsáveis para os brasileiros, com o objetivo de ser líder em proteção do jogador. A forte reputação global da OpenBet, sua expertise em mercados regulatórios complexos e seu foco em jogo responsável e conformidade foram fatores decisivos para a TQJ escolher a empresa.
"Estamos entusiasmados em trabalhar com a OpenBet, uma líder global que estabelece o padrão da indústria para operações de apostas confiáveis e conformes. Para a TQJ, é imprescindível oferecermos experiências de apostas superiores, sustentadas por procedimentos robustos de conformidade. O ecossistema completo da OpenBet e os valores gerais da empresa nos dão tranquilidade de que estamos trabalhando com a melhor empresa para nos lançarmos no mercado regulado de apostas esportivas e jogos", pontuou Leonardo Sampaio, CIO do Grupo Silvio Santos. "Considerando o legado da OpenBet em trabalhar com marcas icônicas de entretenimento e organizações estatais no mundo, a TQJ está bem-posicionada para ser um dos líderes no Brasil, oferecendo jogo responsável – muito além do que é requerido pela regulamentação – e novas experiências de produtos que vão capturar a imaginação e a atenção dos jogadores", acrescentou José Roberto Maciel, CEO do Grupo Silvio Santos.
O processo está adiantado. A empresa TQJ já submeteu o pedido para obter a sua licença de operação seguindo a nova regulamentação de casas de apostas no Brasil. Atendendo a todas as orientações e portarias do Ministério da Fazenda, o pedido foi protocolado junto à Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) por meio do Sistema de Gestão de Apostas (Sigap). "A empresa acredita que a regulamentação traz benefícios significativos para o mercado, criando um ambiente competitivo e confiável, além de contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil", reforçou a TQJ.
Por fim, a Band parece ser a mais "atrasada" na empreitada, e ainda estaria negociando parcerias com outras bets, definindo questões como porcentagem de lucros.
Regulamentação
Na última semana, um levantamento do Banco Central apontou que os brasileiros já gastaram mais de R$ 20 bilhões mensais em apostas online, somente nos oito primeiros meses deste ano. Além disso, no último mês de agosto, cerca de cinco milhões de pessoas que fazem parte de famílias que recebem o benefício do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões a sites de apostas por meio de Pix. Em média, cada pessoa gastou R$ 100.
Diante da situação alarmante, deputados e senadores têm buscado frear as apostas online no país. Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal "O Globo", somente neste mês foram propostas 39 alterações, projetos de lei ou requerimentos de informações sobre as bets, além de medidas restritivas e regras mais rígidas a respeito do uso de valores recebidos de programas sociais, como o Bolsa Família, para este fim.
Na próxima quarta-feira, dia 2 de outubro, o presidente Lula se reunirá com ministros de áreas envolvidas no debate, como Fazenda, Desenvolvimento Social e Saúde, para discutir medidas – entre elas, estaria justamente a proibição do uso dos benefícios sociais para fazer apostas e ainda o monitoramento via CPF para saber quanto cada brasileiro está gastando com os jogos. O presidente espera ainda regulamentar as propagandas nos sites de apostas e as formas de pagamento permitidas.
Nesta segunda, 30 de setembro, Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, declarou que até 600 sites de apostas online serão banidos do Brasil nos próximos dias por apresentarem irregularidades em relação à Legislação aprovada pelo Congresso Nacional. Em entrevista à Rádio CBN, Haddad ainda falou sobre os futuros anúncios do governo sobre fiscalizações mais rígidas dos apostadores. Segundo o secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Régis Dudena, a lista de bets ilegais a serem banidas deve ser divulgada nesta terça, 1º. As operadoras deverão derrubar os sites a partir do dia 11 – a ordem será oficializada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).