Programadoras brasileiras defendem indústria nacional diante de cenário global

Alberto Pecegueiro (diretor geral da Globosat) Maurício Kotait (diretor geral da Viacom) e Cícero Aragon (diretor geral da Box Brazil) participaram de um debate sobre o futuro da programação e das programadoras de TV paga no Brasil nesta quarta, 31, no segundo dia do PAYTV Forum 2019, organizado pelas publicações TELETIME e TELA VIVA.

Os executivos estão alinhados no entendimento de que o cenário de incerteza regulatória e legal atrapalha investimentos e o desenvolvimento natural do mercado, mas enxergam que a indústria nacional ainda tem vantagens diante do cenário global.

"A gente não vai embora daqui. Temos uma relação sólida com o público brasileiro e tudo em jogo nesse mercado. Temos boa relação com empresas de fora, o interesse delas no Brasil é positivo, mas só vai até o ponto em que elas enxergam um retorno razoável. Já o nosso, vai além. É nossa vida. A gente sempre vai ter um grau de comprometimento, esforço e investimento muito maior", declarou Pecegueiro.

Cícero Aragon completou: "Na Box Brazil, vemos essa briga internacional como uma grande oportunidade. No Brasil, temos uma velocidade de adaptação muito mais rápida do que no mercado internacional. A relevância que os canais nacionais já provaram ter aqui permite que façamos novos desenhos. É transformar o cenário em oportunidade, conquistando assinantes e criando novos modelos de empacotamento que façam sentido, com produtos cada vez mais adaptáveis. É hora de firmar parcerias e rearranjar os modelos de negócio.".

Para Aragon, o conteúdo brasileiro é o grande diferencial nesse momento em que empresas internacionais apostam em planos de expansão cada vez mais globais, como é o caso da Apple.

Maurício Kotait, da Viacom, que é uma multinacional, também afirma que a empresa acredita muito na produção própria de conteúdo local: "Temos um trabalho constante de fazer os agentes de fora entenderem nosso mercado, que produz muito e gera emprego. Defender uma empresa local é uma tarefa complexa e brigar com os grandes da tecnologia não é fácil. Mas se eu não entrar em novas searas, não consigo sobreviver. A Viacom valoriza essa produção própria em todos os mercados. Apostamos em outras plataformas, sem dúvida, mas privilegiamos o que for TV por assinatura. Nunca se investiu tanto em produções, nunca realizamos tanto na TV paga quanto agora. Enquanto a Netflix é baseada em filmes e séries, nós somos baseados em tudo. O portfólio é infinito no nosso caso". Para Pecegueiro "existe e sempre existirá uma demanda por conteúdo local, inclusive por parte das grandes programadoras internacionais".

Plataformas convergentes

Em um cenário que vai cada vez mais caminha para a convergência entre TV e o ambiente digital, as programadoras apostam em uma boa convivência entre as duas plataformas e oportunidades para ambas. "Há um crescimento de número de horas de TV paga assistidas, apesar da queda de assinantes, estão a conclusão é que são ambientes que vão conviver juntos. A própria TV por assinatura está se reorganizando e se reinventando. Vão surgir as transformações, cada vez mais OTTs, mas sem deixar o conteúdo linear de lado. As pesquisas mais recentes mostram isso", defende Cícero. Kotait também acredita na boa relação entre os dois, mas faz ressalvas: "Precisamos estar atentos a essas evoluções. As coisas estão mudando de forma rápida e agressiva.".

Incertezas regulatórias

O executivo trouxe ainda que as questões relacionadas à regulação de fato atrapalham o mercado. "Temos planos para entregar conteúdo e estratégias estabelecidas, e qualquer quebra nesse processo ou demora de tomada de decisões faz as coisas paralisarem de maneira significativa", justificou. "Quando você constrói uma propriedade e lança uma série nova, por exemplo, o ideal é retornar com uma nova temporada no máximo um ano depois. Se você leva três, você já quebrou toda a cadeia de desenvolvimento do produto. Queremos as coisas se desenvolvendo mais rápido para produzirmos novas marcas e cumprirmos nossos planos", acrescentou. Aragon completa com o ponto de vista de uma programadora 100% brasileira: "Nascemos de um processo regulatório e, desde então, já foi provada a importância dos conteúdos independentes brasileiros. Nesse momento em que tudo está em discussão – canais, Ancine, futuro do mercado, financiamento – nós, como os menores peixes do aquário, temos que ter muito mais atenção com o que estamos fazendo, especialmente no sentido de planos de expansão e lançamentos de OTT, por exemplo. Nosso recurso já é pequeno. Com insegurança jurídica, a situação piora. Temos muitas ideias, mas precisamos de cuidado.". Para Pecegueiro, a regulação sempre chega atrasada: "O mercado e a tecnologia vão criando novos formatos e ela vem atrás, não tem jeito".

Por fim, acerca de um papel de um agente agregador nesse cenário, Aragon analisa: "É natural que os players tenham seus caminhos independentes, mas também é essencial que exista um agregador para organizar esse conteúdo todo e facilitar a experiência de acesso, possibilitando ao usuário encontrar tudo dentro de um mesmo ambiente. E pode ser que novas plataformas tenham esse papel. Além de agregar, elas vão precisar investir em curadoria, entregando o melhor conteúdo possível de acordo com o perfil do usuário.".

1 COMENTÁRIO

  1. Falta de segurança jurídica e a falta de novas legislações deixa o mercado inseguro e com forte tendencia de competições injusta. Cabe ao congresso nacional legislar e a Ancine regulamentar o que a lei determina e não, a Ancine fazer o papel do Congresso nacional. Cada um na sua competência constitucional. Normas e instruções não são leis e podem ser discutida e alterada a qualquer momento. A Lei é permanente. A regulação sempre chega atrasada: "O mercado e a tecnologia vão criando novos formatos e ela vem atrás, não tem jeito" concordo. Falta regulamentação dos serviços OTT , vídeo streaming. video on demand que não se enquadram em nenhum meio regulamentado pelo poder executivo e pelo Congresso nacional. Os grandes play e agencia Anatel e Ancine debatem ainda de quem será a responsabilidade pelos novos serviços. Hoje piratas ou não regulamentados por meio da internet.

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