"Pedaço de Mim", da Netflix, traz reflexões sobre diferentes formas de abuso e machismo estrutural

Maurício Farias, diretor artístico de “Pedaço de Mim”, e Angela Chaves, criadora e roteirista (Foto: Marcos Serra Lima/ Netflix)

Nesta sexta-feira, dia 5 de julho, estreia na Netflix "Pedaço de Mim", a primeira série brasileira de melodrama da plataforma. A produção é assinada por A Fábrica com direção artística de Maurício Farias e criação e roteiro de Angela Chaves. Serão 18 capítulos, em uma temporada única. 

A história começa com o caso raríssimo de superfecundação heteroparental de Liana (Juliana Paes) – a trama é ficção, mas há cerca de 20 registros reais em todo mundo. O fenômeno faz com que a mulher fique grávida de gêmeos de dois pais diferentes. Agora, ela luta para esconder segredos e manter a família unida. O elenco é protagonizado por Juliana Paes e Vladimir Brichta e traz ainda Felipe Abib, Palomma Duarte, João Vitti, Jussara Freire, Martha Nowill e Antonio Grassi. Assista ao trailer: 

"O que mais me impactou e estimulou a mergulhar no trabalho foi acompanhar uma espécie de desenvolvimento, de uma consciência que vem se fortalecendo cada vez mais no mundo, sobre as várias formas de abuso, de violência contra a mulher e de machismo estrutural presente na sociedade, que está por baixo dessa trama. A gente conta a história de uma mulher que quer muito ter filhos, apaixonada, e isso desemboca, digamos assim, numa espécie de trajetória da consciência sobre o seu papel e desejos. Sobre o que que ela é capaz ou não de fazer por amor e o que que exatamente seria um lugar bom pra ela. A Liana passa por algumas situações extremas e vai se dando conta disso aos poucos. Então, nós também refletimos sobre o que aconteceu com ela e, ao mesmo tempo, o que está acontecendo no Brasil e no mundo, na sociedade", avalia o diretor artístico Maurício Farias em entrevista exclusiva. 

"Outro ponto interessante é que a Liana é uma heroína moderna. Para começar, existe um protagonismo feminino muito forte na história. Em segundo lugar, ela sofre e é impactada por um destino que é imposto a ela – mas seus erros e acertos são acompanhados pelo público de uma maneira bem compreensível. A história que Angela Chaves criou envolve o espectador de uma forma que ele acompanha os sofrimentos, dificuldades e todos os processos da personagem para que consiga avançar na história dela. Isso é algo muito forte, e que tem a ver com uma dramaturgia que tem personagens fortes e cativantes, que geram identificação", completa. 

Chaves, por sua vez, criadora e roteirista, pontua: "'Pedaço de Mim' é sobre sonhos interrompidos, perdas e superação. A história gira em torno de Liana, uma mulher que tem um sonho muito grande de ser mãe e, de repente, é atravessada por acontecimentos trágicos, surpreendentes, que a fazem ter uma crise no casamento, refletir sobre a vida e ter que superar os problemas que chegam a partir de então. Acredito que essa história vai levantar muitas reflexões por ter temas muito contemporâneos – como o machismo, abuso moral e sexual, maternidade – e também acho que vai trazer emoção e identificação ao público, porque estamos falando de assuntos que tocam as mulheres e as pessoas em geral, em qualquer lugar do mundo". 

Cruzamento de gêneros 

Série de melodrama, novela, folhetim: "Pedaço de Mim" tem sido divulgada a partir de diferentes definições. Farias fala ainda em um "thriller da vida comum". Ele explica: "A história tem tons dramáticos, todos os acontecimentos que se dão com a personagem apontam para lugares muito imprevisíveis. Então acho que a história tem também um componente de suspense muito forte. Você fica o tempo todo capturado, querendo saber o que vai acontecer. Isso também é uma característica do folhetim moderno, é um cruzamento de gêneros. O drama com suspense, um pouco de thriller – não usado para o terror, mas sim para uma história que tem vários aspectos cotidianos de uma vida comum". 

Valores de produção

As três fases de "Pedaço de Mim" acompanham Liana. É uma história de 17 anos, que começa em 2006 – o que significa que existe uma mudança de consciência sobre diversos assuntos que se entrelaçam com a sociedade e esse olhar feminino ao longo dos anos. 

Na hora de rodar, as filmagens aconteceram de forma linear. Para o diretor, isso foi positivo primeiramente porque trouxe um controle para toda a equipe de decisão, todas as pessoas envolvidas, sobre as fases que a história passa, num trabalho que avançava conforme a trama também ia avançando, e em segundo lugar pelo acréscimo de diversos valores de produção. "Por exemplo, na caracterização trabalhamos com muita liberdade – porque a cada fase que se encerrava, avançávamos em um corte de cabelo, em uma maquiagem mais pesada. Se você intercala fases diferentes no seu dia de trabalho, demora muito e a produção fica parada esperando. 'Pedaço de Mim' tem algumas passagens de anos e conseguimos trabalhar a evolução dos personagens ao longo da história. Isso é ótimo, tanto para a direção quanto para os atores, que podem focar nos movimentos e desenvolvimentos de seus personagens nas fases em questão", detalha. 

E, falando na divisão da série em três fases, Farias contou que a equipe criou características específicas – como filtros e paletas de cores, por exemplo – para cada uma delas: "A primeira fase é mais solar: do meio para final dela vão surgindo elementos na história que a transformam, a colocam em um período que chamamos de 'invernal'. A segunda fase seria esse inverno, que não é exatamente frio nem solar – com Liana e Tomás vivendo na casa na serra. Na terceira fase, vamos para um período mais primaveril e a história vai se iluminando novamente", adianta.

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