Luisa Lima e Lucas Paraizo estreitam parceria e trabalham na terceira temporada de "Os Outros"

Luisa Lima e Lucas Paraizo (Foto: Divulgação Rio2C)

O roteirista Lucas Paraizo e a diretora Luisa Lima firmaram uma parceria sólida no audiovisual – um dos principais frutos desse trabalho em conjunto é a série "Os Outros", um dos conteúdos originais Globoplay mais vistos da plataforma, que estreou em primeira janela no streaming e depois também foi exibido na TV aberta, e ainda venceu o troféu APCA 2023 como melhor série do ano. Com trajetórias consolidadas na Globo, os dois se conheceram quando integram as equipes de direção e roteiro de outros projetos bem-sucedidos na casa – "O Rebu" e "Justiça" – e logo reconheceram essa afinidade. Com o sucesso da parceria, a segunda temporada de "Os Outros" já foi desenvolvida e estreia em agosto. A dupla já trabalha na terceira. 

No último fim de semana, os dois estiveram reunidos para um bate-papo no Rio2C 2024, que contou com a mediação de Bianca Ramoneda, escritora, jornalista, atriz e roteirista. A ideia da conversa era destrinchar como funciona essa parceria e analisar os principais desafios envolvidos na criação de obras no audiovisual – como encontrar o tom e a linguagem, por exemplo. "Procurei a Luisa inicialmente para que ela me ajudasse a humanizar os personagens e, juntos, encontrássemos o tom da série", contou Paraizo sobre o início do processo colaborativo entre eles para "Os Outros", cuja primeira temporada terminou de ser escrita em março de 2020. 

Tempo de trabalho no roteiro

O roteiro ficou pronto às vésperas da pandemia – o que acabou dando a eles mais tempo para trabalhar em cima do material. "Normalmente, o trabalho de roteiro envolve mais pressão, prazos. Dessa vez, tivemos o privilégio de poder trabalhar mais no nosso texto. O tempo é saudável para quem quer aprofundar um processo criativo. Juntos, lemos cena por cena, repensando os movimentos e todos os diálogos. O trabalho fez com que a gente encontrasse ainda mais camadas. Esse tempo foi responsável pela solidez que encontramos", analisou o roteirista. 

Lima completou: "Sou muito a favor do tempo de colaboração e amadurecimento. E no trabalho com TV e streaming, isso é difícil. Na pandemia, o tempo foi largo – mas ao mesmo tempo muito sensível. Era um momento de ressignificação da vida e dos nossos valores". E destacou: "Estamos falando de um projeto que também é político, que olha para a sociedade e o tempo em que a gente vive. Ele se posiciona diante desse tempo, com críticas e também afirmação daquilo que a gente acredita. Foi um período de muita pesquisa e leitura. E existem diversas outras pessoas envolvidas nesse processo, num envolvimento que potencializa muito nosso trabalho". 

Sobre essa questão do tom, a diretora revelou: "O Lucas sempre me dizia 'não sei bem qual é o tom'. E isso me perseguia – qual o tom da série? Entre as referências, tivemos o filme 'Parasita', que traz essa mistura de gêneros. Quem assisti ri, chora, se emociona. É possível cruzar os gêneros". Lima elogiou o texto de Paraizo, que ela disse ser sempre muito preciso. "Eu me preocupei muito em não estragar isso – ao mesmo tempo, me apropriar dessa narrativa para levar minha escrita para dentro dela", afirmou. 

Cuidar da parceria

Para a dupla, trabalhar junto envolve cuidar dessa parceria valiosa. "Para quem vai nesse caminho, é muito importante, logo no começo, falar dos seus valores. Sua relação com a estética, seu viés. É um processo de respeito e reconhecimento mútuo. Durante o trabalho, elogios são muito importantes, mas justamente nessa construção de um campo de ideias e fundamentos comuns sobre onde queremos chegar com essa narrativa, por que estamos contando essa história, qual a relação dela com o mundo que a gente vive. Não é sobre gostar ou não, achar bom ou ruim. Cada um vai entendendo se o texto do outro, da forma que ele está dizendo, o diálogo, se tudo isso funciona, se potencializa aquilo que acordamos. Temos que atender o propósito da nossa história. E se não estiver atendendo, é muito mais simples a gente conversar. É sobretudo sobre ouvir e sugerir, em vez de só chegar e falar que não gostou", apontou. 

Paraizo acrescentou "É um trabalho de confiança e entendimento para fazer isso com respeito". E Lima concluiu: "A gente tem amizade. Se isso é fundamental? Não é uma regra, mas pra mim é fundamental, sim. Gosto de trabalhar com relações de afeto. E precisa ter coragem de falar, discutir e escancarar. Não deixar nada por debaixo do pano". 

Trajetórias 

Luisa Lima imprimiu sua autoralidade na série "Onde está meu coração", exibida no Festival de Berlim e detentora de uma indicação ao Emmy Internacional de Melhor Atriz para Leticia Colin em 2022, e na recente "Histórias (Im)possíveis", liderando um encontro histórico de autoras e temáticas diversas nas efemérides brasileiras. Lucas Paraizo tem uma trajetória como roteirista de filmes nacionais premiados e mostrou seu traço autoral na condução das cinco temporadas da série "Sob Pressão", também indicada ao Emmy Internacional de Melhor Atriz para Marjorie Estiano e vencedora do APCA 2018.   

Próximos passos 

Atualmente, a dupla desenvolve a terceira temporada de "Os Outros", que aprofunda a parceria criativa, e deseja tocar de forma ainda mais aguda na crítica social, na busca pela ambiguidade dos indivíduos e na liberdade dos gêneros audiovisuais onde o terror e o absurdo ganham mais espaço para falar da sociedade brasileira. Nas duas temporadas da série, eles convidaram especialistas de diferentes áreas para colaborarem no projeto. A primeira temporada teve consultoria do psicanalista Christian Dunker e, a segunda, do filósofo Francisco Bosco. 

Por fim, Lima e Paraizo têm novos projetos em desenvolvimento, incluindo uma dramaturgia longa, e o desejo de aprofundar o diálogo com emoções e personagens complexos e transformadores, prometendo continuar a contribuir com narrativas envolventes para o público brasileiro.

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