“Nem todos os filmes são exportáveis”, declarou Florencia Gil, da Loco Filmes, ao descrever os processos de atuação de um “sales agent”, profissão ainda pouco comum no Brasil. Ela está à frente da agência de vendas responsável por filmes nacionais como “Mãe Só Há Uma” e “Bingo” e participou do primeiro dia do “Gramado Film Market”, segunda edição dos encontros de mercado que acontecem dentro do Festival de Gramado.
Na ocasião, a profissional, que é natural do sul do Brasil mas reside na França, explicou que a função do agente de vendas é determinante dentro do cenário do cinema independente. “Ele atua entre o produtor e o distribuidor, encontrando o máximo de possibilidades de distribuição daquela obra ao redor do mundo.”, define. Segundo Florencia, dentro dessa posição existem diferentes cargos: “Aquisition”, que é quem lê os roteiros e assiste aos filmes para fechar as parcerias; “Serving/Technical”, que cuida dos materiais como pôster e release; “Festival Manager”, que comanda as negociações com festivais; “Legal & Business Affairs”, responsável pelos contratos e finanças; e “Marketing”, onde estão concentrados os processos de criação de identidade visual e comercial do filme. “É importante ressaltar que o profissional de marketing da agência de vendas produz cartazes e trailers voltados apenas para o mercado, ou seja, materiais que nunca serão vistos pelo público. É um marketing B to B.”, pontuou.
Florencia está baseada na França, território que concentra a maior parte das agências de vendas do mundo – há, atualmente, cerca de 30 em atividade no país. “Há muitos fundos e aportes para o sales agent lá. Os Estados Unidos e a Alemanha estão crescendo nesse meio também.”, contou.
Fazendo uma reflexão em torno da questão de venda e distribuição de filmes, Florencia elenca três máximas: Nem todos os filmes são exportáveis; Nem todos os filmes podem ter agentes de vendas; Nem todos os filmes com agentes de vendas serão vendidos. “Isso significa que os grandes sucessos de bilheteria nacional não vão ser vendidos lá fora. Imagine oferecer ‘Se Eu Fosse Você’ para a China?”, brincou. “São produções muito locais em termos de narrativa, temática e elenco.”, concluiu.
Um dos cases de maior sucesso da Loco é “Mãe Só Há Uma”, da diretora Anna Muylaert, a mesma de “Que Horas Ela Volta?”. O filme foi vendido para mais de 30 territórios e participou de mais de 44 festivais e, entre eles, esteve no World Premiere do Berlinale 2016, na mostra Panorama. “Diferentes versões de títulos e cartazes foram feitos para distribuição em diferentes países.”, lembrou Florencia, argumentando que isso é bem comum no processo de trabalho do agente de vendas. Na França, por exemplo, o longa foi lançado com o título “D’Une Famille a L’autre”; na Espanha, como “Madre Sólo Hay Una”; e, nos Estados Unidos, o nome escolhido foi “Don’t Call Me Son”.