Desde o lançamento do Globoplay, muita coisa mudou na apresentação do serviço. A plataforma, que antes consistia em um catch-up da programação da Globo, hoje tem como foco os investimentos em produções originais e ainda no licenciamento de conteúdos – exclusivos e outros já exibidos na TV – para compor seu catálogo, e segue adotando o modelo de venda de assinaturas. Esses investimentos, não só em conteúdos mas também em tecnologia, acabaram pesando no resultado operacional negativo da controladora – TV Globo e operações de internet – referente a 2018, mas isso não preocupa. Ao contrário, o investimento é parte da estratégia de ocupar espaço. “O Grupo decidiu investir na plataforma no médio e longo prazo. (A Globo) é altamente rentável, tem uma dimensão gigante, não está em queda e escolheu focar no Globoplay. Não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Temos um caixa para investir que vai durar 10 anos, então corremos poucos riscos de mudar de estratégia. O investimento no Globoplay é prioritário e isso nos dá segurança e vantagem competitiva.”, afirmou o presidente da plataforma, João Mesquita, durante o Seminário Brasil Streaming 2019, evento promovido pelas publicações TELETIME e TELAVIVA nesta segunda, 22.
Entre as vantagens competitivas, Mesquita pontua o fato de a Globo ser uma marca já bastante consolidada, praticamente intrínseca à cultura brasileira; a qualidade das produções locais, que contam com o know-how da emissora e seus talentos; a força de comunicação da Globo, que tem um amplo alcance incomparável a qualquer publicidade das outras plataformas; o poder da compra para várias janelas, com constante chegada de conteúdos novos; a dimensão das plataformas digitais; e seu comportamento em market place, com produtos que se complementam – tais como novela, filmes, séries, jornalismo, esportes entre outros. Na parte de comunicação, aliás, a Globoplay espera poder compensar o atraso no lançamento da plataforma de streaming justamente utilizando os canais de mídia do grupo e seu enorme potencial de repercussão. Esta estratégia de comunicação já está em curso.
“O fato de termos todas as possibilidades de comunicação da TV Globo à nossa disposição, nos permite correr atrás do tempo perdido”, diz Mesquita. “Hoje, passamos nossos comerciais no prime time da Globo, que é uma das nossas grandes vantagens de publicidade, e podemos construir esse posicionamento moderno e dinâmico que queremos.”, completa.
“É importante ressaltar ainda que com o Globoplay podemos trabalhar ainda mais na qualidade e, assim, produzir conteúdos mais ousados e diversos, pois não temos a obrigação de agradar a esmagadora maioria, não funcionamos sob a lógica da ditadura da audiência da TV aberta. Agradamos minorias em conjunto.”, acrescenta. Apesar de não revelar números exatos de assinantes, o executivo conta que as plataformas digitais do Grupo Globo já possuem cerca de 80 milhões de usuários – provavelmente muitos deles no serviço.
Mesquita não descarta planos de expansão global, mas os restringe à ótica da procura do brasileiro imigrante, e não necessariamente da venda da plataforma por inteiro, concorrendo com outros players lá fora. “Acreditamos que sejamos vencedores no Brasil e é aqui que queremos competir”, declara.
Direitos
Em relação ao conteúdo, o presidente conta que trabalha hoje com um número que varia entre 10 e 15 produtores internacionais. “Há muito conteúdo disponível no mercado para players como nós”, afirma. Isso sem falar no próprio conteúdo da Globo, produzido diariamente, o que garante que o catálogo da plataforma seguirá em constante atualização. “A produção do Grupo hoje está organizada via estúdios Globo, é daí que saem nossos originais. Quando falamos em co-produção, estamos organizados em time com a Globosat. E temos ainda muito produto em análise, há espaço para trabalhar com produtoras independentes. Se o produto é bom e agrada, vamos investir”, garante.
Sobre um possível empacotamento de produtos esportivos da Globo – uma vez que os canais Globosat também têm seus serviços sob demanda, por exemplo – Mesquita diz que hoje já está disponível no mercado um pacote de compra de Globoplay com Premiere. “Nós já temos essa oferta para o consumidor. O fato do Grupo ser um dos maiores compradores dos direitos de esporte no Brasil o coloca na frente de qualquer outro player. Não vamos obrigar ninguém a levar tudo, há opções de escolha, mas obviamente valorizando o consumidor que comprar mais de um serviço nosso”, explica, descartando o termo “integração de plataformas” e falando em uma “experiência fluida”.
“Queremos oferecer uma experiência prática e simples aos assinantes que consumirem mais de um produto, de forma que ele possa navegar facilmente entre eles”. Mas o executivo ressalta ainda que não existe oferta de conteúdo pensada a partir de big data, personalizada de acordo com as preferências do usuário. “Temos levado pancadas na cabeça dentro desse tema. Temos muito para aprender. A capacidade de ler dados ainda é muito relativa. Confio muito em informações e quero sempre trabalhar com isso em vez de ‘achismo’, mas ter dados na mão não é a solução, senão todo mundo estava acertando.”, conclui.