A disputa entre sócios da Glaz Entretenimento SA – tornada pública nas redes sociais no último mês, e que virou destaque na última quarta, 30, ao ganhar espaço na coluna de Vera Magalhães no jornal Estado de São Paulo – não deve afetar a sucessão na diretoria da Ancine, conforme apurou este noticiário. A coluna do Estadão havia apontado que há uma denúncia na Ancine de irregularidade de investimento do Funcine Investimage na produtora envolvendo o indicado à diretoria da agência reguladora Christian de Castro. A data de publicação da nota coincidiu com a apresentação de Castro, por parte do Ministério da Cultura, como futuro dirigente da Ancine ao Conselho Superior de Cinema.
No governo federal o entendimento é no sentido de que a acusação contra Castro é facilmente refutável e ainda de que a agência reguladora tem uma governança madura e corpo técnico com soberania para julgar a denúncia sem intervenções por parte da diretoria colegiada.
A imagem da Glaz fica arranhada, uma vez que distribuidoras e, sobretudo, programadoras já analisam projetos da casa com receio do desenrolar do imbróglio. A produtora, no entanto, já reestruturou a área de TV, que era comandada por Paulo Boccato. Mayra Lucas, CEO e produtora executiva da área de cinema, assumiu a produção executiva dos projetos de ficção em TV, enquanto o relacionamento com os canais segue com Marina Bouças.
Disputa
Paulo Boccato é o autor da denúncia citada na matéria do Estadão. Há cerca de um mês, ele foi afastado de suas funções executivas na produtora pelos outros sete sócios. Boccato chegou a receber uma oferta de venda de sua participação de 19%. O produtor e fundador da Glaz não concorda com a fórmula de valoração de sua participação na SA prevista em contrato em caso da saída de algum dos sócios. Além disso, acredita que há irregularidades no uso do investimento realizado pela Investimage. O investimento, de R$ 3 milhões, é incentivado, portanto sujeito a regras específicas de uso de dinheiro público.
A denúncia na Ancine conta com mais de mil páginas e, entre os pontos elencados como irregularidades cometidas pela própria Glaz, bem como pela gestora do fundo de investimento, está a contratação de serviço de consultoria da empresa Zooks, de Christian de Castro, quando este já era conselheiro da Glaz Entretenimento SA – indicado em comum acordo pelos diretores da Glaz e pela Investimage – e com recursos incentivados.
A Glaz, em nota, afirma que não houve qualquer irregularidade na contratação de Christian de Castro como consultor, bem como na remuneração que sua empresa recebeu. Para o lado denunciado, a nota emitida quando Castro já era conselheiro da SA se referia a um serviço prestado antes do investimento do Funcine. Seu trabalho seria, justamente, o de preparar a empresa para receber investimentos e sua remuneração seria proporcional ao investimento recebido, portanto realizável apenas após a efetivação do negócio.
A nota da Glaz afirma ainda que Mayra Lucas e Christian de Castro, já haviam dado entrada, na 21a Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, com ações cíveis de reparação de danos morais por crime contra a honra praticado pelo ex-diretor executivo e sócio da empresa. Além disso, Gabriel Kessler (membro do conselho como representante da Investimage), ingressou na Justiça com ações cível e criminal contra Paulo Boccato.