O setor audiovisual foi um dos primeiros a parar com a chegada da pandemia do novo coronavírus. Para além do trabalho nos sets de filmagem, que foi suspenso a fim de evitar aglomerações e fez com que estreias fossem adiadas, as empresas de dublagem também precisaram fechar as portas temporariamente. Por aqui, canais da TV por assinatura cuja programação é composta especialmente de filmes e séries internacionais já sentem os impactos dessa paralisação.
É o caso da Universal TV. O canal manteve seu calendário de estreias inalterado, seguindo o planejamento prévio, mas algumas temporadas de seriados ficaram mais curtas em virtude da suspensão da produção. Sobre a questão da dublagem, Milton Xavier, gerente de programação da NBCUniversal, afirma em entrevista exclusiva para TELA VIVA: "Nossas parcerias com estúdios de dublagem são bastante sólidas e duradouras. Temos total respeito e compreensão à necessidade da suspensão dos trabalhos e administramos os eventuais impactos de forma a preservar a continuidade das temporadas no ar, mesmo sem a opção da dublagem em português. Seguiremos acompanhando os desdobramentos da quarentena de modo a reagir da melhor forma possível às mudanças, inclusive no processo de dublagem dos conteúdos. Temos uma considerável frente no nosso planejamento/calendário que nos permite oferecer respostas ágeis e de qualidade".
Tiago Worcman, vice-presidente sênior de música e entretenimento da ViacomCBS América Latina, também fala com exclusividade a este noticiário: "Felizmente, séries americanas que compramos para esse ano, como a segunda temporada de 'Yellowstone', já está dublada, pois este trabalho é realizado pelo distribuidor e não pela Paramount". Mas o executivo revela que já há maneiras de dar continuidade ao calendário de estreias de produções dubladas mesmo com a pandemia. "Até a semana passada os estúdios estavam fechados, e essa semana alguns começaram a funcionar novamente, mas em um novo modelo, no qual o dublador grava o áudio da sua casa e envia para o estúdio. Nós temos algumas séries previstas para o segundo semestre que provavelmente serão afetadas e terão que ser dubladas desta forma", explica.
Worcman lamenta ainda o fato de que um dos principais lançamentos do Paramount Network para este ano seria a quarta temporada da premiada série "The Handmaid's Tale – O Conto da Aia". "Infelizmente, quando as gravações começaram em março nos Estados Unidos, o país entrou em quarentena e elas foram adiadas. Por enquanto, não há previsão de retomada das gravações e estamos aguardando notícias", conta. "Em contrapartida, o canal está exibindo semanalmente episódios inéditos da série 'Submersos', primeira série de ficção brasileira; "r" (erre), produção original do canal, produzida no México, além de especiais temáticos com filmes para toda a família. Durante este período também temos novas séries que serão lançadas no canal e que as gravações não foram prejudicadas pela pandemia", completa.
O Sony Channel é outro canal que fez algumas adaptações de calendário – durante o mês de abril, foi necessário pausar a exibição dos episódios inéditos da 3ª temporada de "Station 19" e da 16ª temporada de "Grey's Anatomy", ambas transmitidas pelo Sony Channel no Brasil. "Nesse período, o canal preparou uma exibição especial com todos os episódios em que as duas séries se encontram. Os capítulos inéditos de ambas as séries retornarão em maio – dias 5 e 12, respectivamente – a princípio em exibições legendadas. Já no AXN, a única mudança programada para o período foi o hiato de episódios inéditos da série 'NCIS', que retornará no dia 19 de maio", revela Jefferson Pugsley, vice-presidente sênior de distribuição e canais da Sony Pictures Television, em entrevista exclusiva.
Mas apesar das mudanças, o canal tem conseguido seguir com o restante do cronograma. "Acabamos de lançar a segunda temporada de 'The Good Doctor', no último dia 20 de abril, um grande sucesso do Sony Channel. Para o público mais jovem, a estreia da 3ª temporada de 'Siren' segue programada para o início do segundo semestre. Além disso, seguimos focados na criação e geração de conteúdo local, com destaque para a produção da 5ª temporada de 'Shark Tank Brasil', que estava em pré-produção quando iniciamos a quarentena e esperamos retoma-la ainda este ano; e uma nova atração gastronômica já gravada, com previsão de estreia para o segundo semestre", cita Pugsley.
Sobre a atuação dos canais em meio à pandemia, o VP da Sony Pictures Television complementa: "Nosso objetivo é garantir a estreia de séries inéditas e de novas temporadas na programação dos nossos canais durante esse período, trazendo conteúdo fresco e relevante para os telespectadores. Do lado comercial, vale ressaltar que também estamos criando projetos que permitam que as marcas estejam presentes nesse momento. Nesse sentido, desenvolvemos um deck de soluções criativas para os anunciantes que não possuem filme atualmente, além de oferecermos a solução de Product Placement Virtual, que é a inserção da marca na pós-produção de uma série, nos principais títulos produzidos pela Sony Pictures Television, como 'The Good Doctor' e 'LA's Finest', entre outros".
Por fim, os executivos fazem suas avaliações sobre os impactos da pandemia para o setor audiovisual como um todo e, especificamente, para o mercado da Pay TV, ressaltando a importância dos conteúdos como séries e filmes num período como este. "Pensando de forma mais ampla, o cenário é de incertezas por toda a parte. Nossa principal motivação é seguir oferecendo aos assinantes uma opção de entretenimento de alto nível, a despeito das circunstâncias, dificílimas para todos. Os impactos são muitos e dos mais variados. Pensando em toda a cadeia produtiva, o audiovisual depende primordialmente de trabalho em equipe, então todos tiveram – e ainda estão tendo – que se reorganizar", pontua Milton Xavier, da NBCUniversal. Pugsley, da Sony, acrescenta: "É inegável que as medidas de distanciamento social tiveram impacto tremendo na vida e nos negócios de todos os brasileiros, incluindo o setor audiovisual; contudo, a TV por assinatura está sendo fundamental não só para manter os brasileiros bem informados sobre a pandemia, mas também por levar leveza e diversão para toda a família neste momento, o que tem elevado a audiência".
Worcman, da ViacomCBS, concorda: "A TV, que já era central nos domicílios, tem ganhado ainda mais protagonismo, e tudo indica que isso se mantenha no pós-pandemia". E o executivo ainda chama a atenção para outro ponto: "Com a impossibilidade de gravar programas da maneira como sempre fizemos, estamos descobrindo novos formatos – é só ver o grande número de lives e de programas sendo exibidos diretamente da casa dos artistas, jornalistas e apresentadores. Certamente esses novos modelos serão incorporados no nosso dia-a-dia, talvez não exatamente como são agora, mas um formato híbrido entre o tradicional e o novo. A verdade é que com a pandemia estamos descobrindo muitas formas de fazer conteúdo".
