Produção de conteúdo esportivo deve investir em bastidores e curiosidades para além dos jogos

Victor Machado, Roberta Pires, Bianca Dramali e Tiago Ornaghi (Foto: Martins/ Divulgação Rio2C)

O Rio2C 2024 teve início nesta terça-feira, dia 4 de junho, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Por conta do ano olímpico, o tema esportes esteve presente em diversos painéis logo no primeiro dia de programação. Pela manhã, especialistas se reuniram na mesa "O que vem por aí: tendências de consumo do conteúdo esportivo" e compartilharam suas perspectivas sobre as demandas e comportamento do consumo de conteúdos premium de esporte e outros criados pelos próprios usuários – aqui, uma tendência relativamente recente, e que deve aparecer com mais força nas Olimpíadas deste ano. 

É inegável a capacidade que o conteúdo esportivo tem de mover as pessoas e gerar conversas e engajamento. Nesse sentido, Bianca Dramali, pesquisadora e consumer insights, destacou o fato que as novas gerações, especialmente a geração Z, se interessam mais por conteúdos gerados enquanto a partida ou o jogo em si não está acontecendo, independente da modalidade, isto é, bastidores, recortes e curiosidades, entre outros tipos de conteúdos que não sejam a prática esportiva em si. "As curiosidades sobre as modalidades engajam muito. Tudo o que acontece enquanto não está acontecendo a prática esportiva. Atletas influenciadores e jeitos divertidos de aprender francês são outros temas em torno das Olimpíadas que têm engajado bastante", disse. 

Roberta Pires, gerente de parcerias de conteúdo do TikTok, revelou que a plataforma está entusiasmada com a chegada da competição, que será a primeira com presença "full" do TikTok, uma vez que a última edição não recebeu público por conta da pandemia e, consequentemente, não houve conteúdo gerado pelos próprios usuários, que é o core da plataforma. "Os Jogos Olímpicos têm uma capacidade enorme de gerar grandes histórias, e não só sobre os atletas. E isso casa muito bem com a visibilidade que podemos dar para essas histórias e tudo aquilo que acontecer nos jogos. Temos trabalhado desde o início do ano com as Confederações Olímpicas, além do Comitê Paralímpico, para trazê-los para a plataforma. Para eles, é importante que seja mais uma oportunidade de negócio, de expandir seus conteúdos e monetiza-los", apontou. 

Força do digital 

A executiva trouxe alguns cases de destaque, como o da CBG, que é a Confederação Brasileira de Ginástica – a segunda maior confederação dentro do ambiente digital, atrás apenas do vôlei. Um dos vídeos que eles postaram no TikTok viralizou e soma mais de 30 milhões de visualizações. O conteúdo em questão traz atletas de ginástica rítmica contando sobre os collants que usam. "As pessoas nem sabem que se interessam por isso, mas encontram o vídeo e assistem até o final. É bonito, um conteúdo de qualidade". E para além das confederações, o TikTok também tem falado com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), ainda nesse objetivo de gerar conteúdo. Existe uma restrição pelo comitê internacional para criação de conteúdo dentro das arenas olímpicas, mas a ideia é pensar em maneiras de produzir coisas para o perfil oficial do COB na plataforma para que ele também participe da conversa. 

O TikTok está levando criadores de conteúdo do Brasil para a França para produzir para seus perfis pessoais e também para a página do Time Brasil. "O COI, o comitê internacional, vê nosso mercado como um dos principais, por isso também vai criar conteúdo em português, feito no Brasil. Eles sabem o quanto o público brasileiro engaja no conteúdo quando é feito para ele. E também estaremos de olho em tudo o que for feito pelos usuários, para dar destaque e visibilidade", contou Pires. 

"Os Jogos Olímpicos são um evento de TV, mas todo o entorno é do digital. Inclusive os melhores momentos. Acreditamos muito nisso, e os nossos parceiros poderão aproveitar. Tudo o que acontece ao redor dos jogos é importante. As pessoas estão curiosas para ver o que está acontecendo. Aproveitar as tendências de consumo será importante para quem quiser se destacar nesse período", ressaltou. 

No segmento esportivo, o TikTok ainda tem se afirmado como uma ferramenta de busca. Segundo Pires, 64% da nova geração pesquisa no TikTok coisas que querem saber. Quando o assunto é conteúdo esportivo, isso acontece em tempo real – durante um jogo, por exemplo, os usuários entram na plataforma e pesquisam sobre determinado gol, passe ou informações da partida. "É um insight legal de tendência de consumo". 

Entrega de televisão 

Mas é claro que, independente da força do digital, a TV segue muito relevante num evento deste tamanho. Tiago Ornaghi, gerente de conteúdo de documentários do Globoplay, destacou que, para a Globo, a grande mudança para este ano é o fato de que, agora, os canais pagos estão acoplados dentro do Globoplay, com acesso incluso para aqueles assinantes que optaram pelo pacote Globoplay + Canais: "Foi uma mudança estrutural. Hoje, temos outra experiência com o produto. Mas a Globo tem uma experiência longuíssima com Olimpíadas. Já estamos na preparação para esta edição faz tempo. Será um marco poderoso principalmente por isso, por essa experiência com a entrega de televisão. São novos componentes de streaming e produção de conteúdo. A entrega está mais diversificada. Espero que a gente consiga criar oportunidades e conteúdos de ocasião, isto é, aquelas ideias que surgem durante a cobertura do evento. Ficamos no radar para ver se alguma coisa 'pula', se algum personagem se destaca, algo que valha um olhar diferente, uma dedicação maior". 

Tendência da nostalgia também presente no esporte 

A demanda do público por conteúdos nostálgicos é uma realidade. No esporte, não é diferente. "Podemos olhar para o passado, ver como as histórias aconteceram e comparar com o presente. No TikTok, vemos que conteúdos nostálgicos fazem muito sucesso. Digo sempre para os nossos parceiros que têm esse conteúdo mais antigo e possiblidade de postá-lo na plataforma que façam isso. A nostalgia é um dos assuntos que mais movem as pessoas hoje em dia", enfatizou Pires. "O perfil da Copa América, por exemplo, estava com dificuldades de criar conteúdo para uma competição que ainda não começou. Por isso sugerimos que usassem o acervo – gols, melhores momentos, grandes nomes que jogaram… Quando pensamos nessa tendência de consumo e temos acervo, é uma oportunidade. Você faz um 'esquenta' com o passado, olhando para o futuro", completou. 

"Na Globo, temos uma vantagem monumental, que é o acervo. O acervo da Globo tem coisas incríveis, são 60 anos de história preservada. O segmento de documentários nos permite cavar e encontrar coisas muito interessantes. Há alguns anos não sabíamos como ter esses arquivos e usá-los é poderoso. A resposta da audiência é muito forte, por isso acabou virando um grande asset das nossas produções", comentou Ornaghi. 

Para Dramali, para além desse interesse pela nostalgia, existe ainda uma outra tendência, a "nova nostalgia". Ela explicou: "Todas as gerações sempre tiveram saudades do que viveram, mas agora é diferente. O mundo e o futuro estão cada vez mais incertos, por isso as pessoas preferem voltar para aquele passado que já foi 'garantido e testado'. É uma tendência que atravessa vários mercados". E sinalizou: "No audiovisual, o formato documental vem a calhar nesse sentido. É uma forma de, a partir do acervo, contar novas histórias. Essa convivência do legado com o novo é uma oportunidade para que sejam criados novos formatos e linguagens a partir dessa combinação". 

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