Produção virtual avança no Brasil, mas é preciso investir em formação e integração entre equipes

Marcelo Pedrazzi, Alexandre Fructuoso, Ale Seara e Diogo Costa (Foto: Mendonça/ Divulgação)

"Superando os novos limites: a produção virtual" foi tema de um painel realizado nesta terça-feira, dia 4 de junho, durante a programação do Rio2C, que segue acontecendo na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, até o próximo domingo, 9. Produtores apresentaram um breve histórico da produção virtual, passando pelas principais evoluções tecnológicas nesse sentido. "Cinema é construção. Novas tecnologias surgem e se adaptam ao que o filme precisa. E evolução passa por um processo de agrupamento de tecnologias a favor do cinema", definiu Ale Seara, gerente de pós-produção de A Fábrica. 

Os especialistas elencaram as principais ferramentas utilizadas na produção virtual contemporânea – que passam essencialmente por garantir que o grosso do trabalho seja feito na pré-produção, visando uma pós-produção menor. "Existe uma ideia errada de que a produção virtual tem um custo alto. Mas tendo conceito, pré-visualização, trazendo a pós para a pré, entendendo as possibilidades, já sabemos o que precisaremos construir fisicamente, e assim o processo de pós acaba sendo bem mais curto. Na pré, já vamos montando a realidade de cada projeto para aquilo que precisamos. Já conseguimos visualizar o que faremos em cada plano. A ideia é sentar com a direção e pensar. Não que não possamos criar na hora e inventar soluções, mas sempre a partir dessa base, de um caminho já definido. Essa dinâmica de montar, testar e entender o que realmente será necessário é muito importante quando se trabalha com produção virtual", afirmou Alexandre Fructuoso, diretor de fotografia da Globo focado em soluções tecnológicas e produção virtual. 

Marcelo Pedrazzi, produtor, montador e finalizador e moderador da mesa, ressaltou que o ambiente ainda é novo, e que portanto não está sempre dentro das perspectivas de orçamento do produtor. Diogo Costa, diretor de tecnologia na Quanta, reforçou que a parte do orçamento é uma das maiores dificuldades: "Por isso é importante pensarmos nisso desde a pré. No fim, quando pegamos os números e comparamos os valores, normalmente sai mais barato". Seara completou: "É otimização de recurso e tempo, num grande ganho de produtividade". 

Entre as ferramentas virtuais que podem ser utilizadas nessa pré-produção a fim de otimizar o processo como um todo estão a visita de locação virtual, que reúne diversos departamentos, como direção de arte e de fotografia; pré-visualização de cenas por meio de câmeras virtuais; e visualização técnica. "Esse estudo que conseguimos fazer com a pré-visualização é extremamente importante para não termos problema ao chegar no set. Chegamos com a dinâmica técnica já pronta e, aí, podemos nos preocupar só com a emoção para contar a história, que é o que importa. A tecnologia não está ali para ser vista – é um pano de fundo, um facilitador para a produção. Tem projetos que só se tornam viáveis por meio de tecnologia, ou ainda por conta da produtividade que vem com essa tecnologia", observou Fructuoso. "É fundamental que todos os departamentos dentro da produção conversem de forma aprofundada. O que faz a produção virtual funcionar é a integração entre o real com o que está no painel de led, por exemplo. E a conexão entre esses dois mundos não pode ser visível", completou. 

Cases 

Os produtores citaram cases recentes de produção virtual, como a campanha de divulgação da Globo dos Jogos Olímpicos de 2024 que, graças à produção virtual, foi possível gravar com vários atletas diferentes num mesmo dia. Foram oito cenários virtuais, cada um tendo relação com o esporte que aquele atleta em questão pratica. "Gravar em vários cenários com o pouco tempo que tínhamos com os atletas seria impossível. Essa ferramenta foi primordial para tornar viável o projeto", enfatizou Fructuoso. 

Outro case, este apresentado por Costa, foi a campanha de Bhrama para o filme "O Auto da Compadecida 2", que reuniu os protagonistas no cenário de uma festa noturna, entre outros ambientes, como a beira de uma estrada, saindo de uma perspectiva para outra em velocidade. "Nesse caso, a pré-visualização nos deu um lugar de controle e entendimento de como seria o filme mesmo. Na pré, trabalhamos o jogo de lente, câmeras e brincamos com a criatividade da direção", contou. 

Contexto atual e principais desafios 

Para os especialistas, o Brasil está avançado em termos de evolução de ferramentas e utilização das mesmas na produção virtual, e não muito distante do mercado de fora. "O mercado brasileiro está crescendo e temos cada vez mais estúdios virtuais. Quanto mais pessoas fazendo, mais ideias e possibilidades vão surgindo. E quanto mais troca temos, mais a gente aprende", apontou Fructuoso. 

Segundo Costa, a condição básica para esses processos funcionarem é a troca entre todas as partes: "Temos feito produção virtual de 2017 para cá e sinto que, hoje, estamos num ponto mais viável. Na experiência de set, podemos ver como cada departamento pensa dentro dessa lógica. Uma das coisas mais desafiadores não é a tecnologia em si, e sim como conseguimos trazer pessoas, criar trocas e investir em formação, para fazer disso de fato um mercado e não somente um nicho. A chave é virar o pensamento de fazer cinema diferente. Um novo modo de pensar dentro do mercado". 

Para Seara, o avanço da tecnologia é muito positivo, mas é importante pensar também na integração entre as equipes: "A pós precisa estar presente desde a pré. São coisas que adiantam o processo, poupam as idas e vindas da produção. Cortar diárias é muito importante, especialmente com elencos mais 'pesados'. Com essa integração e as ferramentas virtuais, geramos mais cenas por dia, o que aumenta nossa produtividade. Não é uma briga, mas é uma conversa que temos que ter com a produção. Entender dentro do orçamento o que dá pra fazer para otimizar e cortar custos". 

Fructuoso finalizou: "A tecnologia evolui a cada dia e se aprimora, e já temos condições de fazê-la funcionar aqui no Brasil, com produções brasileiras de qualidade. O desafio agora é fazer com que a produção entenda que os processos mudaram. Tem que entender essa dinâmica orçamentária dos projetos. É possível aumentar produtividade e reduzir o tempo de captação e as diárias. O caminho passa por migrar os valores para uma pré-produção robusta, e que vai fazer o processo andar. No mais, é importante trabalhar com criatividade e entusiasmo, com a empolgação de criar e contar histórias". 

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