Filmes do projeto Curta em Casa, do Instituto Criar, serão exibidos em formato de série pelo Globoplay

Um dos painéis do Whext 2020, realizado nesta sexta-feira, 4 de dezembro, teve como tema "Diversidade: Um olhar periférico sobre a pandemia" e abordou iniciativas voltadas ao audiovisual das periferias durante o período. Participaram da mesa Luciana Bobadilha, do Instituto Criar; Evelyn Kauane dos Santos, diretora audiovisual formada pelo Instituto; Made Pichi, da Hubbers; e Bárbara Trugillo, da Spcine. Entre os destaques da conversa, esteve o Curta em Casa, projeto de fomento para a realização de filmes por profissionais do audiovisual das periferias de São Paulo criado pelo Instituto Criar e patrocinado pela Spcine que vai ter, como desdobramento, uma série para o Globoplay chamada "40m² – Pandemia".

O Criar é uma ONG que tem como missão formar e inserir jovens em situação de vulnerabilidade no mercado audiovisual. Em março, com a chegada da pandemia, o Instituto se viu obrigado a interromper as aulas presenciais – inicialmente, por um período que eles imaginaram que seria curto. "O tempo foi se prolongando e demorou pra gente perceber que a grande potência da continuação do nosso trabalho estava no debate, na criação e na autoria. Em uma conversa com a Spcine, que já estava prevendo um edital voltado aos curtas-metragens, falamos sobre a nossa vontade de registrar a temática da pandemia pelo olhar periférico, que não era aquele que a TV estava mostrando. Então nasceu o Curta em Casa, um fundo de fomento a esse audiovisual das periferias que tinha, como desafio, a produção de curtas de três a seis minutos de duração sem sair de casa", contou Luciana Bobadilha, porta-voz do Instituto.

Em uma semana, o edital recebeu 980 inscrições. "Foi uma grande surpresa positiva. Os roteiros eram muito bons e tinha de tudo – terror, comédia, videoclipe, documentário… Coisas realmente impressionantes. Foi bem difícil selecionar apenas 200 projetos, que era nossa proposta. Para essa seleção, nos baseamos em uma política afirmativa, isto é, dando espaço para negros, mães-solo, transgêneros e não-binários, e também levamos em conta, claro, a qualidade técnica", explicou Bobadilha. O resultado foi tão bom que o projeto terá, como desdobramento, uma série de quatro episódios de 25 minutos cada, chamada "40m² – Pandemia", que será exibida pelo Globoplay. "É uma oportunidade incrível de distribuição e visibilidade. Uma pequena evolução nesse mercado elitista no qual estamos inseridos", definiu. Para quem quiser conferir os curtas produzidos, eles estão disponíveis no canal do YouTube do Instituto Criar.

Evelyn Kauane dos Santos, diretora do curta "Dádiva"

Além dos projetos selecionados, uma votação popular elegeu um grande vencedor: foi o curta "Dádiva", de Evelyn Kauane dos Santos, ex-aluna do Instituto Criar. A jovem atuava como técnica de som freelancer em produções audiovisuais e teve com o curta sua primeira experiência como diretora: "Participar do Curta em Casa foi importante para minha vida pessoal e profissional, mas teve também uma importância coletiva. Nós da periferia estamos à margem de muitos editais e projetos, então enxergar ali um espaço de poder criar foi muito especial. Sempre trabalhei com som, não me enxergava como diretora. Ganhar a votação popular e receber uma série de feedbacks sobre a minha estética e linguagem fez com que eu começasse a me enxergar como artista criativa, para além da área técnica". O Curta em Casa, que também contou com o apoio do Projeto Paradiso e do Kinoforum, premiou Evelyn com R$10 mil para serem usados em sua formação profissional – o valor vai ajudá-la a bancar uma viagem a Cuba, onde ela foi selecionada para um curso de cinema – e a tornou parte da Incubadora Paradiso, que envolve um processo de mentorias e formação de novos talentos. "Ter feito esse filme me tirou um pouco da preocupação da pandemia, me fez olhar com mais esperança e mais afeto para o momento. Foi um abraço em mim e espero que seja também em quem ainda vai assistir", comentou.

Made Pichi, diretora e criadora de conteúdo, também esteve à frente de projetos audiovisuais durante a pandemia. O primeiro deles, o Corona na Quebrada, do qual ela é co-fundadora, nasceu no começo da pandemia, assim que as restrições foram impostas e o trabalho nos sets de filmagem foram interrompidos. "Queria continuar produzindo coisas online, em casa, do jeito que desse. Então, convidei amigos e pessoas que já trabalhavam comigo para criar um conteúdo com uma linguagem mais específica, a fim de falar com comunidades mais vulneráveis e a periferia. Eu achava que a comunicação em massa não passaria a mensagem tão direta para essas pessoas e isso era muito importante", afirmou. Na época, Pichi encontrou um perfil no Instagram já com esse nome – Corona na Quebrada – e as equipes uniram forças: "A conexão rapidamente aconteceu e o projeto cresceu muito. Viramos uma grande comunidade audiovisual solidária, com todos se disponibilizando a ajudar como podiam. São mais de 100 pessos colaborando nas nossas áreas – Instagram, Audiovisual, Projetos Sociais e nosso braço de educação, o Meu Primeiro Filme, que é muito inspirado no Criar e conta com a parceria de outra plataforma, a Perifa Lions, que é focada em colocar jovens dentro das agências".

Bárbara, Made e Luciana participam de painel do Whext

No Meu Primeiro Filme, o Corona na Quebrada e o Perifa Lions se juntaram para inserir jovens talentos periféricos no cenário audiovisual por meio de uma ação educativa de inclusão social sem fins lucrativos. Há cerca de quatro meses, duas equipes de jovens e mentores voluntários trabalham para mostrar a potência e a diversidade desses novos talentos. Sob a temática da pandemia, estão sendo preparados dois filmes: um curta de ficção e um mini-doc. Atualmente, o projeto conta com uma "vaquinha" online aberta, para arrecadar fundos para transporte, alimentação, locação de equipamento, casting, figurino e maquiagem, e busca ainda um patrocinador. "Nosso principal foco é gerar acessos e oportunidades – essa é a primeira coisa que a gente deseja, fazer com que esses jovens estejam nos projetos com os quais trabalhamos e cheguem aos lugares que nós conseguimos chegar. Nosso projeto já está conseguindo isso, mesmo antes de acabar. Ainda precisamos de patrocínio, mas nosso objetivo já está sendo cumprido", celebrou Pichi.

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